Disparates rimados

Quando as fadas do ostracismo,

Embrulhadas num lençol,

Cantavam em si bemol

As trovas do paroxismo,

Veio dos fundos do abismo

Um fantasma de alabastro

E arvorou no grande mastro

Quatro panos de toicinho,

Que encontrara no caminho

Da casa do João de Castro.

Nas janelas do destino,

Quatro meninos de rabo

Num só dia deram cabo

Das costelas de um Supino.

Por tamanho desatino,

Mandou o Rei dos Amores

Que se tocassem tambores

No alto dos chaminés

E ninguém pusesse os pés

Lá dentro dos bastidores.

Mas este caso nefando

Teve a sua nobre origem

Em uma fatal vertigem

Do famoso Conde Orlando.

Por isso, de vez em quando,

Ao sopro do vento sul,

Vem surgindo de um paul

O gentil Dalailama,

Atraído pela fama

De uma filha de Irminsul.

Corre também a notícia

Que o Rei Mouro, desta feita,

Vai fazer grande colheita

De matéria vitalícia.

Seja-lhe a sorte propícia,

É o que mais lhe desejo.

Portanto, sem grande pejo,

Pelo tope das montanhas,

Andam de noite as aranhas

Comendo cascas de queijo.

O queijo, dizem os sábios, -

É um grande epifonema,

Que veio servir de tema

De famosos alfarrábios.

Dá três pontos nos teus lábios,

Se vires, lá no horizonte,

Carrancudo mastodonte,

Na ponta de uma navalha,

Vender cigarros de palha,

Molhados na água da fonte...

Há opiniões diversas

Sobre dores de barriga:

Dizem uns que são lombrigas;

Outros - que vêm de conversas.

Porém as línguas perversas

Nelas vêm grande sintoma

De um bisneto de Mafoma,

Que, sem meias, nem chinelas,

Sem saltar pelas janelas,

Num só dia foi a Roma.