Influência Grega

HISTÓRIA DO MUNDO - Curiosidades

TEXTO 1 - A Grécia antiga - Rainer Sousa

TEXTO 2 - E se os gregos não tivessem existido?

TEXTO 3 - Filosofia e Democracia - Rainer Sousa

A Grécia antiga

Por Rainer Sousa

A Grécia Antiga nasceu na região sul da Península Balcânica e também dominou outras regiões vizinhas como a Península Itálica, a Ásia Menor e algumas ilhas do Mar Egeu. Com o passar do tempo, várias cidades politicamente autônomas entre si apareceram e fundaram diversas práticas que influenciaram profundamente os costumes que hoje definem a feição do mundo ocidental.

Do ponto de vista geográfico, o espaço que deu origem ao Mundo Grego é repleto de vários acidentes geográficos. A variação no relevo teve enorme importância para que cada cidade consolidasse uma cultura própria e impedisse a formação de um possível Estado unificado. Além disso, por conta dessa mesma característica, vemos a impossibilidade de uma atividade agrícola extensa.

Após vivenciarem uma experiência social centrada na utilização coletiva das terras, observamos que o desenvolvimento de uma aristocracia empreende a fixação dos primeiros núcleos urbanos. Por conta de sua já citada independência, compreendemos que a Grécia Antiga deve ser observada como um amplo mosaico de culturas que se desenvolvem de forma diversa.

Sumariamente, as cidades-Estado de Atenas e Esparta atestam a existência de tal diversidade cultural e se mostram dotadas de práticas e costumes que influenciaram a cultura Ocidental. Entre os atenienses, concedemos destaque especial à organização do regime democrático. Com passar do tempo, a ideia de se construir um sistema político representativo ganhou espaço e novas ressignificações ao longo do tempo.

Em dado momento, as diferenças entre as cidades-Estado promoveu o acirramento dos interesses políticos entre as mesmas. Com isso, apartadas entre as Ligas de Delos e do Peloponeso, as cidades da Grécia Antiga se desgastaram em uma prolongada guerra que acabou abrindo portas para a dominação de outros povos sobre esta civilização. Primeiramente, temos Alexandre, O Grande, como o primeiro dominador da região.

Mesmo promovendo sua hegemonia militar contra os gregos, o imperador Alexandre assumiu o papel de grande entusiasta da cultura grega. Nos vários centros urbanos e territórios que controlou, fez questão de disseminar os elementos da cultura grega por meio de manifestações diversas. Ao fim, a ação do imperador macedônico foi de suma importância para que os valores helênicos perdurassem ao longo do tempo.

Quando o império macedônico foi conquistado, percebemos que vários elementos da cultura grega influenciaram o desenvolvimento político, social e econômico do Império Romano. Mais uma vez, a cultura grega consolidava-se como elemento formativo de um novo conjunto de ideias e valores historicamente preservados e portadores de referenciais que balizam a compreensão da cultura Ocidental atual.

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E se os Gregos não tivessem existido?

Menos inquietações existenciais, menos obras de arte e o homem em segundo plano. Assim seria o hemisfério ocidental caso a civilização grega jamais tivesse existido. "A sociedade seria menos reflexiva e racional. Viveríamos baseados apenas na fé", diz José Leonardo Nascimento, professor da Universidade Estadual Paulista. Imaginar uma situação como essa não é tarefa fácil. Afinal, a influência grega no Ocidente é profunda e vasta. Por outro lado, pensar nessa hipótese só é possível graças aos gregos, já que a reflexão intelectual nasceu entre eles e não há dúvidas de que este seja seu maior legado.

"A tomada de consciência do homem sobre si mesmo e sobre os fenômenos que os cercam não ocorreu apenas na Grécia, mas foi ali que, por força de uma cultura dedicada à figura humana, desenvolveram-se explicações racionais como a matemática, a medicina e a filosofia", afirma Donaldo Schüller, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Para ele, a base de toda inquietação humana vem desse processo de racionalização da natureza. "Os gregos do século VI a.C. abandonaram as soluções metafísicas e espirituais do mundo e buscaram explicações racionais para os eventos que influenciavam suas vidas. Este é o início da ciência como a conhecemos. Portanto, sem os gregos ninguém estaria quebrando a cabeça tentando se conhecer, o que seria a morte de qualquer corrente filosófica", diz Schüller.

O antropocentrismo – palavra grega que significa o homem como centro de tudo – é outra herança daquele povo. Segundo José Leonardo Nascimento, esse conceito foi fundamental para a definição do pensamento ocidental, influenciando diversas áreas do conhecimento, das artes às religiões. Uma idéia original e única em todo o mundo.

