Por que comportamento ético é tão raro?

Início de uma investigação – Parte 1

Gustavo Adolpho* publicou artigo muito interessante em seu blog [no Observador Político - rede social fora do ar], abordando a questão da ética de uma maneira diferente. Ele intitulou seu artigo assim: “A ética onde não existe ética” numa alusão clara e direta ao comportamento e à indiferença de uma grande parcela das pessoas, concluindo que, em nosso meio, a ética e a moral dominantes constituem uma maneira de os meios justificarem os fins.

Há indivíduos ou grupos destes, que realmente assumem comportamentos que garantam sua entrada numa zona de conforto qualquer e entendem que, se é direito do ser humano o bem estar, então não importam os meios utilizados para alcançá-lo e, posteriormente, para estabelecer maior permanência possível dentro da citada zona de conforto.

Na contemporaneidade está acontecendo com relativa naturalidade e frequência a inversão cada vez maior dos valores humanos que apontam para o bem. Esta inversão de valores significa a negação das virtudes humanas. Consequentemente estabelecem-se diversos tipos de comportamentos antagônicos, incongruentes e inaceitáveis que, apesar disso, são explicados por meio de diversas explanações e justificativas falaciosas e eivadas de falsa racionalidade.

O ser humano quer ser livre e é necessário verificar se o exercício desta liberdade permite que pessoas possam, sem nenhuma punição, proceder a esta inversão de valores, inversão que cria uma série de vantagens para si mas que resultam completamente desvantajosas para seus semelhantes.

Consideremos o exercício da liberdade para escolher pagar ou não o imposto sobre a renda. Não existe tal liberdade, pois a característica essencial do imposto de renda é a compulsoriedade de seu pagamento, inclusive adiantadamente por meio de desconto. Trata-se então de categoria essencialmente oposta à voluntariedade e, como tal, indicadora de ausência de liberdade.

Se a receita federal tolhe a liberdade de escolha, (parece que) natural é que o ser humano com conduta e pensamento egoístas sinta-se no direito de estabelecer, sozinho ou em grupo, novos tipos de moral e de ética que justifiquem as ações que são classificadas como imorais ou antiéticas num ambiente em que prevaleça o sentimento coletivo, no qual o bem-estar comum seja o objetivo perseguido por todos. A ética não pode ser reinventada, ela já existe.

O bem comum em filosofia é uma abstração que significa o melhor para todos, um objetivo geral que deveria nortear a ação de toda a nação na busca do progresso. Essa ideia de bem comum desconsidera a fragmentação do todo em classes sociais; é como se todos em uma sociedade tivessem os mesmos interesses coletivos, depreendendo-se daí que os interesses individuais, – dentro da minha proposta de construção de um novo sistema – deveria aparecer em segundo ou terceiro lugar e ser contida em seus excessos para que não corrermos o risco de voltarmos à selvageria do sistema atual.

Ives Gandra da silva conclui que:

“O bem comum está, portanto, para permitir aos indivíduos a consecução de seus bens particulares, mas é superior a estes: o bem particular de um indivíduo não pode ser buscado em detrimento do bem comum da sociedade”.

Johannes Messner ressalta que:

“A teoria social do individualismo partiu do indivíduo como ser acabado em si mesmo e em si mesmo exclusivamente baseado quanto ao seu valor; mas nunca chegou realmente a um conceito de comunidade enquanto realidade portadora de uma essência, valor e fim superiores ao indivíduo”.

O que a filosofia política sistematicamente apresenta como fim, ou objetivo da sociedade, pode ser enunciado assim: “O fim da sociedade política é o bem comum, e este de forma mais determinada, como sendo a defesa e a prosperidade”.

Ao se perscrutar profundamente sobre o que seja o Bem Comum, cinco noções básicas devem ser aprofundadas, como instrumental indispensável para sua compreensão: Finalidade, Bondade, Participação, Comunidade e Ordem. Da conjugação desses conceitos fundamentais é que se extrairá a noção de Bem Comum.

Deixo ao leitor a investigação das cinco noções básicas e termino meu longo comentário onde, apenas iniciei a investigação das causas sobre porque está existindo ética onde não existe ética.

Finalizo (por enquanto) com três vozes importantes que apontam caminhos importantes para continuidade da investigação:

Tomás de Aquino disse que:

“Bem é aquilo que a todos apetece. Apetece porque possui uma perfeição, capaz de atrair. Assim, o bem é o fim buscado pelo agente, porque o atrai. Se o agente é o grupo representado por toda a nação, então o bem procurado quando passar a existir deverá ser distribuido por todos de forma mais equitativa possível”.

Jean Jacques Rousseau afirmou:

“Vós, cidadãos, inteiramente absorvidos em vossas ocupações particulares e sempre indiferentes diante do resto, só cuidais do interesse público quando o vosso é atacado. Muito pouco cuidadosos em esclarecer a conduta de seus chefes, não vêem os ferros que se lhes prepara a não ser quando sentem o peso deles. Sempre distraídos, sempre enganados, sempre atentos a outros objetos, deixam-se enganar acerca do mais importante de todos, e vão sempre procurando o remédio, por falta de ter sabido prevenir o mal. De tanto calcular os seus passos, não os dão nunca senão demasiado tarde. Seus vagares os teriam já perdido cem vezes se a impaciência do magistrado não os tivesse salvo e se, apressado em exercer esse poder supremo ao qual ele aspira, ele próprio não os tivesse advertido do perigo.”

Segundo Ives Gandra da silva:

“Cabe ao governante ou administrador público, numa sociedade politicamente organizada, promover o bem comum, externando, através de suas ações e comandos, o interesse público. Este também poderá não se adequar ao bem comum da sociedade, quando houver descompasso entre o Direito Positivo e o Direito Natural, ou seja, a lei positiva, emanada da autoridade, vai de encontro aos direitos humanos fundamentais, inalienáveis e que não cabe ao Estado outorgar, mas apenas reconhecer, como pré-existentes, como inerentes à dignidade da pessoa humana”.

22/11/2011 - José Antônio da Conceição

* Gustavo Adolpho também escreve em seu blog pessoal