TERROR NAS ESCOLAS
TEXTO REDUZIDO PARA PUBLICAÇÃO EM JORNAL
TEXTO REDUZIDO PARA PUBLICAÇÃO EM JORNAL
TERROR NAS ESCOLAS
(QUANDO A HUMANIDADE TEM MEDO DE SI PRÓPRIA)
Alcino Lagares Côrtes Costa*
A humanidade já eliminou alguns dos medos que tinha graças aos avanços do conhecimento e da consequente tecnologia que possibilitaram, se não evitar totalmente, pelo menos reduzir danos de perigos naturais (terremotos, vulcões, Tsunamis, etc.).
O ser humano tem um corpo e convive com instintos egoístas: a Raiva é a emoção principal relacionada ao instinto de “conservação, ou expansão do ser” que contém reflexos inatos de “apropriação” (ter) e de “autoafirmação” (buscar aprovação e reconhecimento, e temer a ironia, o ridículo e a má-fama).
A teoria de “Psicologia individual” de Alfred Adler (1870-1937) _ coerente com a “vontade de poder” enunciada filosoficamente por Friedrich W. Nietzsche (1844-1900) _ explica que, ao se perceber “inferior” numa relação, a pessoa sente necessidade de buscar por “superioridade”.
Decorrente da raiva, a Inveja pode levar-nos a querer que o outro perca aquilo que não podemos ter, agredir quem tem, ou sentir-nos felizes com a desgraça alheia.
Consequentemente, há um medo que a humanidade tem (desde sempre) e não conseguiu reduzir: medo de si própria!
A existência do ser humano, porém, não se explica apenas em termos de processos biológicos: é pela “convivência” social que nos tornamos humanos e apenas o indivíduo solitário se encontra no nível animal.
Mas, a “socialização” pode ser malsucedida: uma criança (ou adolescente) que, em razão de sua aparência física, é considerada objeto de atos de violência física ou psicológica (“bullying” na escola, por exemplo) fica sem “defesa subjetiva”, recebe a identidade estigmatizada que lhe é atribuída, sente-se “inferior” na relação social e reage ao seu “destino” com raiva.
Quando ocorrem assassinatos numa escola, além de espanto, luto e tristeza, o medo passa a fazer parte do cotidiano de mães e pais. A principal pergunta que fazem é: “como evitar tragédias dessa natureza nas escolas onde temos de deixar nossos filhos”?
Governantes tendem a responder com tecnologias eletrônicas, cercas perimetrais, sistemas de alarmes e maior presença da polícia. Afinal, para minimizar “efeitos”, é essa “garantia” que parece estar ao alcance do Estado.
Mas, para evitar as “causas” da violência _ eis a verdadeira “garantia” _, é necessário que (em casa e nas escolas) pais, mães e professores estejam engajados para ensinar às crianças que reciprocidade de tolerância implica em respeito pelas pessoas com diferentes atributos físicos, diferentes escolhas, ou pensamentos divergentes dos nossos e é inconciliável com atitudes de zombaria, de ameaças, ou de violência.
E quanto aos jovens em “sofrimento mental”?
Quem decide matar pessoas numa escola está decidido a se matar ou ser morto porque não está encontrando um “sentido para a vida”... e apresenta sinais: refere-se à escola ou a colegas com expressões grosseiras, não se enturma, conecta-se virtualmente _ depois, pessoalmente _ com desconhecidos igualmente frustrados, pesquisa, adquire e se fotografa com trajes, armas e explosivos.
Viktor Frankl (1905-1997) acrescentou a “vontade de sentido” às enunciadas vontades “de prazer” de Sigmund Freud e “de poder” de Alfred Adler e criou a terceira linha vienense de psicoterapia, a “Análise existencial”.
Seu método, em síntese, consiste em levar a pessoa a encontrar um “significado” para a própria vida substituindo o “vazio existencial” por um “plano existencial” para um futuro melhor.
Professores, familiares e amigos devem estar atentos aos sinais e buscar ajuda profissional, sempre que essa for necessária.
A humanidade agradece.
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*coronel QOR da PMMG e conselheiro da Academia de Letras dos Militares Mineiros Capitão-médico João Guimarães Rosa. E-mail: lagaresimh@gmail.com
Publicado no Jornal "O Tempo" em 26/06/2023