CORRUPÇÃO,
ESTRUTURA E CONJUNTURA
Alcino Lagares*
Na Urca (bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro), sob o morro “Pão de Açúcar”, encontra-se o “Forte São João” e, neste, além da “Escola de Educação Física do Exército” _ na qual me formei na década de 60 _, a “Escola Superior de Guerra (ESG)”.
Tive a oportunidade de passar nesta alguns dias, participando de um estágio (precedendo a “revisão constitucional” prevista para 1993 na Carta Magna promulgada em 1988, a qual simplesmente "acabou não acontecendo").
É um lugar realmente admirável!
Na ESG, estuda-se a sociedade _ visando “Objetivos Nacionais Permanentes” e “Objetivos Nacionais Atuais” _ considerando-se quatro “campos de poder”: “Político”,“Econômico”, “Psicossocial”, e “Militar”.
As revelações sobre a corrupção que medrava entre os dois primeiros campos _ prefiro colocar o verbo na forma pretérita _ permitem-nos perceber que ainda há muito a se apurar e, consequentemente, a se corrigir no Estado brasileiro.
A parte que me deixa mais desconfortável é perceber que o assunto é mostrado habilmente pela classe política profissional como sendo algo “meramente conjuntural” (quando, a meu ver, é predominantemente estrutural).
Mais entristecedor ainda: atribui-se “culpa” ao eleitor que deveria “escolher melhor” em quem votar _ como se tal fosse possível! _: enfim, trata-se do estabelecimento de uma lógica, segundo a qual _ permitam-me a grosseira analogia _ “a culpa do estupro será sempre da vítima e, jamais, do estuprador”!
Os sucessivos, e cada vez mais graves, fatos de corrupção no governo brasileiro, apurados por intemeratos policiais federais e alguns já denunciados pelo procurador-geral da república (ora sendo objeto de instrução e julgamento por um probo juiz federal em Curitiba), indiciam políticos e empresários ávidos por mais e mais dinheiro.
Não nos iludamos, porém, imaginando que a corrupção esteja apenas nos partidos de maior número de “representantes” e de “representados” (PMDB, PT, e PSDB).
A simples existência dos partidos políticos _ de todos eles, sem exceção _ cria, necessariamente, as oportunidades de corrupção, uma vez que candidaturas e eleições implicam em gastos de elevadíssimas somas em dinheiro (vindo este “de onde vier”).
Nas eleições, trocam-se as moscas e mantém-se o lixo!
Não existem ideias e projetos de interesse social: existem planos de enriquecimento pessoal!
Nós _ em idade e experiência já um tanto distantes dos descontrolados impulsos juvenis _ devemos refletir para não servirmos de “inocentes úteis” a alguém, ou a um grupo de espertalhões!
Tudo muda. Tudo pode mudar. Assim como a “idade da pedra” não terminou porque faltaram pedras, nós, pessoas do povo, temos legitimidade para pensar em profundas mudanças no Estado brasileiro!
Precisamos, então, com a participação de pessoas esclarecidas, estudar as ideias, formular uma Constituição ideal, e submetê-la à decisão do povo _ aí e somente aí, sim _, verdadeiramente soberano!
O povo brasileiro precisa da Democracia Direta, da extinção dos partidos políticos, e da realização de concursos públicos em substituição a “nomeações”, “indicações”, e “eleições” nos três poderes _ e isto vale para todas as instâncias _!
Quanto ao Poder Judiciário, se é verdadeiro o princípio segundo o qual “os poderes da república são independentes e harmônicos entre si”, nossa inteligência deve recusar-se a concordar que os juízes de sua mais alta corte continuem sendo escolhidos e nomeados pelo chefe do Poder Executivo.
Se nos omitirmos, a corrupção continuará a nos envergonhar porque, sempre que novo “escândalo” for descoberto, o povo inocente será condenado porque “não soube escolher em quem votar”!
PELA DEMOCRACIA DIRETA JÁ!
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*coronel da reserva e presidente do Conselho Superior da Academia de Letras João Guimarães Rosa da Polícia Militar.