Alcino Lagares Côrtes Costa *
Ao longo dos séculos, encontram-se registros de diversas formas de violência entre indivíduos e entre nações.
As organizações políticas e as religiões _ que deveriam ter por princípio a paz e por fim o bem da humanidade_ foram historicamente geradoras do mal e da violência.
A constatação da persistente presença da violência na humanidade _ logo a vitória do mal sobre o bem _, incomodou Morihei Ueshiba (1883 - 1969), filósofo e fundador do Aikido (“O caminho da harmonia”), levando-o a nos incentivar para que buscássemos a paz, através do desafio contido numa pergunta inteligente:
“Ao longo das eras, inúmeros filósofos e mestres de religião transmitiram a mensagem da verdade e falaram do poder supremo da harmonia. Mas como se dá que os opositores da verdade e aqueles que lutaram empregando o poder destrutivo (...) tenham vencido?”
Uma análise sobre o que se encontra por trás de toda e qualquer violência evidencia que, por termos corpos, convivemos com instintos egoístas, os quais são impulsionados por reflexos inatos.
No entanto, podemos perceber em nós sentimentos altruísticos que nos fazem crer que os conceitos da justiça, da beleza, da verdade e do bem são também inatos e podem predominar sobre os instintos.
Em 1904 o fisiologista russo Ivan Petrovich Pavlov _ que recebera o Prêmio Nobel pela descoberta científica do reflexo condicionado _ declarou que existem no ser humano dois “sistemas de sinais”: o primeiro refere-se à percepção da realidade objetiva pela sensibilidade e, portanto, é compartilhado com os animais; o segundo é gerado exclusivamente pela racionalidade humana e dá vida ao universo simbólico.
No universo simbólico a palavra é o programa mais importante em nossa mente porque extrapola os caracteres e a sonoridade, adquire significado e torna-se parte essencial da realidade humana.
Na Espanha, a fundação César Egido Serrano mantém, desde 23 de novembro de 2009, em Quero (província de Toledo), o “Museo de La Palabra”, com a finalidade de promover o diálogo como ferramenta para conquistar a paz entre as diferentes culturas e religiões e instituiu o “23 de novembro” como “Dia da palavra como vínculo da humanidade”.
Para que a violência desapareça, o processo civilizatório nos aponta a necessidade da utilização do “diálogo para convencer” em lugar da coerção que se revelou ineficaz como “recurso para vencer” a violência.
Essa forma de convencer implica num culto, pelas pessoas e pelas nações, à integridade (que abomina todo egoísmo e toda corrupção) e à tolerância (que nos leva a respeitar, na alteridade, o direito que as pessoas têm de discordar do nosso modo de pensar).
Porém, a integridade e a tolerância somente serão alcançadas se forem, nas famílias, nos templos religiosos e nas escolas, construídas pelas nossas crianças e aprimoradas ao longo da vida.
Para que a humanidade possa extrapolar daquilo que é para o que deveria ser, o diálogo parece ser o melhor instrumento!
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* coronel da reserva e presidente do Conselho Superior da Academia de Letras “João Guimarães Rosa” da Polícia Militar de Minas Gerais.
Publicado no Jornal "O Tempo" em 04/11/2018