Poesia

Feita por ocasião do 14º aniversário da

Ex.ma Sra D. Luísa Augusta Amaral da Veiga

Oh! se imitar eu pudesse

Esses arpejos suaves,

Com que as sonoras aves

Festejam nos céus a aurora;

Se eu soubesse o brando arrulho,

Com que a rola no vergel

A seu amante fiel

Entre as sombras enamora;

Se na lira possuísse

O queixoso som da vaga,

Quando mansa a praia afaga

Em noite de alvo luar;

Se o sonoro sabiá

Me ensinasse a canção meiga,

Com que à tarde pela veiga

Sabe os ecos encantar;

Se eu na voz tivesse o encanto

Da viração amorosa,

Quando em torno à flor mimosa

Sussurra com voz macia;

Se eu tivesse a harpa dos anjos,

Que pelos átrios divinos,

Entoam celestes hinos

De inefável harmonia;

Somente assim pudera hoje entoar-te

Um hino sonoroso,

Para saudar de teus crescentes anos

O dia venturoso.

Flor ainda imatura, o puro seio

Agora abres apenas.

Oh! que idade gentil! - os teus caminhos

Vão juncados de rosas e açucenas.

Para ti o passado é sonho vago,

O futuro um sorriso;

E para ti a vida - um puro encanto,

O mundo - um paraíso.

Hoje te adorna a fronte radiante

Mais uma primavera,

Que em teu lindo semblante

Mais um primor, mais uma graça gera.

Transpões agora essa estação risonha

Da aurora da existência,

Na qual a mente só mistérios sonha

De plácida inocência.

Volves mais uma página de ouro

Do teu casto viver no livro santo;

Nasce-te n'alma mais um novo encanto,

E das graças completa-se o tesouro.

Resplende agora em toda louçania,

Envolta em véus de cândida pureza,

Em tua fronte a flor da gentileza,

Que de novos encantos se atavia.

Rosa gentil, que as pétalas tão puras

Hoje alardeias por jardins amenos

Anjos do céu bafejam só venturas

Em teus dias serenos,

E da vida arredando-te os espinhos.

Só de flores alastrem teus caminhos.

Possa esta aurora, que do céus à terra

Nos trouxe um anjo puro,

Sempre raiar propícia e luminosa

Nos campos do futuro.

Ouro Preto, novembro de 1870.