Dous anjos
A meu amigo Francisco Lana por ocasião da morte
de suas duas inocentes filhas gêmeas
Nascemos juntas, juntas escutamos
Os maternais gemidos;
Nossa mãe, entre sustos e alegrias
Ouviu nossos vagidos.
Nós eramos dous anjos de inocência
Voando par a par,
Esse mundo de angústias e misérias
Deixando sem pesar.
Tão irmãs como são as duas asas
De um anjo do Senhor,
Ou duas gotas de celeste orvalho
No cálix de uma flor.
Nascemos num só dia; uma após outra
A morte nos levou,
Dous brancos lírios, com que mão propícia
De Deus o trono ornou.
Um par de brancas rolas nós voamos
Direito para o céu,
Para lã conduzindo da inocência
O imaculado véu.
E vós, queridos pais, por que motivo
Com tanta dor chorais?...
E esse pranto, que em vossos olhos vemos,
Por que não enxugais?...
De nossa vida o corte prematuro
Ah! não, não lastimeis;
Duas filhas perdestes, mas dous anjos
Junto de Deus tereis.
Março de 1878.