Alphonsus de Guimaraens (1870-1921), sobrinho-neto

O olhar do poeta

(Aos meus primos)

Ele era bom eu sei! O seu olhar sereno,

Tão cheio de luar divino da esperança,

Era um raio de luz no lodaçal terreno

Temente como a fé, agudo como a lança!

Era um misto infantil de força e de doçura:

-- A força do condor e o riso do poeta!

Fulgores geniais, repletos de candura,

E os ímpetos febris, ligeiros como a seta!

E era o seu olhar a seta luminosa

Que irradiava a luz dos grandes corações...

A seta qie cortava o azul, impetuosa,

Formada, como o sol, de límpidos clarões.

Tal era o seu olhar -- o ninho da utopia,

O mar das ilusões e o céu da fantasia...

Tal era meigo o olhar do divinal poeta

-- A gruta dos leões, a estrela só de brilhos

Tocando do ideal a fantasiosa meta!

Inda o vejo brilhar na fronte de seus filhos

Numa radiação de doce amor repleta!