A uma estrela

Poesia oferecida a meu amigo

o Sr. A. G. G. V. C.

Salve, estrelta solitária,

Que brilhas sobre esse monte,

Tímida luz maviosa

Derramando no horizonte.

Eu amo teu manso brilho

Quando lânguido se esbate,

Pelos campos cintilando,

De relva em úmido esmalte;

Quando trêmula argenteias

Um lago límpido e quedo,

Quando infiltras meigos raios

Pelas ramas do arvoredo.

Pálida filha da noite,

Sempre és pura e maviosa;

Fulge-te o rosto formoso

Qual branca orvalhada rosa.

Eu amo teu manso brilho,

Que como olhar amoroso,

Vigilante à noite se abre

Sobre o mundo silencioso,

Ou como um beijo de paz,

Que o céu sobre a terra envia,

Na face dela espargindo

Silêncio e melancolia.

Salve, ó flor do etéreo campo,

Astro de meigo palor!

Tu serás, formosa estrela,

O fanal do meu amor.

Neste mundo, que alumias

Com teu pálido clarão,

Existe um anjo adorável

Digno de melhor mansão.

Muitas vezes a verás

Sozinha e triste a pensar,

E seus lânguidos olhares

Com teus raios se cruzar.

Nas faces a natureza

Lhe esparziu leve rubor,

Mas a fronte lisa e calma

Tem dos lírios o palor.

Mais que o ébano brunido

Lhe fulge a madeixa esparsa,

E cos anéis lhe sombreia

O níveo colo de garça.

Nos lábios de carmim vivo,

Rara vez paira um sorriso;

Não pode sorrir na terra,

Quem pertence ao paraíso.

Seus olhos negros, tão puros

Como o teu puro fulgor,

São fontes, onde minh'alma

Vai abrevar-se de amor.

Se a este mundo odioso,

Onde me langue a existência,

Me fosse dado roubar

Aquele anjo de inocência;

E nesses orbes que giram

Pelo espaço luminoso,

Pra nosso amor escolher

Um asilo mais ditoso...

Se eu pudesse a ti voar,

Astro de meigo palor,

E com ela em ti viver

Eterna vida de amor...

Se eu pudesse... Oh! vão desejo,

Que me embebe em mil delírios,

Quando assim de noite cismo

À luz dos celestes círios!

Porém ao menos um voto

Vou fazer-te, ó bela estrela,

À minha súplica atende,

Não é por mim, é por ela;

Tu, que és o astro mais belo

Que gira no azul do céu,

Sê seu horóscopo amigo,

Preside ao destino seu.

Leva-a sobre o mar da vida

Embalada em sonho ameno,

Como um cisne, que desliza

À flor de um lago sereno.

Se diante dos altares

Curvar os joelhos seus,

Dirige-lhe a prece ardente

Direito ao trono de Deus.

Se solitária cismar,

No mais brando raio teu

Manda-lhe um beijo de amor;

E puros sonhos do céu.

Veja sempre no horizonte

Tua luz serena e mansa,

Como um sorriso do céu,

Como um fanal de esperança.

Porém se o anjo celeste

Sua origem deslembrar,

E no lodo vil do mundo

As níveas asas manchar;

Ai! se louca profanando

De um puro amor a lembrança,

Em suas mãos sem piedade

Esmagar minha esperança,

Então, estrela formosa,

Cubra-te o rosto um bulcão

E sepulta-te para empre

Em perpétua escuridão!