RETIRO C. FOUC-IRZ. MADALENA

Este é um número especial de O Nosso Boletim. Contém temas preparados pelas Irmãzinhas para um retiro feito individualmente. Como já se falou entre nós, procure formar um grupo de leigos, de preferência jovens, que faça estas meditações sem compromissos com nenhuma estrutura de Fraternidade. Trata-se de pôr o grupo em contato com a espiritualidade do Irmão Carlos, e isso de forma gratuita. No entanto, tais meditações podem se constituir num primeiro passo para um aprofundamento maior e até mesmo um compromisso em alguma fraternidade da Família. Um passo direto da vida contemporânea para uma fraternidade das Irmãzinhas, por exemplo, pode ser um passo largo demais para ser dado de uma vez. Cada padre da Fraternidade Sacerdotal poderia formar um grupo para as nove meditações. Talvez, mais tarde, esses grupos estabeleçam laços de ligação entre si. Boa leitura, boa meditação.

Retiro com Irmão Carlos e Irmãzinha Madalena

Introdução

Inúmeras Irmãzinhas expressaram o desejo de fazer um retiro com o Irmão Carlos e Irmãzinha Madalena, e de se deixarem guiar pela escuta da Palavra de Deus que transformou a vida deles.

Pensamos também nas Irmãzinhas que são convidadas a animar um retiro no interior da Fraternidade.

Por isso preparamos um itinerário para ajudar a entender o que o Senhor quer nos dizer durante o retiro. Este itinerário seria para ser utilizado livremente seguindo as necessidades e o ritmo de cada uma. Seria bom também que se deixassem guiar pelas leituras litúrgicas de cada dia.

Prevemos nove dias, tendo um dia de deserto no meio. No começo de cada dia, há um breve momento de encontro com a Palavra de Deus e do tema escolhido para orientar esse dia.

Seria bom que se percebesse a ligação entre esta Palavra e o que ela despertou no coração do Irmão Carlos e de Irmãzinha Madalena.

Em seguida propomos diferentes textos para serem lidos e meditados pessoalmente, em silêncio, durante o dia:

- primeiro, algumas passagens da Escritura, sempre em ligação com o tema;

- depois, alguns escritos do Irmão Carlos e de Irmãzinha Madalena. A maior parte deles são textos já conhecidos, mas os escolhemos porque nos pareceram lançar uma luz própria ao nosso carisma.

Não é um estudo, cada uma pode escolher livremente os textos que falaram mais ao seu coração. Poderá também escolher apenas os textos do Ir. Carlos ou só os da Irmãzinha Madalena.

A finalidade não é a de ler muito, mas de deixar ressoar em nós um outro texto e escolher a Palavra de Deus que quer nos dizer algo através desses textos.

Sugerimos no fim de alguns dias deste retiro, um breve pensamento que poderá se prolongar em atitude de adoração.

Ficaremos contentes se este simples projeto, como uma fagulha, pudesse suscitar muitos outros aqui ali, seguindo o sopro do Espírito...

Fraternalmente,

Irmãzinhas Annie e Luiza-Augusta

SEGUINDO OS DIAS...

Na véspera “Eu a conduzirei ao deserto...” Os 2,16

1º dia “Senhor és nosso Pai, nós somos o barro, e tu és o nosso oleiro:

todos nós somos obra de tuas mãos” Is 64,7

2º dia “Eu te peguei pela mão e te dei forma” Is 42,6

3º dia “Procurarei aquele que meu coração ama” Ct 3,2

4º dia “Meu Deus de dia eu grito e não me respondes” Sl 22,3

5º dia “Dia de deserto”

6º dia “Eu te seguirei para onde quer que fores...” Lc 9,57

7º dia “Como Jesus...”

8º dia “...olharão para aquele que transpassaram” Jo 19,37

9º dia “Tenham em vocês os mesmos sentimentos que havia em Jesus Cristo” Fl 2,5

* * *

NA VÉSPERA, DE NOITE

“Eu a conduzirei ao Deserto...” (Os 2, 16)

Retiro é um tempo em que Deus fala ao coração..., e Deus fala ao coração que escuta.

Textos de Orientação:

1º) Texto Bíblico:

Oséias 2, 16-17.21-22:

“Agora sou eu que vou seduzi-la,

vou levá-la ao deserto e conquistar seu coração.

Aí eu lhe devolverei as videiras,

e o Vale da Desgraça se transformará

em Porta da Esperança.

Aí ela vai me responder como nos dias

de sua mocidade,

como no dia em que saiu da terra do Egito.

Eu me casarei com você para sempre,

eu me casarei com você na justiça e no direito,

no amor e na ternura.

Eu me casarei com você na fidelidade

e você conhecerá o Senhor”.

(Seu desejo: que o conheçamos...)

Escutar para acolher não aquilo que queremos ouvir, mas aquilo que o Senhor quer nos dizer hoje pelo seu Espírito Santo.

VENI CREATOR (Vinde Espírito Criador), que o Irmão Carlos cantava quatro vezes por dia (três vezes durante o dia e a meia noite).

Sublinhar a última estrofe, talvez repetindo-a juntas:

2º) Do Irmão Carlos:

O “VENI CREATOR” rezando nas três horas principais do dia, é o grito dos irmãos e irmãs exilados, dirigindo ao Pai celeste para suplicar-lhe enviar a esta humanidade criada por Ele, a cada hora do dia que lhe concede neste vale de lágrimas, seu Espírito Santo “pão de cada dia” e a “única coisa necessária”; “os Irmãos e Irmãs colocam todo seu coração nessa oração, pedindo por todas as pessoas sem exceção”.

“É preciso passar pelo deserto a aí permanecer para receber as graças de Deus: quando nos esvaziamos é que expulsamos de nós tudo aquilo que não é Deus, esvaziamos totalmente esta pequenina casa de nossa alma para deixar lugar só para Deus... Os hebreus passaram pelo deserto, Moisés aí viveu antes de receber sua missão, São Paulo saindo de Damasco foi passar três anos na Arábia, seus padroeiros São Jerônimo e São João Crisóstomo também se prepararam no deserto... é indispensável... é um tempo de graças... é um período pela qual toda alma que deseja dar frutos deve passar obrigatoriamente, ela precisa do silêncio, do recolhimento, desse esquecimento de tudo que foi criado e no meio do qual Deus estabeleceu na alma seu reino e forma nela o espírito interior... a vida íntima com Deus...

O diálogo da alma com Deus na Fé, na esperança e no amor... mais tarde a alma produzirá frutos na medida em que o ser interior terá sido nela formado...”

PRIMEIRO DIA

“Senhor, és nosso Pai, nós somos o barro, e Tu és o nosso oleiro:

Todos nós somos obra de Tuas mãos” (Is 64,7).

Salmo 145, 8-9. 15-21:

“O Senhor é piedade e compaixão

lento para a cólera e cheio de amor.

O Senhor é bom para todos,

compassivo com todas as suas obras.

Em ti esperam os olhos de todos

e no tempo certo lhe dás o alimento.

Abres a mão

e sacias à vontade todo ser vivo

Minha boca pronuncie o louvor do Senhor,

e todo ser vivo bendiga seu nome santo

para sempre e eternamente”.

Reconhecemos nossa fragilidade e nossa dependência de criatura?

reconhecemos que fomos moldados com o barro do chão e que vivemos só pelo sopro do espírito de Deus?

“Então o Senhor modelou os homem com o barro e o solo, soprou-lhe nas narinas um sopro de vida, e o homem tornou-se um ser vivente” (Gn 2,7).

Aceitamos essa dependência, ou Senhor terá que nos dizer também: “Ai daquele que sendo apenas um vaso de barro se atreve a dizer para seu criador, ao oleiro: que isso que você está fazendo”?...(Is 45,9).

Jesus, o Filho Bem-Amado, nos mostra a maneira de entramos na comunhão de amor a que somos chamados desde toda eternidade: “Se vocês não se tornarem como criancinhas...”

Orientação para este dia:

1º) Textos bíblicos: Sl 145 e Ef 1, 3-6

2º) Abandono do Irmão Carlos:

São Lucas 23, 46: “Meu Pai, em tuas mãos entrego meu espírito”.

