Uma filha do campo
..Filha mimosa De Atlântida formosa. (Garrett)
O que há de mais puro do céu nos fulgores,
O que há de mais meigo num brando luar,
O que há de mais vivo do sol nos ardores,
Compõe seu olhar.
Os pudicos raios de aurora sem nuvens,
Por entre alvas névoas no monte a luzir,
Apenas imitam dos lábios formosos
O meigo sorrir.
As notas mais doces da lira do bardo,
Ou brisa amorosa cantando entre flores,
Não têm a doçura da voz, que me enleva
Qual hino de amores.
O sol destas plagas no rosto esparziu-lhe
De jambo e de rosa mimoso matiz;
E negra a madeixa, que tomba e flutua
Nos ombros gentis.
Não é flor nascida nos parques dos grandes,
Por mãos educada de um hábil cultor,
Em vasos custosos, onde a arte esmerou-se
Com luxo e primor.
E sim flor do campo, modesta e singela,
Que aos beijos da brisa nos ermos nasceu,
E abriu-se risonha, somente regada
Do orvalho do céu.
Quem dera colhê-la na sombra tranqüila,
Onde aura fagueira com beijos a embala,
O cálix beijar-lhe, beber-lhe o perfume,
No seio guardá-la.
Mas ai! peregrino, - não sei onde leva-me
O incerto destino destes dias meus!
E em minha passagem só posso deixar-lhe
Um hino e um adeus.
Araxá, 1855.