Luzes, P. (1986). A imagem visual em motivação: Estudo baseado no desenho infantil. Revista Portuguesa de Psicologia, 23, 171-190.

Resumo

Como ponto de partida para o estudo das imagens mentais em motivação evoca-se a integração destas num conjunto de funções simbólicas ou semióticas definidas por Piaget.

Nas teorias clássicas da Psicologia a motivação era um fenómeno essencialmente passivo, nascendo as «moções» ou apetites das influências exercidas sobre os indivíduos através dos órgão dos sentidos. A orientação do comportamento era resultado de resíduos de antigas percepções, logo de imagens. Em outras teorias a motivação (na pesquisa do Bem ou da Virtude) teria origem também na «reminiscência» de ideias ou formas, percebidas numa vida anterior ou num mundo diferente. A proximidade destas teorias com a teoria da reminiscência das imagens, era grande.

Com a psicanálise, o behaviorismo, a etologia, não participando a consciência na determinação das acções, as imagens mentais passam a ser consideradas como epifenómenos.

Neste estudo é abordada a imagem mental clinicamente através do desenho infantil.

Depois de vários exemplos avulsos, é apresentado o caso de uma jovem, seguida em psicanálise, em que a interpretação do desenho desempenhou um importante papel no tratamento.

As motivações demonstradas através do desenho, dificilmente seriam detectáveis utilizando outras técnicas. No entanto neste e noutros contextos, as imagens mentais só a custo podem ser cabalmente explicadas pela teoria da imitação diferida. A auto-imagem da doente, por exemplo, tem muito mais que ver com fenómenos emocionais de origem interna (tal como é sugerido na teoria de Tomkins da imagem mental), do que com aspectos de imitação diferida (sugerida por Piaget).

As imagens mentais aparecem no desenho infantil como constructos, capazes de ser projectados para o exterior e encontrar pontos de contacto com os elementos da percepção. Há um paralelismo entre os pontos de vista e teorias e práticas que dominam as artes plásticas, moderadamente.

Abstract

As starting point for the study of mental images in Motivation, the concepts of Piaget, pointing to the semiotic or symbolic function of such images is evoked.

The more classic ideas on Motivation are summoned. Motivation in psychology is considered traditionnally as passive. The motions or apetites of beings were seen as resulting from influences exerted upon them through the sense organs. The orientation of behavior depended on residues of former perceptions, i.e, images. In other theories, motivation (in the search for Good and for Virtue) had its origin in «reminiscences» of previous ideas or forms, perceived or sensed in a former life or in a different world. The closeness between such theories and the theory of the reactivation of images, as unmistakable.

With psychoanalysis, behaviorismo, ethology, as conscience is not evoked in the determining of actions, mental images are put aside and seen as epiphenomena.

In this study mental images are considered clinically through children drawings.

After some random vignettes, a case is presented of a young girl treated by psychoanalysis, in wich drawings played an important role for interpretations.

The motivation that became evident through drawings, could not have been obtained in this case, employing other technique. With such material the Author emphasizes the limitations of the theory of deferred imitation. For instance, the self-image of the young patient seemed much more in continuity with phenomena of internal origin (as the theory of Tomkins suggests, of mental images and imagery coming from emotions and other internal sources) than with the deferred imitation of external events (Piaget`s theory).

Mental images appear in children drawings as constructs, susceptible of external projection, and being then able to be in touch with elements of the external world, which then would be perceived. There is a parallelism between such points of view and other theories and practices that are dominant in the visual arts of the contemporary world.

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