É a última oração de nosso Mestre, de nosso Bem-Amado... que ela possa ser a nossa também... e que não seja somente a de nosso último instante, mas de todos os instantes: Meu Pai, eu me coloco entre vossas mãos; meu Pai, eu me abandono a Vós, eu confio em Vós; meu Pai, fazei de mim o que quisestes; o que fizeres de mim eu vós agradeço; obrigado por tudo, estou pronto para tudo, aceito tudo; agradeço-lhe tudo: contanto que vossa vontade se faça em mim, meu Deus; e em todas as criaturas, em todas vossos filhos, em todos aqueles que são amados pelo vosso coração, não desejo outra coisa meu Deus; entrego minha vida em vossas mãos; eu dou meu Deus, com todo o amor do meu coração, porque eu vos amo e porque é para mim uma necessidade de amor dar-me, entregar-me em vossas mãos sem medida; entrego-me em Vossas mãos com uma infinita confiança, porque sois meu Pai...

De Irmãzinha Madalena:

“A espiritualidade do presépio é para nós a própria fonte do espírito de infância... desta infância espiritual tão difícil porque ela é para nós uma atitude de fé que somente o Espírito Santo pode tornar compreensível e que só fica esclarecida com mistério da Paternidade divina. Claro, todo cristão é filho de Deus e deve se comportar como filho. Mas, se quisermos ser não filhas de Deus, mas ‘filhinhas’ como exige nossa vocação é preciso penetrar mais ainda neste mistério e nos abandonar, sem limites e com uma confiança infinita na Providência do Pai.

E por isso, parece-me, que a característica da infância espiritual que é a nossa, só pode ser compreendida pelo mistério do Presépio: Deus, por amor fazendo-se criancinha... o Filho de Deus aceitamos por excesso de amor. Ele que é a Ciências e a Potência infinitas, passar por esse estado de franqueza e importância... o Cristo dando primeiro o testamento do seu amor pelo aniquilamento do Presépio antes de dar o outro testemunho pela sua morte na Cruz.” (Regra de Vida)

Outubro de 1946

A Santíssima Trindade

“Jesus, Pequenino Jesus, onde me levaste pela mão!

Em que maravilhoso e secreto jardim me fizeste penetrar, em que esplendor de luz me introduzistes!

Eu queria ficar perto do Teu presépio, nesta doce luz que derramas. Era já tão lindo e ter-me-ia contentado de passar a vida contemplando-o a te completar, como já o tinha visto uma vez - toda luz – toda Mansidão – toda Pureza – todo Amor.

E aos pouquinhos, o Pequenino do presépio cresceu. Não era mais o Pequenino que agente carrega nos braços – era a criancinha que pega na sua mão e lhe mostra o caminho.

E me conduziste para Teu Pai que é meu Pai. E isto não se traduz mais com palavras humanas – eu pelo menos, sou incapaz de traduzi-la. Não sei o que dizer – sou sua filha, sua criatura – e mais do que nunca queria me abismar na contemplação, na adoração – perto de Ti, Jesus, por Ti – mas para ir ao Pai – e isto Te deixará muito feliz por que nada é mais importante para Ti do que a Glória do Teu Pai.

E compreendi que é isto que tenho que ensinar às minhas irmãzinhas – que Jesus é o Caminho – que é o Verbo – que tudo não termina Nele, que ele não é o Centro Sozinho – mas que faz parte de uma Trindade divina na qual me faz entrar conduzindo-me pela sua mão de criancinha”.

Maio de 1946

Senhor, com os olhos fechados, de mãos dadas convosco – com todo este amor que cresce por Vós, repito ainda: “Que se faça Vossa Vontade.”

Vosso amor crescendo – Oh, é o grande mistério, no mais profundo da alma e ninguém poderá conhecer o segredo do Rei. As pessoas vêem apenas o exterior e serão cada vez mais severas comigo. Mas Vós conheceis, Senhor, o segredo que existe entre nós dois – Por que desejo tanto o céu agora? – o céu Sois Vós, Senhor.

3º) louvor:

Do Irmão Carlos: 9 de Julho de 1911 - Assekrem

“A vista é mais bela do que podemos dizer ou imaginar. Ninguém pode ter idéia da floresta de pedras pontiagudas e das agulhas rochosas que vemos lá embaixo: é uma maravilha ... não podemos vê-las sem pensar logo em Deus, tenho dificuldade de despregar meus olhos desta vista admirável cuja beleza e impressão de infinita nos aproximam tanto do Criador, e ao mesmo tempo essa solidão e o aspecto selvagem mostram o quanto estamos sós com Ele e que somos apenas uma gota d’água no oceano”...

De Irmãzinha Madalena: El Abiodh, novembro de 1946.

“Para mim, a oração é essencialmente uma vida – e depois não consigo separar Deus de toda a criação, porque Deus está tão vivo e presente em toda a criação. Por isso quero chegar a Ele na oração com todas as criaturas e não me separar delas, para levá-las a Ele, para que Ele também não seja separado de tudo que criou, tudo que ama com seu amor de Criador, de Pai”.


SEGUNDO DIA

“Eu te peguei pela mão e te dei forma” (Is, 42,6)

Sl 139,1-18

Salmo 139,13-14

“Sim! pois tu formaste meus rins,

tu me teceste no seio materno.

Eu te agradeço por tão grande prodígio,

E me maravilho com tuas maravilhas”.

- Poderei reconhecer esta ação amorosa de Deus que modela, cada dia minha vida, a massa humana que sou eu, com suas fraquezas, suas feridas e suas infidelidade?

- Poderei reler na minha história o rastro de sua presença e do seu amor poderei confessar com o salmista: “Abriste um caminho entre águas, uma senda nas águas torrenciais sem deixar rastros dos teus passos”? (Sl 77,20)

Ou será que estou na escuridão e só posso me dirigir a Deus como aconteceu a Jó?

“Tuas mãos me formaram e modelaram todo meu ser, e agora tu te voltas contra mim?

para me aniquilar?

Lembra-te! Tu me fizeste de barro

Queres agora fazer-me voltar ao pó?” (Jó 10, 8-9).

Orientação para este dia:

1º) Textos bíblicos: Dt 8,1-6. 17-18 - 2 Cor 4, 7-10 e Lc 15

2º) Do Irmão Carlos: Nazaré – Novembro de 1897

“Eu. Minha vida passada. Misericórdia de Deus”.

Meu Senhor Jesus, constrói meus pensamentos, constrói minhas palavras. Se nas meditações precedentes me sentia incapaz quanto mais nesta aqui... Não é a matéria que falta, ao contrário, ela me arrasa. Haverá misericórdia para eles meu Deus? Misericórdia para ontem, para hoje, para todos os instantes da minha vida, desde antes do nascimento meu e antes dos tempos. Sinto-me afogado, as águas me cobrem por todos os lados... Ah! Meu Deus, todos nós temos de contar vossas misericórdias, todos nós criadores para a glória eterna e resgatadas pelo sangue de Jesus, por Vosso Sangue meu Senhor Jesus que estás a meu neste Tabernáculo: mas se todos temos essa dívida convosco, quanto mais eu!

Tamarrasset, 15 de Julho de 1916 – a Luís Massignon

“Recordemos sempre a dupla história das graças que Deus nos concedeu individualmente desde nosso nascimento, e a das nossas infidelidade; vamos nos encontrar aí, nós principalmente que vivemos muito tempo longe de Deus, e as provas de seu amor por nós sempre constantes e cheias de ternura e também as provas tão numerosas de nossa miséria. Motivo para nos jogarmos em seu amor com uma confiança sem limites (Ele nos ama porque é bom e não porque nós somos bons. As mães não amam seus filhos desviados?) e mergulhamos na humildade e na desconfiança de nós...”

Tamarrasset, 1º de Maio de 1912 - à Luís Massignon

“Paz e confiança, esperança – não se feche em você mesmo, as misérias da nossa alma são como lama pela qual é preciso se humilhar muitas vezes mas que não é preciso ter sempre os olhos fixos nela. É preciso fixá-los também e mais ainda no bem-amado, na sua bondade, no amor infinito e incriado com que se digna nos amar... Quando amamos, nos esquecemos de nós e só pensamos na pessoa amada. Não é amor quando pensamos sem cessar que somos indignos desse amor... Quem ama só quer pensar na pessoa amada e naquilo que ela ama”.

3º) De Irmãzinha Madalena: 1º de Junho de 1940

“Se estes escritos não forem destruídos e forem encontrados depois de minha morte, suplico a todos que lerão que esqueçam minha pobre pessoa tão miserável e só vejam neles uma manifestação do amor de Deus. Tudo vem Dele. Eu só tenho minha pobreza e minha miséria.

Ele foi me buscar bem longe, e depois de vários anos de resistência levou-me bem pertinho Dele.

