Saudação e homenagem

A SS. MM. o Imperador e a Imperatriz do Brasil,

por ocasião de sua visita a Ouro Preto em 1881

Quando no horizonte o sol espalha

Sobre a face da terra a luz do dia,

Ninguém o admira, todos o conhecem;

Mas, se eclipsado acaso se perturba,

Nesse instante infeliz todos se assustam,

Todos o observam, todos o receiam.

Logo, se premiei sempre a virtude,

Se os vícios castiguei, nada mereco.

(D. Pedro II)

Tu és, ó Pedro, deste império novo

O primeiro Monarca verdadeiro;

Teu pai criou-o, e foi dele o primeiro,

Mas tu és o patrício de teu povo.

(João Joaquim da Silva Guimarães)

Saudação

À Sua Majestade o Sr. D. Pedro II

Salve, Senhor! as auras do Itamonte

Alegres te saúdam;

As tristes névoas da rugosa fronte

Em galas de prazer hoje se mudam.

A velha Vila Rica de contente

No pétreo leito jubilosa treme,

E um hino puro, de lisonja estreme,

Te envia d'alma, ó Hóspede Eminente.

De Ouro Preto as portas vos esperam

De par em par abertas,

Mil corações e frontes descobertas

Te cortejam, Senhor, e te veneram;

Bem pouco vos ofertam,

Mas nesse pouco vai penhor seguro,

De que em seu peito generoso e puro

Em fraternal amplexo eles te apertam.

Não achareis aqui pompas custosas,

Palácios seculares,

Em que as belas artes engenhosas

Alardeiam prodígios aos milhares;

Nem vos abrigarão a fronte augusta

Soberbos coruchéus

De arquitetura esplêndida e venusta,

A majestosa grimpa erguendo aos céus.

Não pisarás marmóreos pavimentos

De régio peristilo,

Entre arcadas de antigos monumentos

De grandioso estilo,

Nem parques recortados

De aléias e jardins maravilhosos,

Entre vergéis e lagos encantados,

De altos gênios produtos engenhosos.

Encontrarás porém franca hospedagem,

Sincera e jubilosa,

Não de servil, ignóbil vassalagem,

Mas sim pura homenagem,

Que ao Rei humano, sábio e justiceiro

Hoje rende o fiel povo mineiro.

Entra, ó Senhor! os festivais rumores

Deste bom povo alegre, vos circundam,

Luzes, perfumes, harmonia e flores

Em honra tua o ambiente inundam.

Na vetusta cidade, oh! sê bem-vindo,

Magnânimo Imperante!

Esta singela voz, que estás ouvindo,

Tão fraca e vacilante,

Das vozes deste povo agradecido

É apenas um eco amortecido.

Bem como astro de luz serena e pura,

Em bonançoso, límpido horizonte,

O régio diadema assim fulgura

Em tua augusta fronte.

A fronte tu já ergues circundada

De louros incruentos,

Mais belos que os troféus sanguinolentos,

Que imortalizam os heróis da espada,

Pois não há para um rei glória nenhuma,

Melhor que a glória de um Licurgo ou Numa.

O teu presente, como o teu passado

Vão cobertos de glória;

Sempre será teu nome abençoado

Nos futuros anais da pátria história.

Saudação

À Sua Majestade a Imperatriz do Brasil, por ocasião

de sua visita à capital da província de Minas Gerais

Eia, ó musa!... de tua humilde lira

Vibra as sonoras cordas,

E hoje em cantos festivais respira

O afeto, em que transbordas,

Aos pés do sólio augusto de Teresa,

A pia, a boa, a ínclita Princesa.

Imagem da virtude

Sobre um trono sentada ela fulgura;

Estrela de bonança em noite pura

Tem sereno fulgor, que não ilude,

Auréola mais bela e resplendente,

Que a régia c'roa, que lhe cinge a frente.

Sua alma é um tesouro de nobreza,

Um ninho de bondade,

Seu coração refúgio de pureza,

Sacrário da piedade.

Saúda, ó musa, um dia tão feliz;

Flores derrama aos pés da Imperatriz.

Aceitai, ó Senhora, esta homenagem,

Que o bom povo mineiro

A tão augusta, amável Personagem

Oferta prazenteiro,

Não de lisonja, mas sincero preito,

Que nos irrompe do íntimo do peito.

Nós vos saudamos com singelas frases,

Despidas de artifício,

Como a ave, que em cânticos fugazes,

Saúda o astro propício,

Que traz aos corações paz e alegria,

E enche a terra de luz e de harmonia.

Não achareis aqui, como na Itália,

Os belos horizontes de ouro e rosa,

E nem vergéis, como da selva idália,

Aqui podem trazer-vos à memória

De Nápoles formosa

Doces recordações, famosa história.

Nem tão pouco painéis maravilhosos

De arte antiga e pura,

Estátuas, nem palácios majestosos

De vasta arquitetura,

Vos acolhem aqui, qual mereceis,

Nobre progênie de preclaros reis.

Mas vós sois Brasileira, e a obscura terra,

Que agora visitais,

À virtude, que vosso peito encerra,

Oferta como fortes pedestais

Firmes dedicações

De livres e sinceros corações.

Tendes ao lado no brasílio sólio

Magnânimo Monarca,

Da nação venerando Patriarca,

Que um firme capitólio

De amor, de lealdade e de respeito

Há muito tem, erguido em nosso peito.

Aqui tendes por vós um vasto império,

E um povo generoso,

Que os frutos deste esplêndido hemisfério

Vos oferta espontâneo e jubiloso,

Um povo, que se ufana

Em ter por mãe tão boa Soberana.

Em hora venturosa

Do Itamonte pousastes entre as fragas;

Dia feliz vos trouxe a estas plagas,

Princesa virtuosa!...

Sendas floridas, luz serena e clara

Vos conduzam de novo à Guanabara.