Novas Poesias (1876)

Texto dos editores do livro

O nome do poeta, cujas novas produções hoje damos ao público, é tão conhecido por todos aqueles, que dão culto às letras pátrias, sua reputação se acha tão bem firmada, seus escritos são sempre tão aplaudidos e festejados, que, publicando esta nova coleção de poesias suas, nos julgamos dispensados de recomendá-las ao público.

Todavia nos é grato reproduzir aqui algumas das apreciações, com que a imprensa tem acolhido as diversas produções do insigne poeta e romancista mineiro.

Dando notícia do aparecimento do Índio Afonso, que foi editado juntamente com uma peça de versos intitulada - Canto elegíaco à morte de Gonçalves Dias, a "Reforma" exprime-se nos seguintes termos:

"Se há um romancista e poeta que seja apreciado pelos seus contemporâneos com a mais justa razão, é sem dúvida alguma o autor do Seminarista e de Jupira; o público disputa ansioso os volumes que de vez em quando nos dá o poeta mineiro.

"Bernardo Guimarães é uma das individualidades mais poderosas que possui presentemente a literatura nacional: quase todos os seus romances passam-se nas nossas províncias interiores; são as belezas das matas, a grandeza dos rios, o esplendor e a magnificência da natureza, as virtudes das senhoras brasileiras, os hábitos simples e honestos dos nossos roceiros, a vida silvestre no Brasil, que escolhe sempre para assunto de seus romances.

"Não há o menor artifício no que nos conta Bernardo Guimarães, tudo neste belo talento é original; até o estilo é especial. Não se prende sempre às regras da gramática e despreza muitas vezes os preceitos de Quintiliano; cuida mais do fundo que da forma, mas apesar disso tem realce o vulto literário, que acaba de mimosear as letras pátrias com um romance que não é desconhecido dos leitores da "Reforma".

"As poesias de Bernardo Guimarães respiram um tal perfume, têm tanta beleza, tanta imagem pomposa, um tal entusiasmo por tudo quanto fala ao coração, e o bom gosto artístico, a harmonia a mais perfeita dominando constantemente a rima, suavidade e melodia as mais agradáveis, soando sempre aos ouvidos, que dão aos versos do bardo mineiro um cunho e relevo tais, que com certeza o elevam à altura maior a que jamais tenha atingido poeta algum nacional.

"À "Reforma" coube a satisfação de apresentar ao público as Heróides, onde se contam as façanhas dos bravos que em defesa da honra nacional imortalizaram o nome brasileiro na terra inóspita do feroz Guarani. Os feitos legendários de Andrade Neves, Osório, Mena Barreto, só podiam ser cantados por uma lira heróica como a de Bernardo Guimarães. Quem não se recorda daquela Ode dedicada à memória do imortal autor dos Timbiras, para cuja sepultura houve uma câmara de deputados que recusou os meios de comprar uma singela lousa? Foi isto que indignou o bardo, que em versos tão belos como melhores não os fez Garrett, contou aos seus contemporâneos aquele procedimento indecente, bem como o fim desastroso do maior poeta brasileiro.

"Realmente hoje só Bernardo Guimarães poderia substituir o vácuo que nas letras pátrias deixou o cantor das "palmeiras e do sabiá".

"Os dous poetas têm muitos pontos de contacto: ambos grandes pelo gênio que os inspira, admiradores fanáticos das magnificências da terra em que nasceram, infelizes por não terem na pátria a importância a que têm direito pelo seu talento, um vive do mesquinho ordenado de professor de um liceu em uma pequena cidade, o outro morreu ao avistar o verde das costas brasileiras em um imundo navio de vela, sem nenhum dos carinhos a que tinha direito."

Tratando da mesma publicação uma elegante pena escrevia no "Monarquista" da cidade da Campanha o seguinte:

"Se o Índio Afonso nos deleita, o canto à morte de Gonçalves Dias nos enleva e arrebata. E a diferença que vai do agradável ao sublime. O "Canto elegíaco à morte de Gonçalves Dias" é sublime.

"O romance é ótimo, bom ou menos mau, mas não há poesia medíocre. A poesia ou é sublime ou detestável. Quando Homero deixa de ser sublime, é rasteiro, descorado e sonolento.

Quandoque bonus dormitat Homerus. Hesíodo, o autor do poema "Os trabalhos e os dias" que não é poema senão no título, e que pertence ao gênero de escrever medíocre, Hesíodo é um escritor estimável, porque sua obra não é propriamente poesia.

