Alcino Lagares*
O PAÍS DOS IDIOTAS
Num conto de fadas, havia um reino, onde todos eram felizes! Era um lugar muito distante do Brasil, abundante em maravilhas naturais em seus mais de 8 milhões de Km² , o qual tinha mais de 200 milhões de habitantes.
A minoria dos habitantes era constituída de espertalhões, e a maioria dos habitantes era constituída de idiotas.
A maioria, constituída de idiotas, trabalhava e pagava impostos.
A minoria, constituída de espertalhões, não trabalhava e recebia impostos da maioria de idiotas que trabalhavam e pagavam impostos.
A minoria, constituída de espertalhões, exercia a soberania e dizia à maioria, constituída de idiotas, que a maioria, constituída de idiotas, exercia a soberania... indiretamente... através da minoria constituída de espertalhões.
Assim, naquele reino (um lugar muito distante do Brasil) abundante em maravilhas naturais em seus mais de 8 milhões de Km² , o qual tinha mais de 200 milhões de habitantes, todos eram felizes!
Aquela minoria, constituída de espertalhões que não trabalhavam e não pagavam impostos, era muito criativa: criava “eleições”, criava receitas para propagandas eleitorais, criava “partidos” políticos _ uma vez que o “inteiro” daquela sociedade era constituído de idiotas _, criava muitas fontes de renda para os partidos políticos que criava, criava muitos cargos para os participantes dos partidos políticos que criava, e criava leis para garantir, eternamente, que a maioria constituída de idiotas continuasse a exercer a soberania... indiretamente... através da minoria constituída de espertalhões.
Fatalmente, surgiria um dia em que alguns espertalhões tentariam ser mais espertalhões dos que os demais espertalhões, porquanto aquela era uma minoria constituída de espertalhões que não trabalhavam e não pagavam impostos...
Esse dia chegou: como reza o ditado popular, “quando os amigos brigam, a verdade aparece!”... assim, os próprios espertalhões passaram a acusar-se mutuamente da prática de crimes de corrupção, e de compra (e venda) de votos entre espertalhões (que exerciam a soberania e diziam à maioria, constituída de idiotas, que a maioria, constituída de idiotas, exercia a soberania... indiretamente... através da minoria constituída de espertalhões).
Assim, naquele reino (um lugar muito distante do Brasil) abundante em maravilhas naturais em seus mais de 8 milhões de Km² , o qual tinha mais de 200 milhões de habitantes, alguns espertalhões foram regularmente processados, julgados, defendidos por hábeis e caríssimos rábulas (dentre os mais hábeis daquele reino) e, mesmo assim, foram condenados.
A sentença de um dos condenados (um certo Esoj Onioneg _ o nome parece estranho para nós, brasileiros; mas, era muito comum naquele distante reino...) impôs-lhe, como pena, passar um tempo na cadeia, e o pagamento de uma multa em sestertius e dupondius (duas das moedas daquele tempo e lugar).
Não podemos esquecer, porém, que Esoj Onioneg, fazia parte da minoria, constituída de espertalhões que não trabalhavam, não pagavam impostos, e eram muito criativos; portanto, Esoj Onioneg, disse que “sofria do coração” e não foi para a prisão. Foi aposentado. Passou a receber, mensalmente, milhares de denarius (outra moeda daquele tempo e lugar), sem trabalhar... ué! Mas, já não trabalhava mesmo...
Mas, o leitor deve estar perguntando:
_ Pelo menos a multa foi paga?
_ Sim!
Como a maioria de habitantes era constituída de idiotas, estes fizeram uma “vaquinha” e pagaram a pena no lugar do Esoj Onioneg: uma vez idiota... sempre idiota!
Esse reino era mesmo um lugar estranho!
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* Coronel da reserva e presidente do Conselho Superior da Academia de Letras "João Guimarães Rosa" da Polícia Militar de Minas Gerais.
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