Uma lágrima

À memória do Dr. Francisco Carlos de Magalhões

[Poesia escrita no álbum da Exma. Sra. D. Ambrosinha Augusta de Magalhães]

Escusai-me, senhora, se entre as flores Ledas, formosas, que este livro enfeitam De gala festival, Minhas tremulas mãos apenas deitam Um goivo sepulcral.

Perdão, se vou aos risos da ventura Entre as rosas do amor com triste canto Entremear abrolhos, Provocando talvez amargo pranto Em vossos lindos olhos.

Hoje triste lembrança me convida A entretecer um ramo cipreste Nas páginas mimosas Onde se ostentam com fulgor celeste Anemones e rosas.

Mas... que tem isso?... lá onde viceja A flor do riso e da felicidade, Que zéfiro bafeja, Também vegeta a lívida saudade, Que lágrimas goteja.

Uma saudade!... eis o que diz meu canto. Uma saudade!... é esta a flor sagrada, Que em vosso jardim planto, E que sempre será por vós regada De amargurado pranto.

Aceitai pois esse piedoso emblema, De angústia e dor imagem merencória, Voto de um coração, Dentro do qual existe ainda a memória De vosso extinto irmão.

Era um belo mancebo, uma alma pura; Na fronte juvenil lhe refulgia O louro da ciência, Que entre labores conquistado havia À luz da inteligência.

Em plena primavera ao desalento Curvou a fronte pálida, e deitou-se Dormindo o eterno sono; Débil planta, que à luz do sol mirrou-se Sem esperar o outono.

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Se tão triste lembrança vos magoa, Ao vate perdoai, que também chora O pranto, que chorais, E a lágrima, que aqui deponho agora, Levai a vossos pais.

Ouro Preto, julho de 1881