Estrofes (À Brigada de 1864)

[Dedicados à brigada mineira que partiu de Ouro Preto

em 1864 sob o comando do brigadeiro Galvão]

Mineiros, um feroz aventureiro,

Que o inferno vomitou,

Do belo território brasileiro,

Transpor a raia ousou,

Tingindo em sangue, e sepultando em ruínas

Nossas viçosas, plácidas campinas.

Do alto Paraguai nas ermas bordas

Um régulo insensato

Envia a esmo esfarrapadas hordas

De povo rude e ingrato,

Que não combate não, mas assassina.

E por divisa tem Carnificina. -

Por lá dos irmãos nossos indefesos

O sangue corre em jorro;

Eia!... cumpre-nos já em ira acesos

Voar em seu socorro;

De tamanha traição, tanta matança,

Tomar inteira, aspérrima vingança.

A pátria aflita vosso esforço implora,

Valentes lidadores

Eia, corramos !... vamos sem demora

Livrá-la dos horrores,

Com que o assassinato, o roubo, o crime

Nas fronteiras do Sul o império oprime,

E não é só a pátria; a humanidade,

A terra, o céu reclama

Vingança contra tanta iniqüidade,

E em grito se derrama

Por toda parte - Guerra aos vis piratas!

Guerra às coortes bárbaras, e ingratas!

Ide, heróicas, intrépidas falanges,

Colher da glória os louros,

E ao lampejo dos rábidos alfanjes,

Ao silvo dos pelouros

As sanguinosas garras arrancai

Ao tredo canguçu do Paraguai.

Sejam muitos embora; são cativos

De um déspota sanhudo;

Pra vós, de um livre império heróis altivos

A liberdade é tudo.

De entre vós um punhado só de bravos

Pode vencer coortes mil de escravos.

Sobre o leão dormido o tigre astuto

O bote preparava,

E no nobre animal o altivo bruto

Sanguentas unhas crava.

Mas o leão acorda, e ao seu rugido

O vil recua de pavor transido.

O Brasil acordou, que à guerra o chama

O tigre paraguaio,

E o brado seu ao longe se derrama

Troando como o raio.

Um eco só desd'o Oiapoque ao Prata

Responde -- Guerra!... guerra ao vil pirata!

Que exemplos de heroismo não vais dando,

Terra de Santa Cruz!

Ali a mãe o filho abençoando

Entrega-lhe o arcabuz,

E diz-lhe: - Vai, onde o dever te chama.

Que o braço teu a mãe comum reclama.

O esposo amante arranca-se dos braços

Da nova linda esposa,

Que sequiosa de seguir-lhe os passos

Dizer adeus não ousa.

E partilhar querendo o seu destino

No berço deixa o filho pequenino.

Além honrado velho valoroso

A longa idade esquece,

E o sangue seu oferta generoso

À pátria, que padece.

Aqui imberbe moço impaciente

Ser homem já deseja impaciente.

Além um pai os filhos arrebanha

Para a cruzada honrosa,

De três irmãs ao campo os acompanha

Falange gloriosa,

A compartir perigos e fadigas

Em frente das coortes inimigas.

Ei-lo!.. o garboso pavilhão querido

De nossa independência,

Contra o qual mil afrontas tem cuspido

A estúpida insolência

Do mísero caudilho desalmado

Que à humanidade e a Deus tem ultrajado.

Ide, correi!... em seu negro covil

Os tigres rechassai,

E a flâmula auriverde do Brasil

Nos muros lhe hasteai,

Ide, correi!... caí bem como o raio

Sobre o vil, e insolente paraguaio.

Depois voltai trazendo em vossa fronte

Os louros da vitória,

E contareis às filhas do Itamonte

A gloriosa história

Dos renhidos combates, que tivestes,

Das heróicas proezas, que fizestes.

No Panteon da glória fulgurando

Um nome então tereis,

E a terna esposa e os filhos abraçando

Por fim encontrareis

Nos lares vossos paz e liberdade,

E por todo o Brasil prosperidade.