SINECURAS E PREBENDAS NO PAÍS DOS IDIOTAS
Alcino Lagares¹
Num conto de fadas, havia um reino, o País dos Idiotas, onde todos eram felizes!
Era um lugar muito distante do Brasil, abundante em maravilhas naturais em seus mais de 8 milhões de Km² , o qual tinha mais de 200 milhões de habitantes.
Porém, facilmente se percebia que ele era o contrário do Brasil, porque a minoria de seus habitantes era constituída de espertalhões, e a maioria dos habitantes era constituída de idiotas.
A maioria, constituída de idiotas, trabalhava e pagava impostos.
A minoria, constituída de espertalhões, ou não trabalhava ou exercia sinecuras e recebia prebendas decorrentes dos impostos que eram pagos pela maioria de idiotas.
A maioria de idiotas entregava, através de eleições, a soberania do povo a representantes, cujos candidatos procediam daquela minoria de espertalhões.
Embora vez por outra algum idiota, num “estalo de Vieira”², chegasse a dizer:
_ “Trocam-se as moscas, e mantém-se o lixo!”, certo era que, quando um espertalhão era eleito, o idiota que nele havia votado enchia-se de orgulho... _ “Viu só? O meu candidato é melhor do que o seu!” ... e continuava trabalhando duro: para sobreviver, e para proporcionar cada vez mais prebendas aos ilustres representantes.
Numa certa província do País dos Idiotas, as Minas Generosas, os representantes reuniram-se para estudar um grave problema social: a moradia!
De fato, era um problema gravíssimo!
Tanto assim, que os espertalhões representantes decidiram utilizar o primeiro mês de seu mandato parlamentar exclusivamente para resolver tal prioridade do povo:
_ “Que se danem os outros problemas!” (Vociferou um representante).
_ “Apoiado, nobre colega! Precisamos resolver o problema da moradia!” (Bradou outro representante).
Após mais de um mês de “incansável trabalho” naquela sinecura das Minas Generosas, província do País dos Idiotas, os representantes anunciaram a maravilhosa solução, um verdadeiro e belo “ovo de Colombo”³:
_ “Orgulhai-vos, ó idiotas! Está definitivamente solucionado, através do auxílio moradia, o problema social da moradia!” (Anunciou o chefe daquela sinecura representativa).
_ “Oh! Que bom!” (Aplaudiu-o um dos milhões de idiotas)
_“... E de que modo as moradias ser-nos-ão destinadas?” (Ousou perguntar, timidamente, um dos idiotas).
_ “Como é para o bem de todos e felicidade geral da nação, diga aos idiotas que o povo é soberano! E, como o povo é soberano, ele terá moradia... do mesmo modo que exerce a soberania!” (Esclareceu o nobre parlamentar).
_ “Oh! Que bom!... e o quê isso quer dizer?” (Insistiu o idiota).
_ “O povo soberano terá moradia indiretamente, através de seus representantes!” (Concluiu o nobre parlamentar).
_ “Oh! Que maravilha! Nós, idiotas, somos um povo feliz! Nossos representantes poderão acrescentar às respectivas prebendas também esta: o auxílio moradia! Que felicidade!”
E foi assim que, nas Minas Generosas, província daquele distante e fantasioso País dos Idiotas, no mês de Fevereiro de 2015, foi definitivamente solucionado o problema social da moradia, sendo instituído o “auxílio moradia”, destinando valores entre 4 e 8 salários mínimos, por mês, a cada um de seus representantes, a serem somados às respectivas prebendas!
Que bom!
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1- Coronel da reserva e presidente do Conselho Superior da Academia de Letras "João Guimarães Rosa" da Polícia Militar de Minas Gerais;
Contatos: cellagares@yahoo.com.br
2- Antônio Vieira (Padre Vieira, 1608-1697) nasceu em Lisboa. Aos 6 anos veio para o Brasil com o pai. Diz-se que era considerado um aluno “burro”, até o dia em que teve uma forte dor de cabeça, que ele explicou como um "estalo" na cabeça. Depois disso, passou a entender tudo com facilidade. A isso se chamou o "estalo de Vieira".
Estudou filosofia e teologia, e ordenou-se sacerdote em 1634. Sua principal obra são os “Sermões”;
3- O Ovo de Colombo é uma metáfora que se refere a soluções difíceis, as quais, paradoxalmente, após serem reveladas parecem óbvias.