Queria poder partilhar minha alegria. Gostaria de comunicar este amor que transborda em mim . Vou começar por escrever, um dia depois do outro, como o percebo, como penso que é. Cada dia Jesus me dará a luz necessária sobre o que posso fazer para comunicar este amor”.

“Uma noite tinha me deitado cheia de temor e dor na alma, chorando sem poder me consolar – e de repente me encontrei num pátio que por uma estranha coincidência era igual ao do noviciado”.

Vejo a cena como se tivesse se passado ainda ontem.

Diante de mim caminhavam duas ou três pessoas que pareciam muito santas, e que eu não conhecia – e no fundo, à direita, estava a Virgem Maria com o Menino Jesus nos braços. Um menino Jesus como eu nunca poderia imaginar, porque sobrepujava toda visão humana. Não posso sem sequer descrevê-lo, porque as únicas palavras que encontro são: doçura e principalmente amor.

E a Santíssima Virgem parecia querer dá-lo a alguém. Que suplício! Eu estava certa que ela não o daria a mim, porque não tinha a alma nem coração bastante puros para receber um favor desses e fiquei no fundo, chorando mais do que nunca a minha indignidade.

Não ousava olhar – e no entanto, atraída apesar de tudo, fiquei estupefata ao ver a primeira, a segunda e depois a terceira pessoa passarem diante da Ssma. Virgem e não perceberem nada. Elas estavam recolhidas tão piedosamente, e eu queria lhes gritar que olhassem.

Então encontrei-me sozinha diante da visão e... foi a mim que Nossa Senhora deu o Pequenino Jesus para carregar. Não pensei mais nos meus pecados, mas nessa alegria que não posso expressar com palavras humanas”.

No dia 11 de Dezembro de 1961, irmãzinha Madalena enviou a cada uma das irmãzinhas um santinho do Menino Jesus “com os braços bem abertos para lhes acolher” disse-nos ela:

“Agora que trouxe vocês até diante Dele, ajoelhada a seus pés queria ajudá-las a fazer um exame de consciência... não com medo, mas cheias de esperança... um exame embora soframos porque reconhecemos ter ofendido um Deus tão bom e que a gente levou até a cruz aquele que veio nos estender os braços com tanto amor deitado nas palhas do presépio...

E depois de se terem examinado e colocado suas promessas aos pés do presépio, deixem-se penetrar pela alegria do Natal que é fonte de esperança e de amor”.

* * *

(De Noite)

No fim deste dia entreguemos tudo que passou à terra misericórdia de nosso Deus e escutemos o que nos diz:

“No fiquem lembrando o passado,

não pensem nas coisas antigas,

vejam que estou fazendo uma coisa nova:

ela está brotando agora, e vocês não percebem”? (Is 43, 18-19)

TERCEIRO DIA

“Procurarei aquele que meu coração ama” (Cântico 3, 2).

Salmo 42, 2-3

“Como a corça bramindo por águas correntes,

assim minha alma está bramindo por Ti, ó meu Deus”.

Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo:

Quando voltarei a ver a face de Deus?”

“Tu nos criaste para Ti, Senhor, e nosso coração está inquieto enquanto não repousar em Ti”.

Tu nos buscastes e nós te buscamos no decorrer de nossa história.

Hoje, não será o momento de acordamos e escutarmos, como no 1º dia, Jesus nos dizer: “a quem procuram”? e de lhe perguntarmos: “Mestre, onde moras”? ( Jo 1, 38).

Não será o momento de escutá-lo ainda responder no silêncio “desce depressa, porque preciso ficar hoje em tua casa”? (Lc 19, 5) .

Orientações para este dia:

1º) Textos bíblicos: Sl 42 – 43 - Jo 1, 35-51 e Ap 3, 20-21

2º) Do Irmão Carlos: Carta à Henri Duveyrier – 24 de Abril de 1890

“Por que entrei na Trapa? Por amor , por puro amor.. Amo Nosso Senhor Jesus Cristo embora com um coração que queria amar mais e melhor, mas enfim eu amo e não posso suportar viver uma vida diferente da dele, uma vida tranqüila e cheia de honras, quando a dele foi a mais dura e desprezada que existiu...” Retiro em Nazaré – Novembro de 1897.

“Meu Deus, como sois bom: pela manhã fiquei neste querido quartinho onde é tão gostoso ficar a seus pés durante horas silenciosas da noite, ficar diante de vós enquanto tudo e todas dormem nesta terra, ficar sozinho adorando- vos, ajoelhado a seus pés e repetindo que Vos amo, enquanto a noite envolve tudo na escuridão, no silêncio e no sono... Agora vivo a graça das graças... estou diante do Santíssimo Sacramento, e do Santíssimo Sacramento exposto! Que felicidade! Estou tão perto de vós, meu Deus! Fazei com que me comporte como devo, dai-me os pensamentos, as palavras que devo ter, em Vós, por Vós e para Vós...”

“Meu Deus, fazei com que eu tenha um sentimento contínuo da vossa presença, das presença em mim e a minha volta... e ao mesmo tempo um amor temeroso que sentimos diante da pessoa a quem amamos apaixonadamente, e que faz com que a contemplemos amorosamente desejando fazer-lhe só o que lhe agrada, tudo o que é bom para ela e ao mesmo tempo receio de fazer, dizer ou pensar qualquer coisa que a desgaste ou lhe faça mal... Em vós, por Vós e para Vós. Amém”.

Carta à Massignon – 12 de Agosto de 1916

“Creio que não há palavra no Evangelho que tenha produzido em mim uma tão grande impressão e transformando totalmente minha vida do que esta ‘tudo o que fizestes a um destes pequeninos, é a mim que fazes.

Se imaginamos que essas palavras são as da Verdade incriada da própria boca que disse: ‘Isto é o meu Corpo, isto é o meu Sangue... com que força somos levados a buscar e amar a Jesus nesses pequenos’, nesses pecadores, nesses pobres”.

3º) De Irmãzinha Madalena: Carta de Natal – 8 de Dezembro de 1979

“Suplico-lhes, deixem-me esperar que desta vez meu pedido será atendido e que vocês vão tentar viver em suas fraternidades este carisma do Irmãozinho Carlos de Jesus, e que se tornou o carisma da Fraternidade.

Juntas, vamos todas recomeçar com uma nova coragem. Não, não está acima das forças humanas o que é pedido, mas sua condição é a de nos apoiarmos no Senhor. Então, o nosso exame de consciência deste fim de ano, será centralizado na Pessoa de Jesus:

- Será ele, de verdade, nosso Bem-Amado Irmão e Senhor!

- Que lugar ele ocupa em nossa vida?

- Ele é nossa única preocupação durante o dia?

- Conversamos com ele como O amigo o mais querido, amado apaixonadamente?

- Quando parece que não amamos, pensamos logo em pedir perdão à Nosso Senhor para que Ele nos ajude a pedir perdão aquele ou aquela a quem machucamos? O evangelho e as Constituições lhes pedem ‘para perdoar até setenta vezes’ sete vezes, quer dizer, infinitamente...”

1º de Junho de 1940 – Notas íntimas

“Jesus! Não há nada mais belo do que ele! Nada que contenha mais doçura do que Ele. Nada maior do que Ele. Quando o possuímos, não podemos possuir nada maior!

E este Jesus – para possuí-lo – é preciso somente entregar-se a Ele – com os olhos fechados.

Não devemos tentar compreender. E um mistério de amor. Se tentarmos esmiuçar, iremos nos agitar e ficar com medo de não sermos dignas, de não correspondermos bastante, vamos querer fazer alguma coisa. Não é isso que Ele quer. Ele quer que a agente se abandone... de olhos fechados.

Jesus – tu sabes qual é o meu desejo, meu único e imenso desejo. Não ouso escrevê-lo - é tão audacioso. Mas tu encorajas esta audácia – porque este desejo foste tu quem me deste - Quero ser para Ti um lugar de delícias. E este desejo que me torna mais calma porque Jesus não pode se deliciar numa alma aceitada. Ele que é só paz, doçura.

Jesus, amo-Te com um amor infinito, na paz e na alegria”.

24 de Agosto de 1947 – ao Padre Voillaume

“Você disse que a vida contemplativa é uma vida de amizade com a Pessoa de Jesus, é uma vida interior muito mais profunda de contato com Deus. Por que esta amizade, este contato não poderiam coexistir com um chamado às almas e mesmo às multidões?

