Reminiscências do Elixir do Pajé

do blog Micuim, em março de 2007

Depois da série de trocadalhos do Fernando, acabei estimulado a publicar estas lembranças, vindas à tona como efeito de uma matéria do Almanaque da TAMdeste mês, a propósito do Dia Mundial da Poesia. O texto versa sobre um nosso coestaduano, o poeta ouropretano Bernardo Guimarães.

A matéria fez-me lembrar um período compreendido entre meus doze e treze anos de idade, quando um de seus poemas, O Elixir do Pajé, juntamente com os chamados “catecismos”, de Carlos Zéfiro, e com alguma revista sueca ensebada (naturalmente, alugada de algum colega mais velho, por todo o dinheiro da semana para o lanche no colégio) eram todo o nosso “kit de educação sexual”, à época. Sem mais delongas, vamos ao artigo, que cuidei de linkar com os poemas citados.

”Em 15 de agosto de 1825, Ouro Preto ganha um ilustre poeta do Romantismo: nasce Bernardo Guimarães, autor do propalado romance A Escrava Isaura. Enquanto seus colegas Castro Alves e Álvares de Azevedo escrevem obras sentimentais e emotivas, como Espumas Flutuantes e Lira dos Vinte Anos, Bernardo segue outro rumo. Usa a rica oratória em uma poesia irreverente: o bestialógico. Eram poemas bem metrificados e precisos, mas que formavam versos desconexos, de sentido confuso. Com apurado humor, era capaz de rimar, em um poema supostamente de amor, escada com marmelada. Em outro, faz uma ode ao charuto.

Preterido pela crítica, o “bestialogista-mor” recebeu apenas recentemente um exame mais detalhado. Pérolas como A Orgia dos Duendes e o inusitadoParecer da Comissão de Estatística a Respeito da Freguesia de Madre-de-Deus-do-Angu ficaram bom tempo na gaveta, esquecidos.

Enquanto Gonçalves Dias saudava os índios em O Canto do Guerreiro, Guimarães ironizava com os pornográficos O Elixir do Pajé e A Origem do Mênstruo, que circulam clandestinos em 1875.

Até José Bonifácio, o Patriarca da Independência, experimentou um pouco do seu tempero, arriscando sua verve bestialógica em O Barão e Seu Cavalo. Mas Bernardo é inconteste. Seus poemas se espalham na boca do povo. Segundo o jornalista Artur Azevedo, sobre O Elixir do Pajé, mesmo sem ter sido impresso na época, “é raro o mineiro que o não saiba de cor”. (DG)