A Ilha Maldita (1879)

O que diz o crítico

Basílio de Magalhães

Romance tem inspiradas poesias

Enfeixados em um só volume, publicado em 1879, o romance "A Ilha Maldita" e o conto "O Pão de Ouro" não foram reeditados, donde infiro que a Casa Garnier averiguou não haver tido tal livro de Bernardo

Guimarães a mesma carinhosa procura dos outros.

Digam o que quiserem os críticos -- o povo é sempre o melhor juiz das obras de arte, literárias, plásticas e sônicas.

Causou-me estranheza o julgamento proferido por Dilermando Cruz elevando ao sétimo céu aquelas duas produções do escritor mineiro, porque, a meu ver, se têm a forma um pouco mais cuidada, se ressentem de ostensiva inaturalidade. Nem ao menos se descobre nelas uma idéia simbólica, que as salve de tão grave coima.

No primeiro, "A Ilha Maldita", não se compreende como é que Regina, uma jovem de músculos por natureza franzinos, pudesse vencer a remos vagalhões e obstáculos que foram insuperáveis a hábeis e valentes pescadores, e ainda menos se justifica tardassem tanto a conhecê-la e a apaixonar-se por ela os três irmãos Rodrigo, Ricardo e Roberto, numa pequena aldeia litorânea, da qual era ela a moça mais formosa, a beleza fatal, que arrastava todos os rapazes ao amor mais desatinado, cujo fim era a fuga ou o suicídio. Inexplicável é também casasse Regina, tão desambiciosa quanto resistente a outros mais nobres e sólidos afetos, com um aventureiro opulento, ali fortuitamente aparecido. A morte violenta deste pelos três filhos do fidalgo português e a vingança trágica, de que foi autora a viúva-virgem, borbulham de tangíveis inverosimilhanças.

Encerra, entretanto, o romance cinco inspiradas poesias, das quais reproduzo aqui a última, que é o canto final da sereia humana, a fatídica Regina.

Nestas praias solitárias,

Que procuras, pescador?

Vens buscar pérola finas

E corais de alto valor?

Se tais tesouros desejas,

Voga além, ó pescador!

Que estrela, por este mares,

Te conduz, ó pescador?

Queres ser nauta valente

E do oceano senhor?

Se tal ambição te ocupa

Passa além, ó pescador!

Os mistérios saber queres

Desta ilha, ó pescador,

E de meu reino os arcanos

Aos olhos do mundo expor?

Se é esse o desejo teu,

Vai-te embora, ó pescador

Mas se perigos insanos

Afrontando sem pavor,

Nesta ilha solitária

Tu vens procurar amor,

A meus braços, sem detença,

Corre, voa, ó pescador