E não é justamente porque a amizade será maior, a intimidade mais profunda que teremos mais sede de levar Jesus às multidões, de fazê-lo irradiar, de torná-Lo amado?

E não é porque percebemos todas as necessidades dessa multidão que teremos ainda mais sede de nos enchermos de Jesus e de ficar a sós com Ele?

Você pensa demais que meu caso é um caso excepcional. Todas as irmãzinhas que me rodeiam têm este mesmo apelo bem nítido nelas. É uma necessidade do tempo presente - um sopro do Espírito Santo. Quando elas vem me ver, sejam do Norte, do Leste, do Oeste - da Inglaterra ou da Itália, por toda parte se encontra o mesmo apelo: vida contemplativa intensa, vida totalmente inserida. Não vá mudar os termos, você faria mal a todas essas almas que nos procuram”.

No fim deste dia, vamos dizer, dando graças: “Tú és meu Bem-Amado Irmão e Senhor Jesus”.

QUARTO DIA

“Meu Deus, de dia eu grito e não me respondes” (Sl 22,3).

Salmo 22, 1-6:

“Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?

Apesar de meus gritos, minha prece não te alcança!

De dia eu grito, meu Deus, e não me respondes.

Grito de noite, e não fazes caso de mim!

E tu habitas no santuário,

Onde Israel te louva!

Nossos antepassados confiam em ti;

Confiavam em ti, e tu os salvavas;

Gritavam a ti e ficavam livres,

Confiavam em ti, e não se desapontaram”.

Com Jesus, deixemos nossos gritos chegarem a Deus diante do sofrimento e do mal que esmaga nosso mundo, diante de certas situações da Igreja, diante da morte que parece triunfar. Ousemos dizer nossa confusão diante do silêncio de Deus... (cf “Tu me colocas na poeira da morte”... Sl 22,16).

- Jesus foi realmente conduzido até “a poeira da morte”, mas Deus o ressuscitou pelo poder do Espírito.

Cremos que agora, de todas os lugares de morte, poderá surgir a vida, pelo poder deste Espírito, o Espírito que Jesus espalhou?

Para nós também Nosso Senhor diz: “dirás ao espírito assim fala o Senhor Javé: Espírito, venha dos quatro ventos, e sopre nestes cadáveres, para que vivam” (Ez 37, 9).

Presos na tempestade, com Jesus dormindo, os discípulos conheceram a angústia “Mestre, vamos morrer, isso não te importa?” (Mc 4, 38).

Hoje, ressuscitado dentre os mortos, Jesus nos diz o que disse aos apóstolos “por que vocês são tão medrosos? Vocês ainda não têm fé?” (Mc 4, 40).

Supliquemos-lhe que venha fortificar nossa fé tão pequena.

Orientação para este dia:

1º) Textos bíblicos: Ez 3, 1-14 - Mc 4, 35-41 e Mc 9, 22-24

2º) Do Irmão Carlos: Nazaré 1897 – 1898

“Jesus se levantou e ameaçou o vento e disse ao mar: Cale-se! acalme-se! O vento parou e tudo ficou calmo” (Mc 4, 39).

“Esperemos! O Mestre divino está presente em nossa alma como estava na barca de Pedro... Algumas vezes ele parece dormir, mas sempre está presente, pronto para salvar, pronto para atender nosso pedido, esperando nosso chamado ou às vezes o momento favorável à nossa alma para dizer ao mar: ‘Cala-te! Com uma só palavra Ele pode sempre acalmar todas as tempestades, afastar todos os perigos e em seguida fazer surgir uma grande calma às angústias mortais... Roguemos sempre ao Senhor! Quanto mais a tempestade nos agitar, mais precisamos erguer para Ele o coração e as mãos, e orando esperemos com toda nossa confiança”.

Ao Dom Carom

“Venerável Padre,

Muita coragem; não se espante por acusa das tempestades presentes, a barca de Pedro viu piores... Pense na noite do dia em que foram martirizados São Pedro e São Paulo. Como tudo devia parecer sombrio para pequena comunidade cristã de Roma. Os primeiros cristãos não perderam a coragem. Nós que temos para fortificar nossa fé, aos 18 séculos de vida da Igreja, como devem nos parecer pequenos esses esforços do inferno do qual Jesus disse que não prevalecerão jamais...”

Nazaré, 1898

“Homem incrédulo, por que duvidaste?...” Como é grande a fé que Nosso Senhor nos pede! e é justo somos-lhe devedores dessa grande fé... Depois da palavra de Nosso Senhor ‘VEM’, Pedro não devia mais duvidar de nada e caminhar com toda confiança sobre as águas... Nós também, quando Jesus nos chama a um estado de vida e nos dá uma vocação não devemos mais ter medo, mas enfrentar sem hesitações os obstáculos mais intransponíveis: Jesus disse: ‘VEM’, aí recebemos a graça para caminhar sobre as ondas. Isto parece impossível: mas Jesus é o mestre do impossível: a única coisa impossível seria sua palavra ‘VEM’ não tornar possível esses obstáculos...

É preciso portanto três coisas, primeiro fazer como Pedro, suplicar ao Nosso Senhor que Ele nos chame: depois, o direito de nos lançarmos ao mar (seria presunção, imprudência, arriscar gravemente sua vida, seria pecado e talvez pecado grave, pois arriscar a vida da alma é ainda mais criminoso que aventurar a vida corporal), então depois de ter escutado claramente (até aí nosso dever era rezar e esperar), jogar-se na água sem hesitação, como São Pedro; e enfim é preciso, confiante no ‘vem’, proferido pela boca de Deus, caminhar até o fim sobre as ondas agitadas sem medo nenhum, sem inquietação, certos de que se caminharmos com fé e felicidade, tudo será fácil no caminho por onde Jesus nos chama, e isso por causa da força da palavra Vem... Depois que Ele nos diz ‘VEM’ caminhemos pela via que Ele nos indicar com uma fé total porque ‘a terra e o céu passarão mas a sua palavra não passará jamais”.

3º) De Irmãzinha Madalena: 1º de Setembro de 1949

“Não tenham medo. Não parem diante da constatação que pode lhes demolir, preparem a reconstrução... Nosso Senhor está com vocês. Peçam-lhe uma fé capaz de transportar as montanhas e a desenraizar os rochedos, confiando em seu Poder e seu Amor... mas sempre desconfiando de vocês resultando de um real conhecimento próprio, com essa fé humilde que toca sempre o coração de Nosso Senhor... Digam-lhe sem cessar: “não sou nada mas Vós sois tudo. Não tenho nada, mas Vós possuís tudo. Eu nada posso mas Vós podeis tudo. O que lhe peço hoje é muito mas fácil do que transportar uma montanha e Vós prometestes conceder como recompensa de uma fé tão grande quanto um grão de mostarda”.

É preciso que vocês tenham, assim como eu, essa fé capaz de demolir todas os obstáculos do mundo e do inferno”.

Descendo do Assekrem, 15 de Dezembro 1950

“Para cada uma de vocês em Tamarrasset, eu peço a graça da alegria. Peço-a com toda a força e principalmente para aquelas que sofrem e estão como que vivendo num túnel. Que estas olhem bem... e verão aparecer lá no fim do túnel uma estrelinha portadora de esperança que alegrará seus corações e depois ela vai se colocar bem em cima do berço onde as espera o pequenino Jesus...

Sigam logo a estrela mensageira da esperança. Por um certo tempo os Magos a perderam de vista e teriam voltado para suas casas cheios de tristeza e desamparados se não tivessem no fundo de seus corações a certeza de que um dia tinham visto essa estrela.

Assim vocês, um dia, nem que tenha sido apenas por uma hora, vocês vislumbraram uma luzinha que fez com que abandonassem tudo por Amor a Cristo. Por favor, não fechem os olhos diante desta luz. Cheguem perto do presépio e supliquem ao Pequenino Jesus para lhes mostrar sempre uma luzinha de esperança para que as trevas não tomem conta de vocês e possam caminhar generosamente nessa luz e que ela possa lhes guiar até aos confins do mundo, desde a baía de Hudson até a Papuasia, até ao Cabo da Boa Esperança”.

29 de Dezembro de 1959

“As constituições dão como uma de suas normas das mais importantes: ‘ter uma fé inabalável no poder de Jesus, mestre do impossível.

É como esta palavra de esperança e de confiança que precisamos olhar para o futuro. Nosso Senhor está sempre presente. Está presente até nos túneis mais escuros... E o Arco-íris é tanto mais bonito e mais forte e barulhenta e o túnel mais sombrio”.

