DOIS LOBOS E UMA METÁFORA
Alcino Lagares Côrtes Costa*
Algumas pessoas, diante de imprevistos ou de acontecimentos negativos, desequilibram-se emocionalmente: sofrem repentinas alterações de humor e reagem de modo descompensado. Como se diz: “saem do eixo”. Perdem o controle.
Essas atitudes podem gerar dispersão, irritabilidade, dores musculares e de cabeça, gastrite, insônia, estresse e depressão.
Ao invés, deve ser buscada a harmonia.
No início do século XVI, colonizadores ingleses na América do Norte observaram que vários costumes indígenas da “Nação Cherokee” evidenciavam a presença de fortes traços de processo civilizatório humano, alguns dos quais, mesmo em nossos dias, são considerados ideais (o que não impediu que os mesmos fossem expulsos pelos colonizadores _ estes por sua vez não eram tão civilizados assim... _ do leste dos Estados Unidos para a região centro-sul).
Hoje, os mais de 300 mil índios cherokees são reconhecidos oficialmente pelo governo dos Estados Unidos da América.
Daquela civilização, extraiu-se uma interessante metáfora, referente a conflitos interiores entre emoções, sentimentos, o bem e o mal.
Ei-la:
Certo dia, um jovem índio cherokee foi pedir um conselho ao seu avô. Momentos antes, um de seus amigos havia cometido uma injustiça contra ele e o menino estava sendo dominado pela raiva.
O velho índio olhou nos olhos do neto e disse:
_ Eu também, meu neto, às vezes, cheguei a odiar pessoas que cometiam injustiças sem sentir qualquer arrependimento pelo que faziam. Mas, ao odiar, não me sentia bem. Percebi que a raiva é uma emoção que corrói quem a sente e nunca fere o inimigo: é como tomar um veneno, desejando que o inimigo morra. Então, decidi evitar essas reações.
O jovem ficou perplexo e o avô continuou:
_ Ao refletir sobre o que sentia, entendi que dois lobos moram no meu coração. Um deles é bom e só faz o bem. Ele vive em harmonia, não se ofende e só luta quando é preciso fazê-lo; e, quando luta, é de maneira reta e limpa.
_ E o outro lobo? (perguntou o neto).
_ Ah! O outro lobo… ele é cheio de raiva! A coisa mais insignificante é capaz de provocar nele reações terríveis. Está sempre brigando, sem nenhum motivo. Seu ódio é imenso e, por isso, ele não mede as consequências de seus atos. Ele é incapaz de perceber a inutilidade da raiva e que ela não vai mudar nada.
_ Puxa! Deve ser difícil a convivência dos dois lobos... (observou o jovem).
_ Você tem razão... os dois se esforçam para dominar meu espírito. Mas, com o tempo, compreendi que, do confronto entre eles, sairá um vencedor.
O neto perguntou:
_ Vovô, qual dos dois lobos você acha que vai vencer?
O avô respondeu, sorrindo:
_ Aquele que eu alimentar.
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* coronel da reserva e presidente do Conselho Superior da Academia de Letras João Guimarães Rosa da Polícia Militar de Minas Gerais. E-mail: cellagares@yahoo.com.br