Símbolo

"Um sinal é uma parte do mundo físico do ser (being), um símbolo é uma parte do mundo humano da significação (meaning)".  E. Cassirer, An Essay mon Man, p. 32.

1) Como podemos representar o mundo?

Há duas maneiras de representar o mundo: a direta, em que objeto se apresenta à nossa frente; b) indireta, quando por qualquer razão o objeto não pode se apresentar em "carne e osso". A forma indireta representa o símbolo, usado indiferentemente como "imagem", "figura", "ícone", "ídolo", "signo", "emblema", "parábola", "mito" etc. (1)

2) O que é um símbolo?

Símbolo é um sinal particular, que pode ser expresso com figuras, imagens, palavras e gestos. Do gr. symbolon = neutro - vem de symbolé‚ que significa aproximação, ajustamento, encaixamento, cuja origem etimológica é indicada pelo prefixo syn, com e bolé, donde vem o nosso termo bola, roda, círculo. Referia-se, deste modo, à moeda usada como sinal. O símbolo é, pois, tudo quanto está em lugar de outro. (2)

3) Como conceituar filosoficamente o símbolo?

Ao passo que um sinal de um objeto de percepção é uma parte do objeto que evoca o todo ou a porção do todo que mais interessa ao sujeito, um símbolo é algo que evoca, não o objeto de percepção, mas a concepção que temos do objeto. Este poder de compreender e interpretar símbolos diz respeito à mentalidade humana. Os animais, por exemplo, não têm essa capacidade. Diz-se que o cão pode se impressionar com a vista de um gato, mas não sente reação alguma ao ver um desenho que represente o gato. (3)

4) Existe a simbólica? O que é?

A simbólica é uma matéria filosófica voltada para o estudo da gênese, do desenvolvimento, da vida, da morte e da ressurreição dos símbolos. A simbólica tem por objetivo descobrir o que está escondido atrás dos ritos e dos dogmas sob emblemas tão diversos. Por isso, utiliza o método dialético-simbólico, no sentido de, através da analogia, tornar compreensível o processo mágico, as fantasias e os mistérios. (2)

5) Todo símbolo é sinal, mas nem todo sinal é símbolo. Comente.

O símbolo é a espécie e o sinal o gênero. Para que o sinal seja símbolo ele tem que estar no lugar de outro. O sinal pode ser apenas convencional, arbitrário. O símbolo, não. Este deve repetir, analogicamente, algo do simbolizado. Além disso, o símbolo é meio de acesso às realidades pessoais, misteriosas e inacessíveis a uma observação direta e imediata. Por exemplo: o signo bandeira simboliza os vários graus de heroísmo.

6) Qual a importância da simbologia da palavra na comunicação humana?

O ser humano, praticamente, não dispõe de um símbolo mais privilegiado para a comunicação do que a palavra. Imagine um indivíduo feito uma estátua. Nessa circunstância, é difícil sondar-lhe o pensamento e o sentimento. Porém, ao se expressar, torna-se logo conhecido. Além da transmissão de conteúdo, a palavra é muito mais um instrumento de comunicação espiritual: faculta ao ouvinte a elaboração de novas idéias sobre o discurso proferido.

7) Quais são os aspectos simbólicos das parábolas evangélicas?

A parábola, por definição, é uma narrativa alegórica na qual o conjunto de elementos evoca, por comparação, outras realidades de ordem superior. Jesus falava por parábolas no sentido de despertar a curiosidade dos ouvintes para, depois, dar as explicações necessárias. Na realidade, as parábolas são verdadeiros conjuntos simbólicos do Reino de Deus e os simples exemplos morais. (1)

8) Relacione símbolo e redundância.

Nos símbolos rituais há necessidade da redundância dos gestos, ou seja, da sua repetição. Alguns exemplos: o muçulmano que, na hora da prece, se prostra em direção ao Oriente, o padre cristão que abençoa o pão e o vinho, o soldado que presta homenagem à bandeira.

9) Dê-nos alguns exemplos de símbolos usados no Evangelho.

Anotemos três: luz, árvore e figueira,

A luz é o símbolo multimilenar do desenvolvimento espiritual. É a herança de Deus para as trevas. É a substância divina gerada nas fontes superiores da esfera espiritual. É a mais elevada, potente e veloz das expressões do movimento, suscetível de acrisolar-se ao infinito.

A árvore é o símbolo da vida, em perpétua evolução e em ascensão para o céu; evoca todo o simbolismo da verticalidade. As suas raízes enterradas no solo simbolizam a terra, o subterrâneo. O seu tronco e os seus galhos mostram a ascensão para o Céu, ou seja, a evolução espiritual do ser humano. Por isso, ela é universalmente considerada como o símbolo das relações que se estabelecem entre a terra e o céu.

A figueira, assim como a oliveira e a videira, é uma das árvores que simbolizam a abundância. Quando seca, porém, torna-se a árvore do mal. Na simbólica, representa a ciência religiosa. No sentido estrito da simbólica cristã, ela representa não só a ciência como também a Sinagoga que, por não ter reconhecido o Messias da Nova Aliança, já não tem frutos. Quando Jesus amaldiçoa a figueira, ele se dirige à ciência que esta árvore representa, pois a religião que imperava na sua época não servia para ser a lídima herdeira da Doutrina renovadora trazida por ele; por isso, deveria ser condenada à esterilidade. (4)

10) Podermos confiar na interpretação do símbolo dada pelo Espiritismo?

Allan Kardec, ao codificar a Doutrina Espírita, usou o maior rigor científico possível. Para sua estruturação, valeu-se das contribuições de diversos médiuns, espalhados pelo mundo todo. Como o trabalho é dos Espíritos, eles (os Espíritos) tiveram o devido cuidado, empenharam-se diligentemente na interpretação dos textos deixados pelos apóstolos. O "não vim trazer a paz, mas a espada" é um bom exemplo. De acordo com O Evangelho Segundo o Espiritismo, a paz e a espada são figuras de linguagem que representam toda a luta para a implantação de uma nova ideia, de uma nova doutrina. Nenhuma ideia nova é aceita imediatamente, porque fere pontos de vistas e preconceitos.

Bibliografia Consultada

(1) DURAND, Gilbert. A Imaginação Simbólica. Trad. Eliane Fittipaldi Pereira. São Paulo: Cultrix, 1988

(2) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.

(3) GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA. Lisboa/Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia, [s.d. p.].

(4) CHEVALIER, J., GHEERBRANT, A. Dicionário de Símbolos (mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números). 12. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1998.

(Reunião de 28/09/2009)