* * *

(De Noite)

Esta noite escutemos Nosso Senhor dizer, como à Jerusalém devastada: “Assim fala o Senhor: Estou fazendo correr para Jerusalém a prosperidade como rio, e as riquezas das nações como córregos que transbordam. Os seus bebês serão levados no colo, e serão acariciados sobre os joelhos. Como a mãe consola o seu filho, assim eu vou consolar vocês; em Jerusalém, vocês serão consolados” (Is 66,12-13).

Depois do 4ª dia propomos um 5º. dia de “deserto”, para aquelas que puderem.

QUINTO DIA

Dia de deserto

DESERTO

O termo “deserto” vem da espiritualidade do irmão Carlos e é um tema clássico na história da espiritualidade cristã. O dia de deserto se entende como “dia de solidão”. O membro da fraternidade procura passar um dia de ao menos seis horas, cada mês, completamente à parte de tudo, a sós com o Senhor, de preferência sem nenhum material de leitura ou outras ajudas espirituais. É de grande utilidade começar na noite anterior e passar o dia seguinte em solidão. Os que são fiéis à prática do dia de deserto, descobrem o imenso benefício que ele traz para sua vida cristã e ministerial. A oração do dia consiste na entrega do nosso tempo a Deus, reconhecendo-o como o Absoluto de nossa vida. O deserto é um intenso despojamento em vista do essencial, juntamente com um forte sentido da presença de Deus e sua adoração. É uma experiência de esvaziamento de nós mesmos e experiência de que só Deus é o Absoluto de uma vida. Suspendendo nossas atividades, experimentamos a própria pobreza e a total dependência do Senhor. Experimentamos nossa fragilidade, nossa situação de criaturas. O deserto é freqüentemente um lugar de tentação. Alguns irmãos são tomados de melancolia, de desolação interior, de aridez. É então que sentimos a aguda necessidade do Espírito Santo para perseverarmos com coragem, apesar da nossa fraqueza, e permanecermos fiéis. Humanamente falando, a maior tentação pode ser a procura de resultados imediatos do dia de deserto.

O deserto não é primeiramente um lugar físico. No entanto, quanto mais simples e sem distrações o ambiente, mais favoráveis as condições para um dia proveitoso. Isso é importante como é importante entrar no dia com o espírito aberto e generoso. Alguns procuram um sítio, outros vão a uma praia deserta ou fazem longas caminhadas. Outros simplesmente ficam num quarto vazio onde passam o dia. Nossa revisão de vida é preparada em oração no dia de deserto, refletindo e interpretando na fé a atual compreensão de nossa vida espiritual.

SEXTO DIA

“... eu Te seguirei para onde quer que fores...” (Lc 9, 57).

Salmo 84, 2-8

“Como são desejáveis as tuas moradas

Javé dos Exércitos!

Minha alma suspira e desfalece

pelos átrios de Javé.

Meu coração e minha carne

exultam pelo Deus vivo

Até o pássaro encontrou uma casa,

e a andorinha um ninho,

onde põe seus filhotes:

os teus altares, Javé dos Exércitos,

meu rei e meu Deus!

Felizes os que habitam em tua casa:

eles te louvam sem cessar.

Felizes o e que encontram em ti a sua força

ao preparar sua peregrinação:

quando atravessam vales áridos

eles os transformam em oásis,

como se a primeira chuva

as cobrisse de bênçãos.

Eles caminhavam de fortaleza em fortaleza

até verem Deus em Sião...”

Deixamos tudo e te seguimos. Mas hoje, estaremos prontas a escutar a tua palavra e o que ela exige, como no 1º dia?

“Vende tudo e segue-me” (Mc 10, 21).

“Quem põe a mão no arado e olha para trás, não serve para o Reino de Deus” (Lc 9, 62).

As dificuldades do caminho, as experiências de nossa fraqueza, nos fizeram perder nossa bela segurança quando dizíamos a Jesus: “eu te seguirei onde quer que vás” (Lc 9, 57).

Certamente era preciso essa experiência para deixar Jesus nos olhar e dizer: “Para homens é impossível, mas para Deus não; para Deus tudo é possível” (Mc 10, 27).

- Pedro disse a Jesus: “...estou pronto para te seguir até mesmo na prisão e na morte...”

(Lc 22, 33).

Mas ele teve que passar pela prova da negação para reaprender no profundo de sua miséria a única pergunta de Jesus: “Senhor, Tu sabes tudo, bem sabes que Te amo” (Jo 21,17).

Coloquemos-nos neste dia sob o olhar amante de Jesus:

“Em verdade, em verdade eu te digo: quando eras jovem, colocavas teu cinto e ias para onde querias. Quando fores velho, estenderás tuas mãos e outro te colocará o cinto e te levará para onde não queres ir” ( Jo 21,18).

Aceitamos de verdade este seguimento de Jesus? (“Segue-me” Jo 21, 19-22).

Orientação para esse dia:

1º) Textos bíblicos: Sl 84 - Ap 2, 1-4; Ap 3, 14-22 -Lc 9,57-62 - Lc 22,31-34 e Jo 21,15-22

2º) Do irmão Carlos:

“Segue-me... Tu, segue-me!” (Jo 21,19-22).

“Como sois bom, meu Deus, como esta última palavra do último Evangelho e eterna, doce, salutar, amorosa! ‘Segue-me’ quer dizer imita-me! Haverá coisa mais afetuosa? Coisa mais amável de se escutar quando se ama? Coisa mais salutar já que a imitação está intimamente unida ao amor, e dizer ‘imita-me’ quer dizer ama-me! Haverá algo mais amoroso do que dizer ‘imita-me’ para me amar perfeitamente?

Imitemos, imitemos Jesus! A imitação é filha, irmã, mãe do amor. Imitemos Jesus porque o amamos. Imitemos Jesus para ama-lo mais ainda. Imitemos Jesus porque ele nos pede e porque obedecer é amar... A primeira palavra de Jesus a seus apóstolos é ‘Vinde e vede’, isto é ‘Siga-me e vejam ‘, isto é imitai-me e completai-me... A última palavra é ‘Segue-me’, isto é ‘imita-me’. Portanto amemos Jesus sempre, obedeçamo-lhes, imitemo-lo...”

Carta à Massignon

Tamarrasset, 15 de junho de 1916

“O amor consiste não em sentir que se ama mas em querer amar, quando queremos amar, a gente ama, quando queremos amar acima de tudo, amamos acima de tudo.

Se acontecer de cairmos em uma tentação, é porque o amor é muito fraco, isso não quer dizer que ele não exista: aí será preciso chorar como São Pedro, se humilhar como ele, mas também como ele, dizer três vezes ‘eu Vós amo, eu Vós amo, sabeis que apesar da minha fraqueza e meus pecados, eu Vós amo’.

Quanto ao amor que Jesus tem por nós, Ele já nos provou bastante para nós cremos sem o sentir; sentir que nós o amamos e que Ele nos ama, seria o céu: e o céu não é, salvo algumas exceções, para se viver aqui na terra...”

Carta à Maria de Bondy

Tamarrasset, 1º de dezembro de 1916

“Quando podemos sofrer e amar, podemos muito, podemos o mais possível neste mundo: sentimos quando sofremos, não sentimos sempre que amamos e isso é um grande sofrimento a mais! Mas sabemos que queremos amar e querer amar é amar. Achamos que amamos bastante; como isso é verdade, nunca amaremos bastante, mas o Bom Deus que conhece de que barro Ele nos modelou e que nos ama muito mais que uma mãe ama seu filho, nos diz, ele não mente, que jamais rejeitaria alguém que O procura”.

3º) Da Irmãzinha Madalena no Boletim Verde:

“O Irmão Carlos não abriu nenhum caminho novo, mas o único – o caminho de Jesus. Escolheu um Modelo Único: Jesus - um só Mestre, um só Senhor Jesus. Ele te dirá que não tenhas outro pensamento, outro amor, outro desejo, a não ser Jesus”.

Ele te dirá que só uma coisa é necessária: amar Jesus.

Mandará que caminhes colocando os pés nas marcas de seus passos”, ‘com a mão em suas mãos’, ‘que vivas a sua vida’, que reproduzas amorosamente os traços de Seu rosto. Ele te pedirá que com Sua graça, te deixes penetrar muito profundamente por Seu Espírito...”

E Jesus se tornará a única paixão de tua vida, como foi o do Irmão Carlos de Jesus. Seu amor imenso, resumido na divisa Jesus-Caritas, Jesus-Amor, há de identificar-te com o Cristo, a ponto de te assimilares a Ele: Ele em ti e tu N’ele.

