Boêmio incorrigível

por Armelim Guimarães

(do livro "Bernardo Guimarães, o romancista da Abolição")

E por que tanto insistência em qualificar Bernardo Guimarães de boêmio?

Porque o foi realmente. Mesmo que nada houvesse ele deixado de talento, do seu gênio e de seu estro, só por essa faceta merece um livro sobre sua vida. É o Bernardo "formidável" da classificação de Alcântara Machado.

Mas boêmio no bom sentido da palavra, que nem os dicionários têm explicado com exatidão, o que é. É a boêmia caracterizada sobretudo por certa rebeldia aos cânones e etiquetas sociais e pelo viver independente, muito a seu modo, ajustado à sua índole de retraído, de comodista, de pensador e de eterna esteta, indiferente ao juízo alheio, inteiramente avesso a valores convencionais, arredio dos ajuntamentos solenes, dos préstitos e aparatos festivos e dos salões palacianos, mas amante da

simplicidade, da camaradagem sadia, do bom-humor gozado entre amigos, só entre amigos.

E boêmia condimentada com uma filosofia toda sua, toda pessoal, idiossincrásica, divertida, original, às vezes gaiata, mas profundamente nobre em tudo, que lhe escancarava a alma para com todas as grandezas do coração e do civismo, e que o tornavam epigramático, satírico, cauterizante para com os paparretas, os sofômanos, os tartufos com que ia topando inhac lacrimarum valle.

Bernardo definia a vida com uma gargalhada...