Apesar de toda sua importância sobre o mundo antigo, a cultura grega e suas influências estiveram adormecidas durante a Idade Média, quando o sentimento religioso e místico predominou. "Pensar em um mundo desprovido da influência grega é pensar na idade média até o renascimento", diz Nascimento.

"As medidas do homem (antropometrismo), suas feições e expressões, passaram a ser usadas nas artes plásticas e a servir de referência para nossas criações mitológicas e religiosas", afirma Nascimento. A idéia de representar o homem tal como ele é não existiria. Em seu lugar, as artes seriam povoadas de manifestações bem distantes do real, como as colossais obras egípcias. Imagine essa tendência aplicada na arquitetura. Teríamos construções monumentais, adequadas às dimensões dos deuses e não às do homem.

É difícil imaginar o que seria das artes ocidentais sem toda a referência clássica. "Sem a Grécia teríamos o embotamento da cultura dos sentidos", diz Nascimento. Em outras palavras, as artes não teriam o homem como referência e iria prevalecer outro tipo de modelo. "Tendo como padrão a arte egípcia, por exemplo, nosso imaginário estaria repleto de figuras descomunais, com aparência divina e animal", explica.

Além das artes, essa forma de ver o mundo foi definitiva nos campos da ciência e da religião. Doutores do Cristianismo, como São Tomás de Aquino e Santo Agostinho, fundiram o pensamento grego aos fundamentos da religião. Sem a influência grega, o Cristianismo seria muito mais austero, menos afeito aos sincretismos e, sobretudo, sem as figuras dos santos. Talvez não se tornasse a religião predominante sobre a Terra. Sem a filosofia clássica, o cristianismo seria pouco mais que uma seita neojudaica.

Para o professor Schüller, o homem ocidental seria outro. A consciência sobre nós mesmos, nossos medos, traumas e desejos, também. "Freud provavelmente teria outro emprego. O homem confrontando-se com seus limites é uma invenção grega", diz. Uma situação impensável sob a ótica do budismo, por exemplo, posto que a doutrina oriental suprime o desejo na busca da tranqüilidade de espírito.

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Filosofia e Democracia

A filosofia é compreendida como uma das mais importantes contribuições oferecidas pela civilização grega. O tão afamado “gosto” que os gregos possuíam pela sabedoria pode ser considerado como um item que influiu na construção de outros diferentes aspectos desta sociedade. Nesse sentido, podemos destacar como a constituição do regime democrático dentro dessa civilização também pode ser visto como um dado importante no desenvolvimento da filosofia.

Antes do surgimento da democracia, o regime político grego era controlado pelos grandes proprietários de terra. O privilégio e o nascimento eram os critérios para que as instituições políticas fossem organizadas nas mãos de uma minoria. Com o aparecimento do ideal democrático, essa minoria perdeu lugar para a figura de um cidadão capaz de argumentar, fazer escolhas, criticar concepções e defender perspectivas.

Toda essa capacidade exigida desse novo cidadão abriu espaço para que os jovens fossem preparados para o exercício da cidadania. Foi nesse período em que surgiram os sofistas que criticaram sistematicamente os pensadores cosmologistas. Esses filósofos tinham a pesada preocupação de explicar racionalmente as origens do mundo, a personalidade do homem e a ordenação da natureza. Em contrapartida, os sofistas ignoravam essas questões dizendo que o convencimento das ideias era o que importava.

Essa concepção oferecida pelos sofistas ganhou grande espaço no regime democrático, já que as assembleias eram dotadas por discussões onde os cidadãos decidiam a aprovação das leis. Entre os principais mestres do sofismo destacava-se Isócrates de Atenas, Protágoras de Abdera e Górgias de Leontini. Mesmo conseguindo arrebanhar diferentes seguidores, os sofistas sofreram a crítica sistemática de outros filósofos como Sócrates.

Segundo esse filósofo grego, as ideias deveriam contar com um profundo processo reflexivo para que pudessem alcançar um critério de verdade. Por isso, Sócrates convocava os cidadãos de Atenas a conhecerem a si mesmos. O poder de convencer por meio das ideias demonstrava um distanciamento entre os convincentes discursos sofistas e a reflexão do pensamento socrático.

De fato, esse tipo de situação desenvolvida na Grécia Antiga nos demonstra como a instalação do regime democrático e a discussão das ideias promoveu uma interessante etapa no desenvolvimento da filosofia. Mais importante do que saber quais destes pensadores tinham razão, devemos ver que a filosofia não nasce por meio de ideias puras, mas se desenvolve com o auxílio de outras instâncias que promovem o debate filosófico.

Por Rainer Sousa

Mestre em História

Local original do artigo - http://www.mundoeducacao.com/historiageral/filosofia-democracia.htm