E poderás então dizer como o Apóstolo: ‘Já não sou eu que vivo, é o Cristo que vive em mim’ (Gl 2,20).

Na regra da Vida (art.1)

“Por causa de Jesus e do seu Evangelho, em reposta a seu apelo, consagrarás tua vida ao amor de Deus e ao amor de todos os homens, teus irmãos, que Jesus amou a tal ponto que deu sua vida por cada um deles.

A fim de viver este amor plenamente e glorificar a Deus, tu te comprometes – com a ajuda do Espírito Santo – deixar tudo para seguir a Jesus segundo os conselhos evangélicos, desejosa de viver pobre entre os pobres, consagrada a Jesus pela castidade e entregue a Ele em sua Igreja pela obediência”.

4º) Do Padre Vaillaume:

“O trabalho secreto do amor” (março 1936)

“Tua vida é como uma peça de ouro que traz a imagem do amor de Cristo. Ela é para Deus, para Ele só. Mas, é uma vida verdadeira? Não é falsa? A liga composta mesmo ouro puro que só terá valor aos olhos Dele? Uma peça falsa se parece muito com a peça verdadeira”. O perfil da tua vida, tua regularidade, tuas preces, tudo isso pode te parecer puro, parecer impecável. Sim, para ti... mas será também para Ele? O amor próprio não dominará?

Tu és Irmãozinho de Jesus. O objetivo da tua vida é de ser companheiro de caminho, um companheiro de sofrimento, um companheiro de amor e de abandono doloroso para o Coração de Jesus, o verbo infinito. Deves viver entregue ao amor do Cristo.

Mas, já pensaste que precisas abandonar-te a ti mesmo? Quer dizer, realizar em ti, ou melhor, deixar que se realize em ti mesmo. Enquanto tiveres a certeza sentida e humana um pouco já satisfeita da utilidade da tua vocação – que não seja pela fé verdadeira – há muita chance de que teu amor próprio seja ainda o motivo de tua vida. Deixa Jesus trabalhar em ti aquilo que desejar o seu amor. E preciso que Ele faça a fundição da peça de ouro da tua vida para aí encontrar o ouro puro que vai alegrar seu Amor. Mas é preciso que passe pela fundição: para isso é preciso fogo. Não tenhas medo, somente crê. É preciso que a imagem de tua vida perca sua primeira forma, será o trabalho do amor modificar essa imagem que te agradava e com a qual ficavas satisfeito. Era um pouco para ti que realizavas um ideal que parecia sublime e que te atraia. Deixa só o Amor trabalhar”.

SÉTIMO DIA

Como Jesus...

Salmo 40, 7-9

“Não queres sacrifícios nem oferta,

mas abriste os meus ouvidos.

Tu não pedes holocaustos pelo pecado.

Então eu digo ‘Aqui estou’.

Como está escrito no livro

‘para fazer a tua vontade’

Meu Deus, eu quero ter a tua lei

dentro de minhas entranhas”.

- “Se alguém me ama, guarda a minha Palavra e meu Pai o amará”.

Eu e meu Pai veremos e faremos nele a nossa morada” (Jo 14, 23).

Bem ao íntimo do nosso coração, O Espírito de Jesus nos insira seus caminhos e nos lembra tudo o que disse (cf Jo 14, 26).

Peçamos-lhe a luz e a força de amar.

- “Antes da festa da Páscoa, Jesus sabia que tinha chegado a sua hora. A hora de passar deste mundo para o Pai. Ele que tinha amado os seus que estavam ao mundo, amou-os até o fim”

(Jo 13,1).

Ele, o Mestre e Senhor, lava os pés de seus discípulos. Pra isso ele tirou seu manto. E durante toda sua vida ele vai tirar algo de si para nos dar”. (cf Jo 13, 4 e Jo 17-18). “Isto e meu Corpo dado por vós. Tomai-o e comei-o” este é o último gesto do Servidor.

Deus é amor; ele não se impõe. ele se entrega em nossas mãos. Ele se oferece a nós, sem poder, desde o presépio até a cruz e nos atrai nesse caminho...

Orientação para esse dia:

1º) Textos bíblicos: Fl 2, 6-11 - Jo 14, 23-26 e Jo 13, 1-15 e Lc 22, 19-27

2º) Do Irmão Carlos: Junho de 1916

“... Jesus desceu com seus pais para Nazaré e permaneceu obediente a eles”.

- Ele desceu: toda sua vida só fez descer: descer na encarnação, descer tornando-se criancinha, descer obedecendo, descer tornando-se pobre, abandonando-se, exilando, perseguido, torturado, colocado-se sempre no último lugar: ‘quando fores convidado a uma festa, senta-te no último lugar’... e é isso que Ele faz desde que entrou no mundo, na festa da vida, até sua morte.

Ele foi a Nazaré, lugar da vida escondida, da vida comum, da familiar, de oração, de trabalho, de sombra, de virtudes silenciosas, praticadas sem outro testemunho a não ser o de Deus, de seus parentes, de seus vizinhos, desta vida santa, humilde, beneficiente, obscura. Como é a maior arte da vida humana, e deu qual ele deu o exemplo durante trinta anos... ‘Ele lhes era submisso’, ele, Deus, submisso aos humanos, deu exemplo de obediência, e de humildade, de renúncia em todo seu sentido e infinito como divindade”.

Diretório da União

“ Fazemos o bem não na medida daquilo que dizemos ou fazemos, mas na medida do que somos, na medida da graça que acompanha nossos atos, na medida em que Jesus vive em nós, na medida em que nossos atos forem os atos de Jesus agindo em nós e por nós...

Deus, para nos salvar veio a nós, misturou-se conosco viveu conosco num contato bem familiar e íntimo, desde a Anunciação até a Ascensão. Para a salvação das almas, Ele continua vindo a nós, a se misturar conosco, a viver conosco num contato íntimo de cada dia, de cada hora pela santa Eucaristia. Assim devemos, para trabalhar pela salvação das almas ir até elas, misturamos-nos a elas, viver com elas num contato familiar e íntimo”.

Diário de 1909

“Se me perguntarem por que sou manso e bom, devo dizer: ‘porque eu sou o servo de alguém bem melhor que eu, se vocês soubessem o quanto é bom meu Mestre Jesus... ‘Eu queria ser tão bom para que dissessem; se é assim o servo, como não será então o Mestre?”

3º) De Irmãzinha Madalena: Setembro de 1949

“Realizar cada vez mais sua vocação de ‘ser um deles’, que não sejam apenas palavras. Isso vai longe, vocês sabem. Fazer-se ‘um deles’ é enriquecer-se em contato com eles abandonando a ilusão de ter que dar-lhes qualquer coisa. Isso requer uma alma bem aberta e totalmente disponível.

O amor, o verdadeiro amor tem muitas exigências: amar como Cristo Jesus ama... estar disponível para os pequenos, aos mais necessitados de seus irmãos e a dor sua vida como Jesus deu sua. Só agindo assim vocês serão reconhecidas como seus discípulos e seus amigos”.

Maio de 1948

“Precisei ter muita coragem para ficar firme diante da incompreensão do ‘mundo eclesiástico e religioso.’ Queriam que fossemos diferentes e mais ‘dignas’ em nossas atitudes e nosso hábito. Espero que um dia vão acabar compreendendo que há um mundo no qual a Igreja é inexistente... ou se ela existe é um plano superior... E este mundo espera outra coisa... deixem-nos então entrar nele como pessoas ‘pequenas’... num plano de igualdade... isso vai acontecer, estou certa disso...

1960 – A infância espiritual e a mensagem do Presépio.

“Parece-me que a nuance da pequena infância espiritual que é a nossa, só poderá ser compreendida pelo mistério do Presépio: Deus, por amor, fazendo-se criancinha... filho de Deus aceitando, por este excesso de amor, Ele mesmo a Ciência e o Poder infinitos, passar por um tal estado de fraqueza e de falta de poder... o Cristo dando o primeiro testemunho de seu Amor pelo aniquilamento do Presépio antes de dá-lo pela sua morte na Cruz”.

* * *

(De noite)

“ninguém jamais viu Deus; quem nos revelou Deus foi o Filho Único que está junto do Pai” (Jo 1,18).

- Nesta noite contemplamos Jesus na fé e esperança até o dia em que “seremos semelhantes a Ele, porque o veremos como Ele é” (1Jo 3, 2).

