Ideologia e Consciência

Celito Meier *

* Celito Meier nasceu em São João do Oeste (SC), em 1963. Fez seus estudos de Filosofia e Teologia no Centro de Estudos Superiores da Companhia de Jesus e no Instituto Santo Inácio (ISI), em Belo Horizonte. Obteve o mestrado em Teologia Moral, pelo CES, em 1999. Desde 1993 leciona Filosofia, Ética e Cultura Religiosa. Atualmente leciona na PUC-Minas, no UNI-BH e no Colégio Santo Agostinho, em Belo Horizonte.

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A ideologia pode ser considerada o conjunto de ideias, princípios, ideais e valores que norteiam a vida e a prática de um indivíduo ou um grupo e justificam determinada prática. Por exemplo, a ideologia de um partido político, a ideologia religiosa ou a ideologia de uma escola ou de uma ONG. Em decorrência disso, podem haver conflitos ideológicos. E a sociedade democrática traz a marca desse conflito. Assim, as ideologias são historicamente necessárias, uma vez que organizam os grupos, formam o terreno sobre o qual as pessoas se movimentam. As ideologias podem unir as pessoas e conduzi-las a um comprometimento por uma causa, por um mundo melhor. Dessa forma, a ideologia se torna uma visão de mundo, que se manifesta na arte, no direito, na atividade econômica, na religião, através dos meios de comunicação, em todas as manifestações de vida, individuais e coletivas, e que tem por função conservar a unidade ideológica do grupo ou comunidade.

Em sociedades verdadeiramente democráticas, marcadas pela pluralidade de ideologias, os conflitos se tornam inevitáveis. Nesse sentido, a vida em sociedade solicita a maturidade humana, a capacidade de conviver, de respeitar e defender o direito ao pensamento diverso. É da natureza da ideologia buscar universalidade, querer universalizar a sua visão, o seu interesse. Assim, muitas vezes, a ideologia se torna dogmática, impositiva, unilateral. É preciso manter-se consciente dos limites e da particularidade que caracteriza a ideologia. Somente como essa consciência, é possível haver verdadeira harmonia social.

A ideologia e a falsa consciência

Em conformidade com o pensamento de Karl Marx, a ideologia é sempre um mascaramento da realidade, uma forma de pensar que não é expressão da realidade vivida pelos homens, mas tentativa de universalizar um jeito específico de pensamento, tentativa de universalizar interesses particulares. Assim, a função principal da ideologia é fazer uma inversão da realidade, fazer com que a realidade apareça de uma determinada forma, conveniente a um grupo específico e dominante. Portanto, a ideologia, em Marx, tem a função de não permitir a percepção da dominação e da opressão, alienando a consciência, impedindo a revolta contra a dominação. Sem precisar recorrer à violência física, a ideologia mantém a "unidade" e a "coesão" da sociedade, escondendo as distorções, mascarando as desigualdades sociais e ocultando a exploração.

Por isso, a ideologia é o conjunto de representações e ideias, bem como de normas de conduta por meio dos quais as pessoas são levadas a pensar, sentir e agir da maneira que convém à classe dominante. Essa consciência da realidade é uma massificação, falta de pensamento autônomo, porque vê o que a ideologia quer que veja. Assim, a ideologia camufla a divisão existente dentro da sociedade, apresentando-a como una e harmônica, como se todos partilhassem dos mesmos objetivos e ideais. Mas, em realidade, essa é uma falsa consciência, que permite a perpetuação de uma situação que interessa ao grupo que é dirigente. Em decorrência, o caráter ideológico de uma afirmativa se verifica pelo nível de mobilização ou estagnação que provoca no ouvinte, em conformidade com um interesse prévio. É possível mobilizar sem a ação de uma ideologia?

(para um estudo mais aprofundado e para uma aplicação didática: MEIER, Celito. Da ideologia e da alienação. Belo Horizonte: PAX editora, 2001. 28p.)