'Datur ei palma in medio dicendi genere - diz dele Quintiliano.

"Camões é grande quando inspirado por Adamastor, belo inspirado por Inês de Castro, mas quase sempre no seu itenerário, se não dorme, faz dormir.

"O Sr. B. Guimarães é sempre poeta, seus versos sempre poesia. Como todas as obras do autor, o canto elegíaco respira clareza e melodia, e não se ressente desse esforço e obscuridade tão comuns naqueles que, sem gênio, não se contêm in medio dicendi genere. - Tudo neste canto é corrente e suave, todos o entendem e a todos, comove.

"Reunir a sublimidade à simplicidade e à clareza só é dado ao gênio poético. Nem se diga - Poetas por poetas sejam lidos.

"As almas sensíveis são poetisas por natureza. A poesia está por toda parte, no canto das aves, nas ervas do campo, nas estrelas do céu e em todos os corações.

"O coração do homem é uma lira, mas poucos sabem fazer vibrar as cordas do coração. Poeta é aquele que comove a todos, e Orfeu comovia as próprias pedras.

"E difícil fazer versos claros e belos e os maus poetas escondem sempre sua fraqueza na obscuridade de frases nebulosas.

"Observa Marmontel que os mais belos versos parecem a quem os lê a cousa mais fácil do mundo e entretanto ninguém os faz semelhantes. Parecem fáceis porque calam em nossos espíritos e como que os fazemos nossos e os reproduzimos.

"O povo de Atenas entendia e aplaudia Demóstenes, e Cícero abalava a plebe romana com a força de sua eloqúência.

"E à vista disto poder-se-á dizer - Oradores por oradores sejam ouvidos?

"O Sr. B. Guimarães é singelo como Gonzaga, mas sua frase é mais rica e mais lírica. No canto elegiaco, à poesia de pensamento se reúne a poesia de linguagem.

"Gonçalves Dias vítima de uma enfermidade incurável,

Cruel doença as fontes lhe secava

da débil existência.

"Volta a seu país sem esperança de vida a

Ver a pátria, e morrer beijando a terra,

Que os ossos de seus pais no seio encerra.

"Ao chegar ao Maranhão, ao avistar seu país natal, o navio em que vinha Gonçalves Dias naufraga.

"A pintura deste naufrágio é magnífica, e as imagens se encontram por toda parte, como por exemplo - Mortalha de alva espuma.

"'Só se aprecia esta poesia lendo-a. Mas há aí versos tão naturais, tão felizes, que não se cansa de lê-los, como estes:

Mas ah! se não me é dado ver-te mais,

Nem mais ouvir teu canto;

Se mais não podes escutar meus ais,

Nem enxugar meu pranto.

Ah! se já sobre a terra está marcado

O termo de teu giro,

Vem ao menos soltar, ó filho amado,

No seio meu teu último suspiro.

"Uma reflexão última. B. Guimarães não partilha a sorte dos literatos de nossa terra. Ele é o poeta dos estudantes de S. Paulo, e dos que foram estudantes. Sem estes, suas poesias nem seriam impressas.

"B. Guimarães não é poeta dos salões. Sua lira não lhe tem valido nem honras, nem riquezas, e nem consta que os altos protetores das letras se tenham dignado baixar sobre ele seus olhos.

"Alguma nomeada ele a deve ao entusiasmo dos estudantes e à proteção do Sr. Garnier. O Maranhão se orgulha de possuir Gonçalves Dias, e a província de Minas deixa no olvido um seu poeta, a quem a posteridade há de fazer justiça."

A respeito das Heróides que publicou em folhetim, exprime-se a já citada "Reforma" pela seguinte maneira:

"Bernardo Guimarães, o ilustre poeta dos Cantos da solidão, começa a publicar hoje em nossas colunas uma série de inspirados cânticos sob o título de Heróides brasileiras. Os bravos guerreiros que se imortalizaram no Paraguai vão ter um cantor digno de seus esforços marciais e patrióticos.

"Os versos de Bernardo Guímarães são sempre sublimes, quer o Poeta cante na lira dos amores, quer empunhe a tuba sonora e belicosa.

"Os leitores da "Reforma" apreciarão devidamente este e os outros trabalhos do insigne poeta mineiro, e farão justiça aos esforços que empregamos para dar a maior importância ao órgão democrático."