Fundamentalismo e Espiritismo

1) O que se entende por fundamento?

O termo fundamento comporta várias significações: origem, princípio, raiz, finalidade. É o princípio em que repousa de fato uma ordem de fenômenos. É o alicerce, a base, sobre o qual o edifício (físico, moral, intelectual) se erguerá.  

2) O que é o fundamentalismo?

É a concepção epistemológica de que todo conhecimento fatual está ancorado em uma base muito firme ou fundamento.

3) Qual a origem do termo fundamentalismo (religião)?

Os primeiros a utilizá-lo foram os protestantes americanos que, no início do século XX, designaram a si mesmos como “fundamentalistas”, para distinguir-se de protestantes mais “liberais”, que, a seu ver, distorciam inteiramente a fé cristã. É uma corrente teológica que admite apenas o sentido literal das escrituras.

4) Por que a temática do fundamentalismo é um campo escorregadio?

É que com o passar do tempo, este termo tornou-se inflacionário. Originalmente, pertencia exclusivamente ao campo religioso; depois, passou a ser usado de modo secular. Hoje, qualquer pessoa que defende com entusiasmo certa ideia é denominada de “fundamentalista”.

5) É adequado o uso do termo fundamentalismo para os ataques terroristas?

Não. Ao dizermos que o ataque às torres gêmeas dos Estados Unidos foi feito pelo fundamentalismo, estamos cometendo uma injustiça, pois o fundamentalismo islâmico não apregoa essas atrocidades. Geralmente, é feita por jovens despreparados, uma pequena minoria, que pensa estar ali a salvação da humanidade. Por isso, não hesitam em fuzilar devotos, matar médicos que trabalham em clínica de aborto, assassinar presidentes etc.

6) Há mais (ou menos) pontos comuns nas três religiões monoteístas (judaísmo, islamismo e cristianismo)?

Os pontos comuns são em maior número. As religiões, de um modo geral, não apregoam a guerra, mas a tolerância, o respeito ao próximo. É por isso que o surgimento, no século XX, de uma devoção militante, deve ser considerada como um caso isolado e não a regra desses fundamentalismos.

7) Há fundamentalismo no Espiritismo?

Sim. Sempre que defendermos uma ideia presos somente à codificação de Allan Kardec, podemos estar sendo fundamentalistas sem o saber, porque fundamentalistas são sempre os outros. O próprio Allan Kardec já nos alertava: "Se a ciência descobrir coisas que contrariem o que foi codificado, fique com a ciência".

8) Defender os fundamentos espíritas é ser fundamentalista?

Sim e não. Há fundamentos que o espírita não pode abrir mão, como o princípio da reencarnação. Não o defendendo, podemos destruir todo o edifício construído por Allan Kardec. O fundamentalismo espírita assemelha-se aos outros fundamentalismos, ou seja, não admite nada além da ortodoxia pelo qual nasceu tal doutrina.

9) Como ser fundamentalista sem cair no fundamentalismo?

O espírita deve debruçar-se sobre as obras básicas e complementares do Espiritismo, procurando tirar daí uma maneira racional de analisar a Doutrina. Por mais que o repitamos, o pensamento é sempre novo. Deve sempre se adequar à realidade vigente. 

Fonte de consulta

ARMSTRONG, Karen. Em Nome de Deus: O Fundamentalismo no Judaísmo, no Cristianismo e no Islamismo. Tradução de Hildegard Feist, São Paulo: Letras, 2001.

KAMEL, Ali. Sobre o Islã: A Afinidade entre Muçulmanos, Judeus e Cristãos e as Origens do Terrorismo. Rio de janeiro: Fronteira, 2007.

DREHER, Martin Norberto. Fundamentalismo. São Leopoldo: Sinodal, 2006. (Série Para Entender) 

(Reunião de 25/06/2011)