A humanidade tem medo de si própria.
No dia 3 de agosto de 2021 teve início uma violenta ação de “Talibãs” (milicianos fundamentalistas islâmicos do Afeganistão), culminando, no dia 6, com a fuga do presidente daquele país e com a submissão do povo à arbitrária vontade daqueles fanáticos: mulheres estarão impedidas de exercer qualquer profissão, terão de usar o véu islâmico e cobrir o rosto. Os homens não poderão raspar as barbas.
Os animais conhecem apenas um mundo: o da experiência (interna e externa); mas, o ser humano tem a faculdade de ter “ideias” e, a partir destas, conceber “ideais” e acrescentá-los ao real. Ideais permitem extrapolar do que a sociedade é para o que deveria ser. Agregam. Criam um mundo fraterno e justo.
Porém, o ser humano tem também a possibilidade de, a partir das ideias, inventar “ideologias”. Ao contrário dos ideais, as ideologias dividem a sociedade em “nós” e “eles”.
Em sua obra “Do contrato social”, diz Jean Jacques Rousseau (1712 – 1778): “Na minha opinião, enganam-se os que distinguem a intolerância civil da intolerância teológica. Essas duas intolerâncias são inseparáveis.”
Logo após a segunda guerra mundial, com a eliminação das ideologias surgidas na Itália (Fascismo) e na Alemanha (Nazismo), o mundo ficou dividido entre duas ideologias: de “direita”, o capitalismo decorrente do liberalismo (que colocava o indivíduo no ápice da sociedade e afirmava que esta deveria ser governada por uma elite abastada) e de “esquerda”, o comunismo decorrente do socialismo (que afirmava que o governo deveria ser exercido por aqueles que trabalham e produzem: o povo).
O equilíbrio entre essas ideologias era assegurado pelo mútuo receio das armas atômicas reciprocamente apontadas entre os Estados Unidos da América e a União Soviética, a “guerra fria”.
Porém, no final do século XX, fracassou o comunismo: caiu o “muro de Berlim” (1989) e dissolveu-se a União Soviética (1991). Deixou de existir a “esquerda” e, consequentemente, também a “direita” (pois, só existe direita se houver esquerda e vice-versa).
Mas, paranoicos continuam a distrair e dividir o povo com anacrônicos discursos: são pessoas “capazes de enxergar” como “comunista” qualquer ser humano que deseje um mundo fraterno e justo.
Nos EUA, um grupo de fanáticos (seguidores do ex-presidente Donald Trump) no dia 6 de janeiro de 2021, invadiu o Capitólio, onde se reuniam os parlamentares das duas casas legislativas para ratificar a vitória nas urnas de Joseph Robinette "(“Joe Biden”). Foram mortos quatro terroristas invasores e foi morto o policial Brian Sicknick, que cumpria o dever de impedir a invasão.
No Brasil, um grupo de fanáticos, autodenominado “Ativistas Direita Volver”, publicou um texto (cuja autoria atribuem ao Presidente Jair Bolsonaro!), incentivando pessoas a invadir, no dia 7 de setembro, o Supremo Tribunal Federal. Outros fanáticos pregam invasões à Embaixada da China e ao Congresso Nacional.
Conforme os artigos 286 e 287 do Código Penal Brasileiro, são crimes: incitar, publicamente, a prática de crime e fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime.
As prováveis vítimas desses irresponsáveis que, de forma criminosa e perigosa, estão sugestionando pessoas desequilibradas a cometer violências poderão ser os policiais militares; porque são estes que têm o dever constitucional de preservar a Ordem Pública e, portanto, estarão diante desses locais para impedir as anunciadas invasões.
A “República de Platão” é rica em mitos. Dentre todos, porém, elegi um pequeno trecho do “Mito dos Metais” para a oportuna reflexão dos leitores. Ei-lo:
“Sócrates: _ (...) Sois todos irmãos; mas, o deus que vos formou não vos fez iguais: misturou ouro na composição daqueles dentre vós que são capazes de comandar; (...) e, naqueles que devem ser lavradores e artesãos, ferro e bronze. (...) Um oráculo afirma que a cidade perecerá quando for comandada por um homem em cuja composição estiver o ferro ou o bronze”. (Platão, a República, livro 3). (grifei)
Caros leitores, é livre a sua interpretação.
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*Coronel da reserva e Presidente da Academia de Letras João Guimarães Rosa da Polícia Militar de Minas Gerais. E-mail: cellagares@yahoo.com.br