A João Cardoso

Ei-las, poeta, as flores desbotadas,

Que tu roubaste ao túmulo medonho;

Em tuas mãos de novo hoje as deponho

De meus sentidos prantos orvalhadas.

Tu as colhestes pálidas, mirradas,

Com mão piedosa à margem de um jazigo;

Por ti salvas do olvido, ó caro amigo

Não serão pelo tempo devoradas.

Bafejadas por ti ah! possam elas

de novo reflorir

Alardeando as pétalas singelas

Nos campos do porvir

João Cardoso: o conselheiro João Cardoso de Meneses e Sousa, barão de Paranapiacaba, nascido em 1827, também poeta, autor de "Harpa gemedora" e "Camoniana brasileira", ao qual Bernardo Guimarães se refere em "Algumas palavras ao leitor" chamando-lhe "distinto e particular amigo". Deve-se-lhe o fato de terem sido salvos os rascunhos das poesias de João Joaquim e do padre Manoel [irmão de BG], encontrados no espólio deste último. Ficou-nos uma dúvida: talvez este poema, que repete inclusive expressões que se encontram em "Algumas Palavras ao Leitor", seja de autoria de Bernardo Guimarães. Na edição de FO, abre ele as poesias de João Joaquim da Silva Guimarães e não traz, como os demais, qualquer assinatura. Nem Bernardo Guimarães a ele alude na sua introdução, mas nesta diz que João Cardoso colheu tais "flores mirradas e sepulcrais", "com mão piedosa à margem de um jazigo, onde dous outros entes descuidosamente as largaram". O irmão de Bernardo morreu em 1870, quando seu pai morreu em 1858. Como explicar pois que João Joaquim oferecesse a João Cardoso aquelas "flores desbotadas", colhidas "com mão piedosa à margem de um jazigo?" No entanto, o poema tem sido até hoje considerado como de autoria de João Joaquim e assim é que Mário de Lima o inclui na sua "Coletânea de Autores Mineiros", Vol I, 1922, pág. 358.