ESPINHEIRO, VEM TU E REINA SOBRE NÓS
Alcino Lagares*
“MEU DEUS! ESSA É A NOSSA ALTERNATIVA DE PODER?”
Esta é a réplica da exclamação do ministro Luís Roberto Barroso...
O assunto fez-me lembrar de um texto metafórico bíblico que dá título a este artigo. Ei-lo:
“Foram, certa vez, as árvores ungir para si um rei e disseram à oliveira:
_ Reina sobre nós.
Porém a oliveira lhes respondeu:
_ Deixaria eu o meu óleo, que Deus e os homens em mim prezam, e iria pairar sobre as árvores?
Então, disseram as árvores à figueira:
_ Vem tu e reina sobre nós.
Porém a figueira lhes respondeu:
_ Deixaria eu a minha doçura, o meu bom fruto e iria pairar sobre as árvores?
Então, disseram as árvores à videira:
_ Vem tu e reina sobre nós.
Porém a videira lhes respondeu:
_ Deixaria eu o meu vinho, que agrada a Deus e aos homens, e iria pairar sobre as árvores?
Então, todas as árvores disseram ao espinheiro:
_ Vem tu e reina sobre nós.
Respondeu o espinheiro às árvores:
_ Se, deveras, me ungis rei sobre vós, vinde e refugiai-vos debaixo de minha sombra; (...)” (“Juízes 9”)
O sentido subjetivo dessa metáfora é perceptível no mundo objetivo em nossos dias; pois, na sociedade humana, abundam os “espinheiros”!
Não adianta trocar “6” por “meia dúzia”.
Os sucessivos, e cada vez mais graves, fatos de corrupção no governo brasileiro (“Mensalão”, “Petrolão”, “BNDES”) _ apurados por intemeratos policiais federais e alguns já denunciados pelo procurador-geral da república _, ora sendo analisados por um probo juiz federal em Curitiba, indiciam, em sua maioria, políticos do PT, além de empresários ávidos por mais e mais dinheiro.
Não nos iludamos, porém, imaginando que a corrupção esteja apenas no PT. A simples existência dos partidos políticos _ de todos eles, sem exceção _ cria, necessariamente, as oportunidades de corrupção.
Nas eleições, trocam-se as moscas e mantém-se o lixo!
Nós _ em idade e experiência já um tanto distantes dos descontrolados impulsos juvenis _ devemos refletir para não servirmos de “inocentes úteis” a alguém, ou a um grupo de espertalhões!
Tudo muda. Tudo pode mudar. Nós, pessoas do povo, temos legitimidade para pensar em profundas mudanças no Estado brasileiro.
A “idade da pedra” não terminou porque faltaram pedras!
Precisamos, então, com a participação de pessoas esclarecidas, estudar as ideias, formular uma Constituição ideal, e submetê-la à decisão do povo _ aí e somente aí, sim _, verdadeiramente soberano!
O povo brasileiro precisa da Democracia Direta, da extinção dos partidos políticos, e da realização de concursos públicos em substituição a “nomeações”, “indicações”, e “eleições” nos três poderes _ e isto vale para todas as instâncias _!
Quanto ao Poder Judiciário, se é verdadeiro o princípio segundo o qual “os poderes da república são independentes e harmônicos entre si”, nossa inteligência deve recusar-se a concordar que os juízes de sua mais alta corte continuem sendo escolhidos e nomeados pelo chefe do Poder Executivo.
Se nos omitirmos, a corrupção continuará a nos envergonhar porque, ao ser convidado, o espinheiro vai dizer “sim”!
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*coronel da reserva e presidente do Conselho Superior da Academia de Letras João Guimarães Rosa da Polícia Militar.