FEDE (o Fundo Especial da Democracia)
Alcino Lagares*
O País dos Idiotas é um reino muito distante do Brasil.
Lá, a maioria dos habitantes é constituída de idiotas que trabalham e pagam impostos, enquanto uma minoria constituída de espertalhões não trabalha e recebe prebendas decorrentes dos impostos que são pagos pela maioria de idiotas. Enfim, espertalhões e idiotas completam-se mutuamente; logo, todos são felizes!
Os espertalhões criaram trinta e cinco “partidos”, “eleições”, e um “Fundo Partidário”.
Com os “partidos” e as “eleições”, a maioria de idiotas adquiriu o “direito” de entrar em filas para entregar, no momento do voto, sua soberania aos “representantes” (os quais nunca perguntam aos idiotas em que estes gostariam de ser “representados”).
Com o “Fundo Partidário” os idiotas adquiriram o “direito” de trabalhar duro e gerar dinheiro, para que os espertalhões o utilizem em autopromoção.
Naquele reino há gravíssimos problemas: 12 milhões de pessoas em idade produtiva estão desempregadas; há “déficit” nos fundos da previdência social; há atrasos e parcelamento de salários; há imensas filas e insuficiência de leitos em hospitais; médicos, policiais, e professores são pessimamente remunerados... enfim, a situação é caótica!
Mas, sem dúvida, o problema social mais grave é a “pequenez” do “Fundo Partidário” (“apenas” 867 milhões e 500 mil reais)!
Na Sinecura Federal daquele distante reino, os representantes concluíram ser necessária uma “reforma política”.
Ao tirar uma “Pestana” em seu horário de desserviço público, um parlamentar das Minas Generosas (uma província do reino) sonhou com uma panaceia para todos os males sociais:
_ “Orgulhai-vos, ó idiotas! A reforma política está feita: vamos acabar com o Fundo Partidário e criar (com três bilhões de Reais tirados anualmente do Imposto de Renda do vosso trabalho) o FEDE (Fundo Especial da Democracia)!”.
_ “Oh! Que bom!” (Aplaudiu-o um dos milhões de idiotas)
_“... E de que modo vamos sentir o cheirinho do dinheiro que o FEDE exala?” (Ousou perguntar, timidamente, outro idiota).
_ “Como é para o bem de todos e felicidade geral da nação, dizei aos idiotas que o povo é soberano! E, soberanamente, ele usufruirá do dinheiro do FEDE... do mesmo modo que exerce a soberania!” (Esclareceu o nobre parlamentar).
_ “Oh! Que bom!... e o quê isso quer dizer?” (Insistiu o idiota).
_ “Indiretamente... através de vossos representantes!” (Concluiu o parlamentar).
_ “Oh! Que maravilha! Nós, idiotas, somos um povo feliz! Nossos representantes poderão acrescentar às respectivas prebendas também esta: o FEDE - Fundo Especial da Democracia!”
Ainda bem que coisas assim não acontecem no Brasil!
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*Oficial da reserva e presidente do Conselho Superior da Academia de Letras "João Guimarães Rosa" da Polícia Militar de Minas Gerais.
Contatos: cellagares@yahoo.com.br