OITAVO DIA

“...olharão para aquele que transpassaram”. (Jo 19,37).

Isaías 12, 2-6:

“Sim, Deus é a minha salvação”.

Eu confio e nada tenho a temer,

porque minha força e meu canto é Javé;

Ele é minha salvação

Com alegria vocês todos poderão

beber água nas fontes da salvação.

E esse dia, vocês dirão:

Agradeçam a Javé, invoquem o seu nome,

contem aos povos as façanhas que ele fez,

proclamem que seu nome é sublime;

cantem hinos a Javé, pois Ele fez proezas;

que toda a terra as reconheça.

Gritem de alegria e exultem, moradores de Sião,

pois Santo de Israel é grande no meio de você”.

- E agora, permaneçamos longamente perto da cruz de Jesus com Maria sua mãe, perto dela o discípulo que ele amava e olhemos o crucificado (cf. Jo 19,25) .

- “Assim como Moises levantou a serpente no deserto, do mesmo modo é preciso que o Filho do Homem seja levanto. Assim, todo aquele que nele acreditar, nele terá a vida eterna. Pois Deus amou de tal forma o mundo, que entregou o seu Filho Único, para que todo o que nele crê não morra, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,14-16).

“Agora o príncipe deste mundo vai ser expulso e quando eu for levantando da terra, atrairei todos a mim” (Jo 12,32).

Diante do amor pregado na cruz, deixemos-nos desarmar de todos nossas durezas e permaneçamos atraídos por ele.

- “Derramarei um espírito de graça e suplica sobre a casa de Davi e sobre os moradores de Jerusalém, e eles olharão para mim, para aquele que transpassaram.” (Zc 12,10; cf Jo 19,37).

Derramarei sobre vocês uma água pura e vocês ficarão purificados. Vou purificar vocês de todas as suas imundícies e de todos os seus ídolos. Darei para vocês um coração novo, e colocarei um espírito novo dentro de vocês. Tirarei de vocês o coração de pedra e lhes darei um coração de carne” ( Ez 36,25-26).

Olhemos para o transpassado e peçamos-lhe a graça de termos, também nós, o coração transpassado e que essa ferida não se feche (cf. At 2,37).

Orientação para este dia:

1º) Textos bíblicos:

Jo 3,14-16 ; Jo 12,23-32

Zc 12, 9-11; Ez 36, 25-28

Rm 8, 31-39 Mt 11, 25-30

2º) Do Irmão Carlos:

“Um soldado abriu seu lado com a lança e logo saiu sangue e água”.

“Como vós nos amais, o Coração de Jesus! Não vos foi suficiente carregar todos os homens, estes homens tão ingratos durante toda vossa vida, ainda quisestes ficar eternamente com este ferimento como sinal de vosso amor, como sinal de que vosso coração está sempre aberto a todos os viventes está sempre aberto e pronto para recebê-los, a perdoá-los, a amá-los... Por essa ferida aberta vós chamais sempre todos os homens á crerem em nosso amor, a terem confiança e aproximarem-se de vós, por mais miseráveis que sejam: todos, até mesmo os mais indignos, o vosso Coração está aberto. Vós amais a todos os viventes, vós aos chamais todos para vós, a todos ofereceis a solução até sua última hora, seus últimos minutos de vida... Eis o que nos dizeis, vós nos lançais o grito de apelo desde toda eternidade por essa boca aberta de vosso Coração, ó terno Jesus”.

“Eu vim trazer o fogo sobre a terra...”

Viestes trazer o amor sobre a terra; viestes colocar no meio de nós as chamas do vosso coração. Como sois bom! E nos dizeis nitidamente a vossa Vontade para nós; é para que por nossa vez, nós Vos amemos também; eis o que pedes, a única coisa que quereis de nós; não quereis mais nada de nossa parte: ‘O que desejo a não ser que vossos corações se acendam? – Como sois bom por terdes vindo trazer sobre a terra e de uma maneira visível, este fogo de amor!’ Como sois bom por não querer outra coisa de nós, apenas que vos amemos. E como sois bom por nos dizer isso.

Deus quer apenas uma coisa, que o amemos, que ardamos de amor por Ele. Amemos, amemos, que nossa única preocupação seja amar, contemplar o Bem-Amado, perguntar-lhe o que deseja de nós: pensar, dizer, fazer só o que Ele quer que pensemos, digamos, façamos... Tenhamos uma grande devoção a este Sagrado Coração de Jesus pelo qual Deus acendeu o fogo sobre a terra. Jesus-Caritas ‘Eu vim acender o fogo sobre a terra! que desejo a não ser que ele queime?” – O meu Deus, fazei queimar este fogo no meu coração e no coração de todos homens”... É a única coisa necessária: ‘Que desejo a não ser que ele queime?’

Carta a Marie de Bondy - 7 de Janeiro de 1902 – Beni-Abbés.

“Você me pediu uma descrição da capela...A capela dedicada ao Sagrado Coração de Jesus se chama ‘ capela da fraternidade do Sagrado Coração de Jesus’, e minha pequenina casa se chama ‘fraternidade do Sagrado Coração’... Quero acostumar a todos os habitantes cristãos, muçulmanos, judeus e idólatras, a me olharem como seu irmão – o irmão universal... e já começam a chamar a casa de ‘a fraternidade’ (la Khaoua, em árabe) e isso me agrada muito...

No alto desenhei o Sagrado Coração em pé, quase do tamanho natural: um Sagrado Coração penitente, estendendo seus braços para acolher, abraçar, chamar todos os homens e se dar a todos oferecendo seu coração. Esse quadro vai até o teto e ocupa toda a parede até o chão, e tem a mesma largura do altar; fui eu que desenhei e pintei o Sagrado Coração. Quando não tenho um quadro que me agrade eu faço um, contando com indulgência dos que o vêem”.

Nazaré 1898

“... e lhes entregou Jesus flagelado...” – Mc 15,15.

“Amemos a Deus pois ele nos amou primeiro. A paixão, o calvário, é uma suprema declaração de amor. Não foi para nos resgatar que sofrestes tanto, ó Jesus! O menor de vossos atos tem um preço infinito porque é o ato de um Deus e isso bastaria copiosamente para resgatar milhares de mundos, todos os mundos possíveis... Foi para nos santificar, para nos carregar, para nos atrair a vós, afim de vós amarmos livremente porque o amor é o meio mais poderoso que existe de atrair amor, e também é o meio mais poderoso de se fazer amar...e porque o ato de sofrer por quem amamos e o meio mais invencível de provar que amamos... e quanto maiores são os sofrimentos, mais a prova é convincente e o amor mais profundo.

Como é grande o Amor de Jesus por nós que o faz sofrer uma tal Paixão e uma tal morte! Será bastante forte para nós essa prova que Ele nos dá de seu amor? Será que amamos aquele que nos ama a este ponto? E que é aliás, infinitamente amável?

Amemos como Ele nos amou, da mesma maneira, imitando-o, isto é, sofrendo por declarar-lhe nosso amor como Ele sofreu para nos declarar o seu...”

3º) De Irmãzinha Madalena: Diante do Crucificado – Janeiro de 1947

“Aí não há mais objeção, só há o amor e nunca compreendi tanto o significado destes braços estendidos, bem abertos, totalmente entregues ao sofrimento e inteiramente dados ao amor, então só depois que compreendi isso foi que eu quis também abrir os braços ao sofrimento e ao amor – atitude interior da alma mas que me dá vontade de rezar com os braços abertos em cruz para pedir o sofrimento.

Sinto-me completamente transformada, Padre, como se uma grande torrente de amor tivesse atravessado todo meu ser, como se toda torrente de graças tivesse vivificado tudo. Eu sei muito bem que todas essas graças não são para mim, mas para todos os homens. Queria viver só para os outros, queria dar-lhes tudo”.

27 de Março de 1947

“Senti que algo se quebrava no meu ser, no meu coração principalmente, era tão doído ao ponto de quase morrer e senti que jamais ia sarar e que seria um sofrimento horrível de amor que ninguém poderia me consolar. Desde aí sinto-me tão mal e não e por minha causa, mas por causa de todos aqueles que sofrem, de todos que não são amados, dos que não amam, e como esse sofrimento é infinito, então não posso carregá-lo. Cada sofrimento que encontro penetra no meu coração já todo dilacerado”.

