Sunt lacrimæ rerum

Estas, que ides ouvir, canções singelas,

Foram de uma alma cândida exaladas,

Que muito soube amar,

E que da vida as horas apressadas

Todas gastou em render culto às belas,

Sem nunca se cansar.

Seu terno coração já des do berço

Cismava só de amores,

E nos mais verdes anos já provava

Das paixões o prazer e os amargores.

Pobre homem! - gozou e sofreu muito,

Colheu muita lição;

Mas nunca pôde encher o vácuo imenso

De seu insaciável coração:

E ama ainda, o triste! - inda acredita,

Que sem amor no mundo não há dita !..

E agora, enquanto vão seus dias pálidos

Para o ocaso da vida descambando.

Evocando lembranças de outros tempos

Vai amores passados ruminando;

Bem como quem, ao coração cingindo,

Um ramalhete de mirradas flores,

Co pranto da saudade avivar tenta

O aroma e o viço das perdidas cores.

Não penseis que sou eu; - há muito tempo,

Lá bem longe... das brenhas na espessura,

Deixei perdida a lira dos amores,

Que por vezes a mão da formosura

Engrinaldava de silvestres flores.

Lá bem longe, - no seio das florestas,

Um dia eu esqueci-a pendurada

No tronco de frondosa copaíba,

Pelas auras da tarde balouçada

Em solitária riba;

Depois de ter cantado longamente

Meus últimos amores,

E de mesclar de minha amada o nome

Do dia extinto aos últimos rumores.

Da noite o furacão impetuoso

Rugindo nos espaços

Arrojou-a no abismo tenebroso

Desfeita em mil pedaços.