Mote estrambótico

mote

Das costelas de Sansão

Fez Ferrabrás em ponteiro,

Só para coser um cueiro

Do filho de Salomão

glosa

Gema embora a humanidade,

Caiam coriscos e raios,

Chovam chouriços e paios

Das asas da tempestade,

- Triunfa sempre a verdade,

Com quatro tochas na mão.

O mesmo Napoleão,

Empunhando um raio aceso,

Suportar não pode o peso

Das costelas de Sansão.

Nos tempos da Moura-Torta,

Viu-se um sapo de espadim,

Que perguntava em latim

A casa da Mosca-Morta.

Andava, de porta em porta,

Dizendo, muito lampeiro,

Que, pra matar um carneiro,

Em vez de pegar no mastro,

Do nariz do Zoroastro

Fez Ferrabrás um ponteiro.

Diz a folha de Marselha

Que a imperatriz da Mourama,

Ao levantar-se da cama,

Tinha quebrado uma orelha,

Ficando manca a parelha.

É isto mui corriqueiro

Numa terra, onde um guerreiro,

Se tem medo de patrulhas,

Gasta trinta-mil agulhas,

Só para coser um cueiro.

Quando Horácio foi à China

Vender sardinhas de Nantes,

Viu trezentos estudantes

Reunidos numa tina.

Mas sua pior mofina,

Que mais causou-lhe aflição,

Foi ver de rojo no chão

Noé virando cambotas

E Moisés calçando as botas

Do filho de Salomão.