Continuamos pensantes e produzindo ideias

Se só há uma esquerda, quem irá salvar o futuro?

Ou: Você pode ser socialista e não sabe – parte 1

O blog do Victor Castro publicou artigo afirmando que as matizes esquerdistas ou ainda, as diversas propostas atuais de correção de rota de um sistema que comprovadamente deu errado ao não cumprir com sua premissa de gerar riquezas e bem estar social para todos, são uma só coisa, um só pensamento ao dizer que só há uma esquerda. Victor Castro baseado nas afirmações de autores famosos como Gramsci, Lenin, Trotsky, Mao Tse Tung e muitos outros, de certa forma, afirma que o pensamento e a capacidade de refletir e intervir nos destinos da humanidade provocando mudanças não existe mais, pois estamos irremediavelmente reféns daquilo que grandes nomes escreveram no passado.

A afirmativa contida no texto do Victor Castro insinua algo muito triste. É como se a capacidade de escrever novas ideias tivesse ficado à disposição do ser humano pensante durante um certo período de tempo e de repente ausentara-se para sempre, abandonando o homo-sapiens, relegando-o ao triste destino de optar por dois caminhos apenas: primeiro, aplicando as ideias já registradas em papel por nomes famosos ou em segunda alternativa, repousar-se em inércia total por falta absoluta da capacidade de pensar e gestar novas ideias, não podendo portanto, dissemina-las, testa-las, aplica-las… porque inexistentes.

É certo que não podemos virar as costas ao legado de gerações passadas, mas não devemos nos esquecer que somos uma geração e que temos o dever de deixar o legado do nosso tempo para ser transmitido às gerações futuras, senão corremos o risco de sermos citados pelos historiadores do futuro como a geração que abdicou do direito de pensar e produzir novas ideias, novos paradigmas, novos caminhos.

É inaceitável a redução do homo-sapiens à pequenez e mesquinhez do homo-economicus não pensante, agrilhoado dentro da caverna moderna sem conseguir enxergar a realidade que o cerca e o destino reservado a todos seus descendentes e ao planeta que lhe serve de morada e servirá àqueles.

A esquerda não é uma só, não é baseada em pensamento único, muito pelo contrário, a esquerda é um conglomerado de pessoas que deseja resgatar o ser em toda sua essência primordial, dizendo um não sonoro e definitivo à inversão de valores e à mentira descarada, atrevida e petulante de que conjugar verbo ter diuturnamente substituirá para sempre a plenitude existente no ato de conjugar e viver conscientemente a verdadeira essência do verbo ser.

As esquerdas pois, são várias, diversos conglomerados de seres pensantes lutando para corrigir a rota suicida do homus-economicus. Os esquerdistas acreditam na possibilidade do resgate da consciência destes escravos do dinheiro objetivando com este ato fazê-los crer que o homo-sapiens precisa fazer jus a este codinome com o qual a ciência lhe batizou.

A capacidade e o desejo ardente de entender e influenciar o ambiente à nossa volta, analisando e manipulando os fenômenos, produzindo alimentos para todos e transformando as matérias primas em prol do bem estar geral, utilizando para isso as ferramentas cognitivas fornecidas pela filosofia, ciências, artes e crenças continua viva e em crescimento constante dentro de cada um.

Muitos daqueles que afirmam pertencer à ideologia de direita (uma ou várias?) quando confrontados com os desejos esquerdistas legítimos de melhor distribuição da renda, educação pública de qualidade, sistema de saúde eficiente, políticas públicas de desenvolvimento sustentável, habitação digna para todos, valorização do homem e do trabalho em detrimento do lucro fácil da ciranda financeira, tributação maior para quem ganha mais, média para quem ganha medianamente e nenhuma tributação para quem ganha muito pouco ou nada, taxação pesada sobre lucros exorbitantes e grandes fortunas e heranças; respondem simplesmente que “se ser socialista é desejar tudo isso, eu também sou”. Como classificar esta afirmativa? Mentira, falácia ou paradoxo?

Esquerdistas, centristas e direitistas são, antes de tudo, seres pensantes com a janela da oportunidade escancarada à sua frente necessitando idéias e posicionamentos concretos e eficazes que permitam dar resposta positiva aos reclames de todos os grupos populares espalhados pelas ruas de diversas cidades do mundo, movimentos que estão expondo com lucidez todas as mazelas do capitalismo selvagem e manifestando-se contra o status quo lamentável a que estão sendo conduzidas todas as nações pela absoluta inversão de valores.