O filósofo Platão (427 a 347 a.C.) escreveu a “Politéia” (termo que representava, na Grécia antiga, a origem e organização da “Polis” _ um misto de “Estado”, “sociedade” e “cidade”). O título da obra foi traduzido em português impropriamente _ com raiz no Latim, (“Res”, ou “a coisa”, pública). Aceitemos, porém, o título “A República de Platão”, por ser assim que a obra foi publicada.
Na obra _ organizada em dez “livros” (ou “capítulos”) _, Platão serve-se de mitos (uma subclasse de contos) para conduzir nosso pensamento para a construção de uma sociedade justa.
Sócrates, o personagem central da obra, num primeiro momento não relaciona a justiça com o indivíduo mas a coloca no contexto da Polis; pois as “grandes necessidades da vida humana dão origem às correspondentes funções sociais”.
O que Platão nos ensina na República é essencialmente “Ethos” (ética); pois, sem fundamento na ordem axiológica, nenhuma justiça pode existir. A seguir, ele dá início a outro tema importante: a “Paidéia” ( educação do homem) e, especialmente, do aprimoramento das qualidades dos guardiães...
Mas, eis-nos aqui: no Brasil no ano 2018...
Têm sido descobertas muitas falcatruas de “guardiães” que se posicionam na cúpula social à qual chamamos “políticos profissionais” e esses dão péssimos exemplos à base da sociedade. Uns se vendem a bandidos, outros os compram e os protegem contra a ação legal e legítima dos verdadeiros guardiães da sociedade mineira (policiais civis e militares).
Em julho de 2017, em Santa Margarida, MG, assaltantes de bancos assassinaram o cabo PM Marcos Marques e o vigilante Leonardo José.
Nesse caos o delegado de polícia Rogério de Melo Franco Assis Araújo, ao assumir o cargo de chefe adjunto da Polícia Civil e anunciar a criação de uma delegacia especializada no combate a ataques a caixas eletrônicos, fez uma declaração:
“Em Minas não existirá cangaço e, caso venha a surgir, nossa polícia estará apta para combater. Caso os criminosos não se rendam, partirão para o confronto e voltarão na horizontal”.
Essas palavras traduzem muito bem o que a sociedade mineira espera ouvir de um chefe de polícia: assaltante que, ao invés de render-se à ordem legal de prisão em flagrante, atirar contra os policiais deverá submeter-se à força coercitiva do Estado.
Pois, não é que membros do PT (que se mantiveram em silêncio ante o assassinato do cabo Marcos em Santa Margarida) manifestaram-se perante o governador por entenderem que o discurso do delegado era uma afronta aos “direitos humanos”?
Estranhamente, ao invés de um elogio pela sua disposição, energia e firmeza de propósito em defesa da sociedade, o delegado foi exonerado!
Platão nos lembra que a construção de uma Sociedade justa somente pode nascer através da formação de homens justos: “tais homens, tal Estado”.
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*coronel QOR e presidente do Conselho Superior da Academia de Letras “João Guimarães Rosa” da Polícia Militar de Minas Gerais.