A fugitiva

Eu tenho n'alma um desejo,

Que eu almejo

Linda virgem, revelar-te;

Mas devo guardar segredo;

Tenho medo,

Muito medo de enfadar-te.

Murcha a tenra sensitiva,

Sempre esquiva

Ao toque de minha mão.

Tenho medo, ó virgem bela,

Que, como ela,

Me feches teu coração.

Como a rolinha amorosa,

Que medrosa,

Estremece de pavor,

E logo de susto voa,

Se ressoa

No bosque um leve rumor:

Assim tu, virgem formosa,

Pressurosa.

Assim costumas fugir;

Se este amor, em que deliro,

Um suspiro

Indiscreto vem trair.

Vê, como o lírio singelo,

Puro e belo,

Desabrocha em teu jardim!

Foi criada para amor

Essa flor,

Essa flor tão linda assim.

Se junto dela desliza

Doce brisa,

Toda de amor estremece;

E fagueira e sem queixume

O perfume

De seu cálix lhe oferece.

Se do amor que me consome,

Nem o nome

Tu me queres escutar,

Ensine-te ela o segredo,

Que eu de medo

Mal te posso murmurar.

Mas no véu encantador

Do pudor

Em vão procuras abrigo;

Em qualquer parte que fores,

Os amores

Hão de sempre andar contigo.

Rio de Janeiro, 1860.