Gnosticismo

1) O que é gnosticismo?

Gnosticismo deriva de grego gnosis, e significa “conhecimento”, não um conhecimento conceitual, mas intuitivo, reservado somente a alguns iniciados. É uma corrente de pensamento que surgiu a partir do século II de nossa era, na qual se combinam elementos cristãos e pagãos. (1)

2) O gnosticismo está inserido em que tipo de herança cultural?

No começo da era cristã, havia dois tipos de tradições: de um lado a tradição grega, baseada no deus da razão, com o tempo circular. De outro, a cristã, baseada na fé revelada e o tempo linear. (1)

3) Qual o principal problema a ser enfrentado?

Conciliar Deus e a Alma do Mundo. Deus é o invisível, o Bem; a Alma do Mundo, a matéria, o Mal. Não foram somente os cristãos que quiseram dar uma solução para a dualidade entre o bem e o mal. Na época, havia duas correntes: o gnosticismo e o neoplatonismo. (1)

4) Quais eram as teses neoplatônicas?

As teses do neoplatonismo podem ser assim resumidas: absoluta transcendência do ser divino, a emanação e o retorno do mundo a Deus pela interiorização progressiva do homem.

5) O que fizeram o gnósticos para defender a pureza angélica?

Para defender a pureza angélica, os gnósticos de todos os tempos inventaram teorias que davam sustentação aos seus anseios. Muitos gnósticos negaram a corporeidade de Jesus, imputando-lhe um corpo astral. Valentim (c. 160 d.C.) dizia: “Jesus comia e bebia de forma especial, sem excretar a comida. Tão grande era a força de seu poder de evitar a excreção que os alimentos não apodreciam nele, pois ele mesmo era indefectível e incorruptível”.

6) Como os gnósticos interpretavam o Demiurgo?

Os gnósticos deram o nome de Demiurgo ao criador do Mundo dos sentidos. O Deus supremo concedeu ao homem a alma racional; o Demiurgo só podia conceder-lhe o princípio mais fraco (psique). Porém, o poder do mal no corpo material, e a influência hostil do Demiurgo, meramente sensitivo, puseram obstáculo ao desenvolvimento desse fator mais elevado, não podendo o Demiurgo levar as criaturas ao conhecimento da verdadeira divindade. (2)

7) Que contribuição nos deu Basílides? E Valentino?

Basílides, um gnóstico que pregou em Alexandria entre os anos 120-140, oferece uma resposta a esse extremo dualismo estabelecendo os princípios da luz, causa do Bem, e das trevas, origem do Mal. As trevas não foram absorvidas pela luz, mas de seu contato nasceu uma luz aparente que é a do mundo, mistura do bem e do mal.

Para Valentino, outro gnóstico do século II, o mundo é a consequência de um esforço incompleto, porque não é obra de Deus — o princípio supremo ou Pleroma —, mas de algumas das emanações produzidas pela divindade e que presidiram as sucessivas transformações do Universo. (1)

8) Como explicar que o gnosticismo é um escapismo?

Quando o gnosticismo se torna uma religião da razão. Os gnósticos não se contentam com a afirmação de Platão de que somos sombra do mundo espiritual. Para eles, o paraíso é aqui e agora. Mas, se é assim, como o ser humano desceu ao vale de lágrimas?  Aqui, entram em cena as duas forças que se combatem: de um lado o ser espiritual, racional e puro; do outro, a carne pecadora. Como se pressupõe que a carne é fraca, quer-se encontrar o vilão de todos os pecados. Daí, o demoníaco, diabolon, antítese da divindade. (3)

9) Em se tratando do gnosticismo, como está posta a tradição oculta?

A tradição oculta fundamenta-se nas religiões orientais.  Entram em cena as doutrinas enigmáticas do Orfismo (transmigrações sucessivas das almas) e o hermetismo (que está relacionada com a astrologia e a alquimia). (1)

10) Como essas formas reaparecem no Ocidente?

Aparecem na Idade Média, na Idade Moderna (Corpus hermeticus dos alquimistas), no Renascimento (medicina astrológica de Paracelso) e nas obras literárias (Fausto, de Goethe). 

11) Como resumir, em poucas palavras, o gnosticismo?

O gnosticismo busca o encontro com Deus, o Uno. Para tanto, utiliza-se de tudo o que possa facilitar a interiorização do ser humano: preceitos cristãos, as retortas alquímicas e a astrologia. O objetivo maior é diminuir a distância que há entre o homem (limitado) e Deus (o onipotente). 

Fonte de Consulta

(1) TEMÁTICA Barsa - Filosofia.

(2) GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA. Lisboa/Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia, [s.d. p.].

(3) BURCKHARDT, Martin. Pequena História das Grandes Ideias: Como a Filosofia Inventou nosso Mundo. Tradução de Petê Rissatti. Rio de Janeiro: Tinta Negra Bazar Editorial, 2011.

(Reunião de 06/04/2013)