Aparência e Realidade

1) Quais os dois significados da aparência na história da filosofia?

Na história da filosofia, a aparência teve dois significados diametralmente opostos: 1) ocultação da realidade; 2) manifestação ou revelação da realidade. No primeiro caso, a aparência vela ou esconde a realidade das coisas. É preciso transpô-la; no segundo caso, a aparência é o que manifesta ou revela a realidade, de tal modo que este encontra na aparência a sua verdade, a sua revelação. No primeiro caso, conhecer significa libertar-se das aparências (Sócrates e Platão); no segundo, conhecer é confiar na aparência, deixá-la aparecer. (Abbagnano, 1970)

2) O termo aparência ainda é empregado pela filosofia?

Não. Em metafísica, depois de Kant, o termo aparência caiu em desuso. Em seu lugar deve-se usar fenômeno.(Durozói, 1993) O termo aparência hoje em dia conserva um sentido psicológico, ou seja, toda a representação, ou melhor, toda a presentação que se considere diferente do objeto que lhe corresponde. O termo antitético é realidade. (GEPB)

3) O que se entende por realidade?

O adjetivo real concerne às coisas e qualifica o que é dado, o que existe efetivamente. Indica, assim, o modo de ser das coisas existentes fora da mente humana ou independentemente dela. Consequentemente opõe-se por um lado ao que é aparente e ilusório, e, por outro lado, ao que é abstrato. (Abbagnano, 1970)

4) Aquilo que vemos é realmente o que vemos?

Esta questão remete-nos ao próprio pensar do ser humano. Podemos simplesmente absorver uma informação (de modo passivo) ou, ao contrário, indagar se ela tem fundamento, se condiz com a verdade dos fatos. O nosso procedimento, como seres racionais, é o de questionar se a informação recebida tem um fundo de verdade. João, em seu Evangelho, já nos alertava para não acreditarmos em todos os espíritos. Antes disso, deveríamos verificar se eles são de Deus, ou se são mistificadores. Em outras palavras, desconfiemos das aparências.

5) Como penetrar o nosso olhar além das aparências das coisas?

A dúvida metódica de Descartes muito nos auxilia nesta questão. Descartes analisa o conhecimento vigente e conclui que nada se lhe oferece, de modo indubitável, sobre o que possa fundamentar o seu trabalho. Tem que buscar alguma coisa fora da tradição, uma idéia, uma única que seja, mas que resista a todas as dúvidas. Ele coloca uma dúvida, não para simplesmente duvidar, mas para extrair da sua dúvida a verdade. Aristóteles, por outro lado, dizia: "... o que é diferente de alguma coisa é sempre diferente por qualquer coisa, e tanto assim que deve necessariamente haver algo de idêntico, pelo que são diferentes". (Metafísica, 1054b, 25 segs.) Parte-se, muitas vezes, do conhecido para o desconhecido.

6) Que subsídios podemos extrair da Psicologia?

A Psicologia oferece-nos o termo "apercepção tendenciosa", enfatizando que não apreendemos o mundo segundo um dado objetivo. O nosso psiquismo procede por seleção. Retém certos acontecimentos, esquece ou recusa outros e deforma aqueles que apenas lhe convém em parte.

Para exemplificar, vejamos alguns tipos de distorções perceptivas:

1) estereotipagem - É o processo de usar uma impressão padronizada de um grupo de pessoas para influenciar a nossa percepção de um indivíduo em particular. Estigma.

2) efeito halo - Consiste em deixar que uma característica de um indivíduo ou grupo encubra todas as demais características daquele indivíduo ou grupo.

3) expectativas - Consiste em "vermos" e "ouvirmos" o que esperamos ver e ouvir e não o que realmente está acontecendo. (Bowditch, 1992, p. 62 a 76)

7) Questões para serem respondidas em casa.

a) Possuímos um sexto sentido, que vai além do fato observado?

b) Uma hipotética sala de estudo, dentro de um Centro Espírita, pode ser considerada como se fosse um campo florido?

c) Há aparência para o subconsciente, ou tudo para ele é realidade?

d) Temos o hábito de indagar sobre o status quo estabelecido?

Fonte de Consulta

ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1970.

BOWDITCH, J. L. e BUONO, A. F. Elementos de Comportamento Organizacional. São Paulo, Pioneira, 1992.

DUROZOI, G. e ROUSSEL, A. Dicionário de Filosofia. Tradução de Marina Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1993.

GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA. Lisboa/Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia, [s.d. p.]

(Reunião de 25/09/2010)