A um cravo achado no chão (soneto)

Criou-te a natureza tão mimoso,

Tão fragante, gentil e rubicundo,

Que outro melhor não vegetou no mundo,

Nem tão lindo talvez, nem tão cheiroso.

E como houve malvado despiedoso,

Que o tesouro de Flora pudibundo

Lança sem pejo em um lugar imundo,

Qual se ele fora gérmen venenoso?!

Vem, ó cravo infeliz, vem a meu peito;

Nele acharás humor, que te conforte,

Ninho de amor, sacrário de respeito.

Consola-te, que essa indigna sorte

Muita alma nobre e coração bem feito

Sofre no mundo, até que venha a morte.