Esperanças e Consolações 

Esperanças e Consolações — Livro IV — O Livro dos Espíritos

1) Por que a felicidade e a infelicidade são relativas?

A felicidade e a infelicidade são o reflexo do ponto de vista de cada um de nós. Se dermos demasiada importância às coisas deste mundo, tão logo surja um fracasso de nossa vaidade, sentir-nos-emos extremamente infelizes. Se, porém, elevarmos o nosso pensamento ao infinito, as vicissitudes da vida parecerão mesquinhas e pueris.

2) Como nos consolar com a perda de entes queridos?

Baseando-nos no seguinte pensamento: dois amigos estão numa mesma cela da prisão; ambos devem ter um dia a liberdade, mas um deles a obtém primeiro. Seria caridoso que aquele que continua preso se entristecesse por ter o seu amigo se libertado antes? Quer dizer, lamentar a partida do ente querido é impedir que este seja feliz.

3) Que tipo de ensinamento a ingratidão, as decepções e a quebra de afeições pode nos oferecer?  

A ingratidão, as decepções e as quebras de afeiçoes devem ser consideradas como uma prova para a nossa persistência na prática do bem. Reflitamos sobre a ingratidão, que é filha do egoísmo. De acordo com as instruções dos Espíritos, o egoísta encontrará mais tarde corações insensíveis como ele próprio o foi.

4) No que se fundamentam as uniões antipáticas?

Fundamentam-se nas duas espécies de afeição: a do corpo e a da alma. A afeição da alma, quando pura e simpática, é duradoura; a do corpo é perecível: eis porque os que se julgam amar com um amor eterno acabam se odiando, quando passa a ilusão.

5) Qual a razão da excessiva preocupação com a morte?

O ensinamento religioso a respeito do céu e de um inferno, e que a maioria irá para o inferno, recebido em tenra idade, tem grande influência no medo da morte. Os princípios doutrinários espíritas apontam para uma vida futura de acordo com as práticas de cada dia, o que nos traz grande consolo.  

6) Quais são as causas do suicídio?

O suicídio é o efeito da ociosidade, da falta de fé e geralmente da sociedade. Para aqueles que exercem as suas aptidões naturais para um fim útil, longe estarão desses pensamentos infelizes, pois suportam as suas vicissitudes com tanto mais paciência e resignação, quanto mais agem tendo em vista a felicidade mais sólida e mais durável que os espera.

7) Por que razão o ser humano repele instintivamente o nada?

A percepção de uma vida futura é decorrente da pré-existência da alma. Antes da encarnação o Espírito conhece todas essas coisas, e a alma guarda uma vaga lembrança do que sabe e do que viu no estado espiritual.

8) De onde procede a intuição das penas e gozos futuros?

É o pressentimento da realidade, dado ao homem pelo seu Espírito. Nesse sentido, deveríamos dar mais valor à nossa voz interior, que procura nos encaminhar para a nossa própria felicidade.

9) Há intervenção de Deus nas penas e recompensas?

Não. Todos estamos submetidos às suas leis. Ao violarmos as leis de Deus, sofremos a consequência dessa violação. Nesse caso, não nos devemos queixar senão de nós mesmos, que nos fazemos assim os artífices de nossa felicidade ou de nossa infelicidade futura.

10) Qual a natureza das penas e dos gozos futuros?

Desde que a alma não é matéria, as penas e os gozos não podem ser materiais. O Espírito, uma vez desprendido, é mais impressionável: a matéria não mais lhe enfraquece as sensações.

11) Como se deve entender as penas temporais?

São períodos necessários para o refazimento do Espírito e a sua preparação para novos desafios, tanto no plano material quanto no plano espiritual.

12) O que é que determina a duração da penas futuras?

O tempo necessário para o melhoramento do Espírito.

13) Como entender o dogma da ressurreição da carne?

Embora tenha sido mal interpretada pelos religiosos, o dogma da ressureição da carne nada mais é do que a consagração da reencarnação ensinada pelos Espíritos.

14) Qual a concepção de paraíso, inferno, purgatório e paraíso perdido?

Não são lugares circunscritos, mas figuras de linguagem que mostram o estado da alma do ser vivente.

(Reunião de 2023)