Revista coloca "A Isaura" entre os livros essenciais

Edição especial da Bravo! 100 livros essenciais da literatura brasileira de todos os gêneros inclui “A Escrava Isaura”, de Bernardo Guimarães. O livro ocupa o 74 lugar. O primeiro foi atribuído ao Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Os editores da revista admitem que os critérios para a elaboração da lista contêm o viés da subjetividade, até porque, acrescenta este site, em casos como esse uma pretensa objetividade seria discutível. Segue a transcrição do que a revista publicou sobre “A Escrava Isaura”

A Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães

Sofrimentos do amor narrados em meio ao drama dos escravos acabaram por tornar a história uma referência no imaginário do país

Livro dos mais conhecidos de nossa literatura, A Escrava Isaura (1975) é considerado o melhor romance do mineiro de Ouro Preto Bernardo Guimarães (1825-1884). A história se tornou um megassucesso, no Brasil e no mundo, depois de ter sido transformada em telenovela em 1976 pela Rede Globo, numa adaptação dirigida por Milton Gonçalves e roteirizada pelo Gilberto Freire. Trata-se de obra de molde regionalista, pois abrange a zona rural de Minas Gerais e de Goiás; e romântica, pois aborda a questão abolicionista de maneira sentimental, com um olho mais no bom-tom do que na crítica, numa época em que escritos sobre o tema praticamente não existiam.

Vilão, herói, heroína, amor à primeira vista. Os motivos românticos que foram o cerne da narrativa não constituem novidade, mas são tratados como bastante destreza por Guimarães. A obra fez imenso sucesso junto ao público feminino da época, que vivia numa sociedade em que mulheres somente saíam às ruas acompanhadas e em dias preestabelecidos. Não se trata exatamente, no entanto, de uma história de amor, mas do sofrimento do amor, que se deixam perceber pelos conflitos da escrava, que não tem o direito de amar, e os do homem casado, que não pode trair a esposa. O tratamento dos personagens é superficial: planos, estáticos, eles mantêm os mesmos defeitos e virtudes durante toda a narrativa.

A linguagem de Bernardo Guimarães é influenciada pelos padrões românticos. O vocabulário é rico e vasto, compreendendo palavras não só do acervo do romantismo como as de caráter regional. O coloquialismo e a oralidade típica dos “causos” são maiores nos trechos que reproduzem a falta dos escravos. Sobre a crítica ao preconceito e aos “abomináveis e hediondos” crimes da escravidão, convém não exagerar. Toda a beleza da escrava advém do fato de seus traços serem europeus: “A tez é como o marfim do teclado, alva que não deslumbra, embaçada por uma nuança delicada, que não sabereis dizer se é leve palidez ou cor-de-rosa desmaiada”. Fisicamente, ela nada fica a dever às damas da corte.

Bernardo Joaquim da Silva Guimarães estudou em seminário e entrou para a faculdade de direito de São Paulo aos 22 anos, tendo concluído o curso em 1952. Em conjunto com Álvares de Azevedo, Aureliano Lessa e ouros, entregou-se à boêmia na mocidade. Foi juiz, jornalista e poeta. Depois, foi nomeado professor de retórica e poética no Liceu Mineiro pelo governo de então província de Minas Gerais. Constança, uma de suas filhas, falecida aos 17 anos, imortalizou-se na literatura como a musa de Alphonsus de Guimaraens, a que “morreu fulgente e fria”.

A estréia literária de Bernardo Guimarães se deu com uma coleção de poemas: Cantos da Solidão, publicadas em 1852, em que predomina o lirismo. Tendo passado quase toda a sua vida no planalto central, Bernardo Guimarães tem amplo contato com o sertanejo, fonte de inspiração para vários de seus romances, como O Ermitão de Muquém (1869) e O Garimpeiro (1872). Outra obra sua de grande êxito foi O Seminarista, de 1872.