Alcino Lagares Côrtes Costa*
Na Roma antiga, o ano era composto de 10 meses lunares: Martius, Aprilis, Maius, Junius, Quintilis, Sextilis, September, October, November e December.
O primeiro dia do mês chamava-se Calendas, o dia da Lua Nova (daí o termo “calendário”) e Idus era o dia da Lua Cheia.
No ano 46 a.C., um astrônomo (Sosígenes, de Alexandria) elaborou para Júlio César um novo calendário (Juliano), ao qual foram acrescentados os meses Januarius e Februarius. O 6º dia antes das Calendas de Março deveria ser contado duas vezes (“ante diem bis sextum”). Daí, em nossa língua, decorre o termo bissexto.
No ano 525, o monge Dionísio Exíguo escreveu que Jesus Cristo nascera em 25 de dezembro do Ano 753 da fundação de Roma, devendo o seguinte (754 f.R.) ser o ano 1 da era cristã.
Em 1582, o Papa Gregório XIII excluiu, num novo calendário (Gregoriano), o período de 4 a 15 de outubro daquele ano (para corrigir uma distorção de 10 dias gerada pelo Calendário Juliano), manteve as duas datas escritas por Dionísio _ a do nascimento de Jesus e a do início da era cristã _ e fixou quais seriam os anos bissextos (a Terra dá uma volta de 900 milhões de quilômetros em torno do Sol em 365 dias e aproximadamente 6 horas, razão pela qual, a cada quatro anos, temos um 29 de fevereiro).
Dionísio Exíguo, porém, havia se equivocado sobre o nascimento de Jesus e o equívoco foi (e permanece) mantido no calendário gregoriano:
Herodes _ que interrogara os três magos_ morreu entre 749 e 750 depois da fundação de Roma, obviamente não lhe sendo possível 3 ou 4 anos após inquirir qualquer pessoa, por mais poderes temporais que pudesse ter tido em vida...
“Com isto Herodes, tendo chamado secretamente os magos, inquiriu deles com precisão quanto ao tempo em que a estrela aparecera. E, enviando-os a Belém, disse-lhes: ide informar-vos cuidadosamente a respeito do menino; e, quando o tiverdes encontrado, avisai-me, para eu também ir adorá-lo.” (MATEUS. 2:7-8)
E...“Vendo-se iludido pelos magos, enfureceu-se Herodes grandemente e mandou matar todos os meninos de Belém e de seus arredores, de dois anos para baixo, conforme o tempo do qual com precisão se informara dos magos.”(MATEUS, 2:16)
O nascimento de Jesus pode ter ocorrido em julho ou em março, não em dezembro, pois:
“ No sexto mês foi o anjo Gabriel enviado da parte de Deus, para uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com certo homem da casa de Davi, cujo nome era José; a virgem chamava-se Maria. (...) Mas o anjo lhe disse: Maria, não temas (...) Eis que conceberás e darás à luz um filho (...)por isso também o ente santo que há de nascer, será chamado Filho de Deus.” (LUCAS. 1:26-35. Grifei)
A gestação de Jesus _ o evangelista Lucas era médico _ foi absolutamente natural; logo, com duração de nove meses:
“Estando eles ali, aconteceu completarem-se-lhe os dias, e ela deu à luz o seu filho primogênito, (...).” (LUCAS. 2:6-7. Grifei)
Se na Judéia vigessem as Calendas (anos de 10 meses), uma concepção no 6.º mês (Sextilis _ agosto) geraria um nascimento no 5.º mês do ano seguinte (Quintilis _ Julho); e se ali já tivesse sido adotado o Calendário Juliano (com 12 meses), a concepção no 6.º mês (Sextilis _ junho) geraria nascimento em Martius.
Por que, então, comemoramos o Natal no dia 25 de dezembro?
O dia 25 de dezembro era cultuado como data de nascimento de Mitra (filho de Aúra Masda, divindade do Masdeísmo, antiga religião dos persas); e, por ser aceito popularmente como “dia do nascimento do filho de deus”, Dionísio Exíguo o adotou.
A circunstância de ter Jesus sido visitado antes do ano 750 da fundação de Roma pelos magos (quando já tinha quase 2 anos) evidencia que ele nasceu aproximadamente 6 anos a. C.
Então, que tenhamos _ em 2018 _ um feliz 2024!
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*Coronel da reserva e presidente do Conselho Superior da Academia de Letras João Guimarães Rosa da Polícia Militar de Minas Gerais.
(Publicado no Jornal "O Tempo" em 02/01/2018)