Flor sem nome

Ela nasceu no ermo em um rochedo

Sobre a fauce do abismo pendurado.

A flor sem nome, alardeando o viço

E a linda cor do cálix orvalhado.

O sol, quando surgiu, veio afagá-la

Com todo o amor dos brandos raios seus;

Mas ao deixar o céu em vão buscou-a

Para dizer-lhe adeus.

Tépidos beijos lhe imprimiu no seio

A brisa da manhã,

Voltou logo depois; passou gemendo,

Pois não viu mais no vale a flor louçã.

O colibri no seu mimoso cálix

Esvoaçando doce humor libou;

Veio depois inda outra vez beijá-la,

Não a viu mais, e triste se afastou.

Etérea flor no lodo vil do mundo

Jamais teve raiz,

E nem o pó da terra enxovalhou-lhe

O virginal matiz.

A perfumada viração da aurora

Em sossegado adejo

Embalou-a no límpido ambiente

Com brando rumorejo.

E ela agitando as pétalas mimosas

Ao sopro afagador da mansa aragem,

Sorrindo para o céu não viu do abismo

A tétrica voragem.

E todos, os que a viram, de encantados

- Que linda flor! clamaram;

Mas ninguém a colheu; nas mansas asas

As virações celestes a levaram.

Alma tenra e gentil, assim te foste

Levando intacto da inocência o véu;

Brisa fagueira te levou nas asas

Para os jardins do céu.

Eras de um mundo mais feliz que o nosso;

Vicejar sobre a terra não pudeste;

E com os anjos, teus irmãos, te foste

Para a mansão celeste.

E belo assim murchar inda na aurora,

Sem crestar-se do sol ao vivo ardor,

E uma alma imaculada como o lírio

Nas mãos de Deus depor.