Carta 10

Parece-me que estamos todos condenados

à eterna solidão ontológica...

Carta Filosófica Nº 10

NOVAMENTE estou só, ante todas as possibilidades de não estar. Parece-me que todos os meus passos acabam por me conduzir ao desencontro inevitável e acabo sempre no inferno da solidão, junto aos meus escritos sem destinatário.

Abate sobre mim o vazio desolador da incapacidade de não me tornar sempre só, diante do outro que me aparece, sem, no entanto, nunca estar ao meu lado.

É como se vivesse soterrado aos meus afetos e desafeto, é como se a negação do amor fosse a afirmação do meu ser. E sinto esta negação como minha sólida sombra, inseparável companheira que está sempre junto à luz que procuro para iluminar a escuridão do desamor que me atormenta.

É como se o indesejo me desejasse veementemente até conseguir ter-me só para si. A não querência do outro me faz menos eu que sou, e descubro, a cada tentativa de ser quem sou, que não há quem queira ser tanto quanto eu – a prioridade do homem parece não ser mais o homem – estão todos condenados à solidão.

Perdidos na multidão, os homens já não se reconhecem mais uns nos outros, caminham sem rumo como um exército de transeuntes apressados pelo movimento involuntário da massa. – como o vento leva uma folha ao tempo, também vou a direção incerta, procurando me livrar desta tempestuosa solitude.

E sempre me mostram que estou em círculos, caminhando em vão, tentando me encontrar naquela que é, ao fim, minha miragem.

E o amor não passa de uma invenção inocente de quem não quer admitir que estamos sós entre nós, condenados à eterna solidão ontológica.

Fevereiro, de 2000

Westerley