Soneto

Improvisado depois de uma representação da tragédia de Inês de Castro -- por Ferreira*

Se nas vanglórias deste mundo penso,

Da bela Inês me exempla o triste fado,

E o coração sensível, magoado,

Só de o pensar, suporta um peso imenso.

Se na história vou ler o caso intenso,

Se no grã vate o encontro retratado,

Então de seus suspiros penetrado,

Com os meus a seus manes recompenso.

Porém, se vejo ao vivo sobre a cena

O fero amante, o forte Afonso triste...

Inês já morta!! em pranto o que a condena,

Em fúria Pedro, que em vingança insiste...

De susto, de pesar, de amor, de pena,

Às lágrimas minha alma não resiste.

Informa João Joaquim da Silva Guimarães, em subtítulo, que este soneto foi improvisado por ele depois de assistir à representação da tragédia "Inês de Castro", de Ferreira. Ferreira: o poeta português Antônio Ferreira (1528-1569), de quem escreveu, a propósito da tragédia "Castro", Fidelino de Figueiredo: "Antônio Ferreira é que nos legou a única tragédia quinhentista portuguesa, completa e original" (Fidelino de Figueiredo, História Literária de Portugal (sécs. XII-XX), Editorial Nobel, pág. 120).