Teoria e Prática no Espiritismo

1) O que significa a palavra teoria?

O termo teoria – do grego theoria – é usado em várias acepções. Na Origem, designava o ato de ver e de ser visto em locais abertos a todos, tais como o templo, o circo, a ágora e em espetáculos e cerimônias públicas. Pode ser também a ação de contemplar, ter uma visão do espírito. Os gregos, de maneira nenhuma opunham, como hoje, teoria e prática. O conhecimento teórico, em toda a antiguidade clássica grega, era entendido como a contemplação da verdade (aletheia) em si mesma. A supremacia do conhecimento teórico sobre o prático ou técnico provém do fato de ele ser útil em si mesmo, independentemente de sua aplicação exterior.

2) Qual a relação, hoje, entre teoria e prática?

Hoje, o vocábulo teoria é usado, as mais das vezes, como oposição a prática, a ponto de muitas pessoas dizerem que "a teoria na prática é outra". Com isso, não são poucos os pensadores que acabam dando mais importância à prática do que à teoria. Os homens práticos, ou seja, aqueles que estão à frente de atividades empresariais e governamentais ganham cada vez mais notoriedade, principalmente pelas suas aparições nos veículos de comunicação de massa.

3) Onde se encontra a teoria espírita?

A teoria espírita encontra-se na obras básicas – O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, A Gênese, O Céu e Inferno e O Evangelho Segundo o Espiritismo, e nas obras complementares, mediúnicas e não mediúnicas.

4) Qual a relação entre teoria e prática no Espiritismo?

Anotemos algumas frases: "você fez todos os cursos que o Centro oferece e nunca trabalhou?"; "você terminou o curso de Educação Mediúnica e ainda não trabalha?"; "você precisa trabalhar, senão será presa fácil de Espíritos menos felizes"; "você precisa aplicar passes senão as suas energias ficam paralisadas"; "as suas dores nas costas são devido à energia acumulada. Aplique passes e os seus problemas serão resolvidos". Em vista disso, parece-nos que a maioria está mais preocupada com a prática do que com a teoria. Dá-se a impressão de quem não aplica passes, não participa de um trabalho de desobsessão não é espírita.

5) O que deve vir primeiro: a prática ou a teoria?

A teoria deve sempre vir antes, porque é dela que as ideias emergem e se estabelecem os princípios de uma doutrina, de uma ciência ou de um sistema filosófico. José Herculano Pires adverte-nos que todos aqueles que se dizem espíritas deveriam, em primeiro lugar, debruçar-se sobre as obras básicas, que são os fundamentos teóricos para as nossas ações práticas. Sem elas, o edifício espírita pode ruir.

6) Como obter um embasamento teórico sustentável?

Aplicar o raciocínio lógico é bastante importante para termos convicção dos pressupostos espíritas. Dada uma afirmação qualquer, podemos colocá-la sob o crivo da razão e da lógica. Recentemente, deparamo-nos com a seguinte afirmação: "Não há amor sem perdão". A frase, a princípio, parece não ter nenhuma irregularidade. Pensando melhor sobre a mesma, podemos dizer que "O amor implica o perdão". Em outras palavras, para que haja amor, há necessidade do perdão. Tomemos a descrição do amor em O Evangelho Segundo o Espiritismo:

O amor resume toda a doutrina de Jesus, porque é o sentimento por excelência, e os sentimentos são os instintos elevados à altura do progresso realizado. No seu ponto de partida, o homem só tem instintos; mais avançado e corrompido, só tem sensações; mais instruído e purificado, tem sentimentos; e o amor é o requinte do sentimento. Não o amor no sentido vulgar do termo, mas esse sol interior, que reúne e condensa em seu foco ardente todas as aspirações e todas as revelações sobre-humanas. A lei do amor substitui a personalidade pela fusão dos seres e extingue as misérias sociais. Feliz aquele que, sobrelevando-se à humanidade, ama com imenso amor os seus irmãos em sofrimento! Feliz aquele que ama, porque não conhece as angústias da alma, nem as do corpo! Seus pés são leves, e ele vive como transportado fora de si mesmo. Quando Jesus pronunciou essa palavra divina, — amor — fez estremecerem os povos, e os mártires, ébrios de esperança, desceram ao circo. (1)

Neste texto, o amor não precisa do perdão. O amor basta a si mesmo. O amor não é renúncia, não é sacrifício, porque quem ama faz tudo desinteressadamente.

Fonte de Consulta

(1) KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE, 1984, capítulo XI, item 8 (Instruções do Espíritos: A Lei do Amor).

(Reunião de 02/05/2009)