Se eu de ti me esquecer

Se eu de ti me esquecer, nem mais um riso

Possam meus tristes lábios desprender;

Para sempre abandone-me a esperança,

Se eu de ti me esquecer.

Neguem-me auras o ar, neguem-me os bosques

Sombra amiga, em que possa adormecer,

Não tenham para mim murmúrio as águas,

Se eu de ti me esquecer.

Em minhas mãos em áspide se mude

No mesmo instante a flor, que eu for colher;

Em fel a fonte, a que chegar meus lábios,

Se eu de ti me esquecer.

Em meu peregrinar jamais encontre

Pobre albergue, onde possa me acolher;

De plaga em plaga, foragido vague,

Se eu de ti me esquecer.

Qual sombra de precito entre os viventes

Passe os míseros dias a gemer,

E em meus martírios me escarneça o mundo,

Se eu de ti me esquecer.

Se eu de ti me esquecer, nem uma lágrima

Caia sobre o sepulcro, em que eu jazer;

Por todos esquecido viva e morra,

Se eu de ti me esquecer.

Alphonsus de Guimaraens Filho, biógrafo e sobrinho-neto do autor,

afirma que "Se eu de ti me esquecer" é um poema característico do

movimento romântico no Brasil. No tempo de BG, o poema foi muito

popular. Em Minas, foi musicado e cantado.