Carta 27

Novembro, de 2005

Westerley

A priori penso nascer toda injustiça ou da EM tempo, digo do que esperei há tempos compreender. Por que a justiça vincula-se necessariamente á verdade?

A priori penso nascer toda injustiça ou da ignorância ou da falsidade e, por qualquer dessas origens, ser sempre a verdade seu adágio sal.

Que meu raciocínio, ainda que movido mais por minhas paixões que pela razão, me leve ao encontro do que espero compreender sobre a justiça.

Quanto a primeira origem. Penso estar toda ignorância justiçada pela sabedoria e pelo esclarecimento.

A injustiça causada por essa origem não sobrevive à presença viril do conhecimento e da consciência e, é chamada pela guardiã sabedoria a se retirar das mentes sãs por falta de espaço.

Além disso, a injustiça causada pela ignorância, não é uma injustiça em si mesma, é antes, a conseqüência do que se pratica no reino da escuridão da ignorância humana.

Assim sendo, resta então, verificar a segunda origem; a falsidade, como a principal causa da injustiça. É sobre ela que devo aprofundar minha reflexão.

Penso encontrar essa segunda origem, sua justiceira, apenas na luz da verdade.

Entendo a justiça como uma atitude da consciência de bem, um ato da vontade dessa consciência, que traz inata em si mesma o senso de equidade e solidariedade e, que tem como finalidade de sua realização, a dignidade e a integridade humana. Justamente o que a injustiça degrada primeiro.

A justiça é o que está conforme a verdade, e esta por sua vez, não é outra coisa senão, o que está em conformidade com toda a realidade.

Portanto, justo é o que é real e verdadeiro.

Mas não basta, é preciso definir o que é o real para bem compreender a verdade orientadora da justiça.

Entendo real, como entendia Platão; o real é o purificado de toda impureza do engano, da ignorância ou da falsidade.

Entendo o real como a estética da verdade, e o conhecimento como a percepção e a interpretação sensível dessa estética, como compreensão do real.

O real, como diz Rousseau é o que o coração elege como verdadeiro. É este real espelho da verdade, que impede a falsidade refletora da injustiça.

Eis aí o vínculo necessário da verdade com a justiça!

Tal reflexão se justifica por ser a justiça, o guia principal de nossa existência e a verdade, a bússola orientadora da justiça.

Tenho visto que o homem só exerce sua humanidade à medida que ele é justo.

Nada acima da justiça me impõe. Tudo o mais é importante, mas nada é mais necessário para que me sinta verdadeiramente humano. Toda vez que me afasto da justiça, me sinto menos humano.

Por isso, a construção da dignidade passa necessariamente pela relação que temos com a justiça. A justiça é a medida da nossa humanidade.

E qual é o pressuposto primeiro de toda justiça? Não creio ser outro, senão, a virtude. Ser justo, antes de tudo é ser virtuoso, ou seja, ser verdadeiro, sábio, solidário, ético, consciente, mas, uma consciência que nasce do sentimento de bondade.

Eis o que entendo por ser humano!

Carta Filosófica Nº 27

A justiça é a medida da nossa humanidade.