Alcino Lagares*
Mineiros detestam o anonimato. Sou mineiro. Portanto, detesto o anonimato. Não foi sem razão que os portugueses denominaram a “Conjuração Mineira” de “Inconfidência Mineira”.
O mineiro tem brio. Não se esconde. Escreve e “assina em baixo”!
Não sei quem escreveu o artigo intitulado “LAMENTO DE UM MINEIRO ANÔNIMO”. Como poderia saber? Mas, pelas históricas atuações dos mineiros, tal choro não parece ser coisa de um de nós... nesse mato tem coelho!
Mas, consideremos seu conteúdo.
A peça encerra várias contradições. A primeira delas está no próprio título, pelas razões já expostas.
Todos sabem que sou contra “eleições”.
Sou defensor da adoção de “concursos públicos” para provimento de todo e qualquer “cargo público”, uma vez que os concursos poderiam permitir “iguais oportunidades” na disputa dos cargos e, em tese, aqueles que se revelassem mais competentes seriam os ocupantes desses.
Em tese, teríamos seres humanos qualificados em lugar de falastrões.
Em tese, poderíamos ter melhores leis e melhor administração da coisa pública. Em tese, estaríamos evitando a corrupção, as negociatas, os acordos secretos, o desperdício de dinheiro público.
Em tese, se as oportunidades fossem iguais, teríamos a democracia em substituição à plutocracia que ora está instalada.
Mas, pés no chão!
Os cargos públicos não são ocupados através de concursos públicos. São ocupados pelas “eleições”, pelas “indicações”, e pelas “nomeações”...
Esta é a regra do jogo.
Quais “atletas”, os “candidatos” prepararam-se _ ou deveriam ter-se preparado _ segundo o mesmo “regulamento” para “jogar”.
O jogo foi jogado.
Houve indivíduos vencedores e indivíduos perdedores.
Dentre estes e aqueles, nenhum é parte “do povo”. Ambos _ vencedores e perdedores _ fazem parte de uma “casta” especial que se mantém através de “regras” traçadas por eles próprios. Mas, “atletas”, após a peleja, não se podem mudar as regras.
E o povo? (esse “culpado” segundo o olhar do anônimo articulista)
O povo apenas cumpre seu papel... e vota.
Mas, no momento do voto, o povo é verdadeiramente soberano!
Lamento apenas que o “voto” seja desperdiçado para “eleger mágicos”, para entregar a própria soberania a “representantes” que somente representam a si próprios, em vez de se prestar à decisão sobre assuntos de interesse público, em vez de voltar-se para as grandes questões sociais.
Mas, no momento do voto, repito, o povo é soberano!
Então, não há que se falar em “vergonha” por não ter sido eleito “A” e por ter sido eleito “B” pela maioria.
Se “A” não foi eleito não há que se culpar o povo que o não elegeu. Não há que se colocar o derrotado como uma “vítima” da maioria do povo. As razões do insucesso numa eleição é algo a ser estudado por aquele que a perdeu.
Assim como não há mérito algum em ser eleito, tampouco há demérito em não o ser. O momento do voto corresponde à liberdade de escolha de cada cidadão de acordo com sua própria consciência, embora diante de alternativas a respeito das quais ele não tenha sido previamente consultado e, sim, colocadas por “partidos”; mas, seu somatório deve ser respeitado.
Por outro lado, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) decidiu, por unanimidade, acolher um requerimento e permitir uma auditoria a ser realizada pelo próprio partido do candidato derrotado nas “urnas do segundo turno”.
Se for constatada uma fraude, que se adotem as medidas punitivas da lei. Se for constatada a lisura do processo, que se aceite a vontade majoritária do povo.
Não me parece um raciocínio correto este do anônimo articulista dizer que “paulistas deram exemplo de maturidade política e de desapego a regionalismos”, ao mesmo tempo em que condena mineiros que, afinal, fizeram exatamente a mesma coisa... (ou tal “maturidade” valeria apenas para os paulistas?) e não concordo também que “maturidade política” seja um corolário de votar no candidato da preferência do “anônimo autor”.
Que posso dizer da metáfora (contida no mesmo artigo) “punhalada nas costas de seu mais dileto filho”?
Mais do que piegas, parece-me o lamento de alguém _anônimo _ que esperava ser nomeado para um cargo público e ficou _ eis a metáfora que ofereço a ele _ “a ver navios”...
E o que posso dizer de um “anônimo” que se diz “mineiro”, quando afirma que “aqueles que foram responsáveis pela derrota de seu maior político... mais certo é que façam parte da tradicional família mineira”?
Posso dizer _ e digo _ o seguinte: certamente, mineiro ele não é!
Pelo concurso público e pela direta já!
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* coronel da reserva e presidente do Conselho Superior da Academia de Letras João Guimarães Rosa da Polícia Militar de Minas Gerais