Alcino Lagares Côrtes Costa*
Diariamente, ouvimos pessoas discutindo:
_ “Isso é imoral!”
_ “Falta ética no governo!”
“Ética” é uma palavra originada no grego. “Moral” vem do latim.
Na antiguidade (um tempo que vai até o Séc. V da era cristã), a vida social em Atenas (onde se falava grego) era muito diferente da vida social em Roma (onde se falava latim). Em Roma existia o conceito de “civitas” (cidade) e daí o termo “cidadão”. Em Atenas existia o conceito de “polis” (cidade-estado) e daí vem o termo “política”.
O cidadão romano seguia normas coletivas e foi lá que nasceram muitas das atuais teorias sobre o direito. O homem grego era preparado para trabalhar (de graça e sem normas escritas) pela sociedade.
Por serem diferentes os ambientes sociais, enquanto o termo grego “Ethos” (com significado de “morada do homem”) deu origem à “ética”, o termo “Mores” (“morada”, simplesmente) deu origem à “moral”. Assim, “Ética” é juízo interior, e “Moral” é atitude social.
Pode-se, então, dizer que é o nosso conjunto de valores (a Ética) que deve fundamentar o nosso conjunto de ações (a “Moral”) na vida em sociedade.
Para que haja ética são necessários:
(1) Um conjunto de Valores (o bem, a verdade, a justiça...);
(2) O reconhecimento de que temos uma Consciência;
(3) A liberdade de escolha;
(4) A responsabilidade com o outro;
(5) A atitude: não basta pensar de um modo. É preciso fazer!
Ética não é uma ciência (como a matemática, ou a física); mas, ela pode nos ajudar a fazer uma escolha: temos de reconhecer nossos próprios valores, refletir sobre eles e verificar se nossos atos são conflitantes ou contraditórios.
Podemos dizer que ocorre um “dilema ético” quando, numa questão de “juízo de valor”, há dois ou mais “caminhos” a se tomar.
Eis um atual dilema ético: “preservação de vidas humanas na sociedade”, ou “preservação da estabilidade econômica de um Estado”?
O presidente da República, capitão reformado Jair Bolsonaro, fez um confuso pronunciamento à nação na noite de 24 de março, priorizando a economia e minimizando a importância de preservar vidas humanas (especialmente de idosos), em razão da síndrome clínica provocada pelo “Covid 19”.
Imediatamente irrompeu-se um “panelaço” de protesto em Brasília, nas capitais e em grandes cidades do país. Esse momento caracterizou, mais do que uma simples rebeldia, a expressão coletiva de uma escolha ética pela vida humana!
Afinal, “Nenhum homem é uma ilha, isolado em si mesmo; todo homem é um pedaço do continente, uma parte da totalidade. Quando um torrão de terra é levado pelo mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar dos teus amigos ou o teu próprio; a morte de um homem qualquer me diminui, porque sou parte da humanidade, e por isso nunca mandes indagar por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.” (poema “Devotions” _ traduzido geralmente em nossa língua como “Meditações” _ de John Donne, Londres, 1572-1631).
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* coronel QOR e presidente da Academia de Letras João Guimarães Rosa da Polícia Militar.