Rúbio Gama Alves, bisneto

Vou evocar Bernardo Guimarães por intermédio de seu filho Bernardo, que na família era e é conhecido como Didico (foto abaixo, do lado direito). Ele herdou do pai o espírito boêmio, a personalidade introvertida e o senso de humor. Eu era bem jovem quando convivi com Didico. Ele foi meu professor de Latim no início dos anos 40, em Belo Horizonte — mais contava casos do que dava aulas. Acima de tudo, era um grande amigo.

Sua introversão e timidez eram tantas que, acredito, sua única visita social foi viajar até Perdões, para ver os sobrinhos que à época (fim dos anos 40) lá viviam: meus pais, Fábio e Ruth, e eu.

Minha mãe era professora na escola estadual de Perdões. Era 22 de setembro, véspera do Dia da Árvore.

Mamãe pediu a Didico que escrevesse, para as crianças, algo sobre a importância das árvores, e que lesse esse texto aos alunos porque iria ser homenageado por eles.

Didico não discutiu. Sentou-se à mesa e pôs-se a escrever. No dia seguinte, quando acordamos, percebemos que Didico havia saído à francesa. Sobre a mesa, deixou os versos Na Festa da Árvore, dispensando porém a homenagem.

Os versos foram lidos por minha mãe para os alunos. O recado deixado por Didico é que não:

— Em comemoração ao Dia da Árvore, que todas as professoras plantem bananeiras... Mas que venham de casa prevenidas!

Esse humor, ele o cultivou até o fim da vida. Rui acompanhente de Didico no hospital nos seus últimos dias, em 1956, Antes de morrer, disse-me em tom de pilhéria:

— Rúbio, há três coisas que eu não quero: ser defunto barbudo, receber um padre e ver mulher chorando ao meu lado.

Os dois primeiros pedidos foram atendidos.

São Paulo, 18 de abril de 1998