21 de Outubro de 1947

“Fui ferida no coração, queimada no coração – é uma ferida e é um fogo – Estou certa de que um dia Nosso Senhor me deu uma pequena faísca do amor do seu Coração e esta faísca acendeu a fogueira – desde então não agüento mais porque um coração humano não é feito para isso, não pode conter todo este amor”.

Betânia, 20 de Agosto de 1950

“O senhor Jesus teria feito uma escolha? Ao contrário, ele ofereceu aos pregos da cruz seus braços bem abertos justamente para que ninguém ficasse excluído do seu amor, fosse a pessoa mais miserável, mais egoísta, ou mais ingrata de todos os homens, os mais injustos dos patrões, o mais ‘snob’ dos freqüentadores dos salões. Foi por todos nós que o Senhor Jesus sofreu e morreu. Todos, sem exclusão, pelo nome do seu Amor, têm direito estrito ao amor fraterno de vocês, mesmo que não tenham direito ao seu tempo”.

NONO DIA

“Tenham em vocês os mesmos sentimentos que havia em Jesus Cristo” (Fl 2,5).

Salmo 22,23-30

Vou contar teu nome aos meus irmãos

vou louvar-te no meio da assembléia:

vocês que temem a Javé, louvem a Javé!

Glorifique-o, descendência toda de Jacó!

Tema-o, descendência toda de Israel!

Sim, porque ele não desprezou

não desdenhou a desgraça do pobre,

nem lhe ocultou a sua face:

quando gritou por socorro, ele o escutou.

De ti vem o meu louvor na grande assembléia

Cumprirei meus votos na presença dos que o temem.

Os pobres comerão e ficarão saciados,

Louvarão a Javé aqueles que o buscam;

Que o coração de vocês viva para sempre!

Todos os confins da terra se lembrarão

e voltarão para Javé.

Todas as famílias das nações

se prostrarão na presença dele,

Pois a realeza pertence a Javé,

é ele quem governa as nações.

Diante dele se prostrarão os poderosos da terra

diante dele se curvarão os que descem ao pó.

Javé me fará viver para ele,

minha descendência o servirá,

falará do Senhor para a geração futura

cantará a justiça dele ao povo que vai nascer:

tudo o que o Senhor realizou!

- O Filho glorificou o Pai levando a bom termo a obra que lhe foi confiada para realizar, ele roga ao Pai por aqueles que envia ao mundo para levar a palavra, afim de que todos sejam um:

“Como tu, Pai , estás em mim e eu em ti, e para que eles também estejam em nós afim de que o mundo acredite que tu me enviaste” (Jo 17, 21).

- “E eu tornei o teu nome conhecido para eles. E continuarei a torná-lo conhecido, para que o amor com que me amaste esteja neles, e eu mesmo esteja neles” (Jo 17, 26).

Só o Senhor é que pode modelar em nós um coração filial e fraterno, capaz de entender o mandamento novo: amai-vos uns aos outros; com amor com que vos amei, amai-vos uns outros” (Jo 13, 34; cf Jo 15,12).

Este amor de Nosso Senhor nunca se impõe. Desde pequenino Jesus nos deu a prova disso tornando-se nosso servidor, ele que é o Mestre Senhor. Ele nos mostra este caminho que é fonte de alegria: “Vocês foram chamados para serem livres... mas por amor disponham-se ao serviço uns dos outros” (Gl 5,13).

Já no fim deste retiro, diante da Eucaristia, sacramento de seu amor, deixamos o Espírito de Jesus rezar em nós:

“Pai, glorifica teu nome” (Jo 12,28).

Orientações para esse dia:

1º) Textos bíblicos:

Gl 5,13-26

Jo 17,1 - Jo 4, 7-21

Sl 22,23-30; Sl 117; Sl 133; Sl 134

2º) Do Irmão Carlos: Nazaré, 1897-1898

“A ressurreição da filha de Jairo” (Mc 5, 35 - 43).

“Sejamos muito delicados em nossa caridade; não nos limitemos aos serviços importantes, tenhamos uma delicadeza afetuosa que entra nos detalhes e com muito jeito sabe pacificar os corações: ‘Dêem para eles’ disse Jesus. Nós também. Prestemos atenção aos menores detalhes da vida dos que nos rodeiam, sobre a saúde, de consolo, de necessidades; consolemos, aliviemos, demonstrando-lhe atenção nas minúcias; tenhamos por aqueles que Deus põe ao nosso lado, essas atenções ternas, delicadas, pequenas, como teriam entre si os irmãos mais afetuosos e as mães mais amorosas por seus filhos, afim de consolar tanto quanto nos for possível, todas os que nos são próximos e sejamos para eles presença de consolação e um bálsamo, como foi sempre Nosso Senhor para todos que se aproximavam dele”.

“Toda nossa vida, por mais muda que ela seja, a vida de Nazaré, a vida do deserto, assim como também a vida pública, devem ser uma pregação do Evangelho pelo exemplo; toda nossa existência, todo nosso ser, devem gritar o Evangelho sobre os telhados; toda a nossa pessoa deve respirar Jesus, todos nossos atos, toda nossa vida devem gritar que pertencemos a Jesus, devem apresentar a imagem da vida evangélica; todo nosso ser deve ser uma pregação viva, um reflexo de Jesus, um perfume de Jesus, qualquer coisa grite Jesus, que faça ver Jesus, que brilhe como uma imagem de Jesus...”

“que todos sejam um, como tu Pai, estás em Mim e eu em Ti; para que eles sejam um em nós” (Jo 17,21)

“Sejamos muito unidos com todos os homens por um amor fraterno, pelo amor com que amamos neles os membros de Jesus, pelo amor com que amamos neles o corpo de Jesus, que sejamos um com eles, como o Pai e o Filho são um pelo seu mútuo amor...

Devemos amar todos os homens por causa de Deus, ao ponto de sermos um com eles, primeiro porque Deus nos ordena e nos dá o exemplo de um amor ardente por eles, por diversas e graves razões ainda provenientes do amor devido a Deus, mas principalmente, e esta última razão nos torna bem mais fácil e doce este amor apaixonado, este amor que vai até a unificação de todos os homens por causa de Deus, e principalmente porque todos os homens são, de algum modo, membros de Jesus, matéria próxima ou afastada de seu Corpo Místico, conseqüentemente, amando-os, tornando-nos um com eles, como que vivendo neles pelo nosso amor, assim amamos algo de Jesus, e nos tornamos um com uma parte de Jesus, vivemos pelo nosso amor, nos membros de Jesus, no corpo de Jesus, em Jesus”.

3º) De Irmãzinha Madalena: 9 de Novembro de 1947

“Sou muito pequena, muito pobre, muito medrosa, mas creio que Nosso Senhor me confia coisas grandes e por isso preciso ter audácia, muita audácia na vida do amor.

Ele me confia... aliás, preciso dizer, ele nos confia pois o senhor é o Padre. Já lhe disse muitas vezes, o Senhor representa a força, o senhor é a cabeça e eu sei claramente que o senhor é mais audacioso que eu...

Cada vez mais acredito que não somos feitas (as irmãzinhas) para nossa perfeição pessoal nem para fundarmos fraternidades lindas e bem organizadas. Nossa obrigação é muito mais a de desbravar e de semear... Garanto-lhe o mundo todo nos chama... a fé está acabando, a caridade se extingue porque não se encontra mais verdadeiros focos de amor fraterno... Estamos ‘cheias’ das grandes caridades sem compromisso, precisamos demais é de amizade, de ternura, e se não as encontramos na religião do Cristo, nos amigos íntimos do Cristo, vamos procurá-la em outros lugares...

É preciso abrir totalmente seu coração e sua alma e também suas portas. E quanto mais amarmos, mais será preciso escancará-las. É para isso que as irmãzinhas precisam ser formadas. Se elas se dão aos outros no amor do Cristo, elas não se fecharão nelas mesmas e não se voltarão para a fonte do mal que existe nelas, para seu egoísmo, seu amor próprio...

É preciso formá-las em profundidade e também não ter medo de lançá-las aos quatro cantos do mundo, não guardá-las para nós, pois o que é verdade para as almas é também para as fraternidades. É preciso que as fraternidades não busquem sua segurança, sua perfeição própria. O irmão Carlos, sozinho, não hesitava em preencher várias fraternidades com todo seu amor, sua irradiação (Beni-Abbés, Tamarrasset, Assekrem). Uma alma que irradia é capaz de acender uma fogueira...

Desculpe-me, não sou nada, mas Jesus me deu uma pequenina faísca do seu amor. É preciso não deixar mais as criaturas sofrerem à nossa volta e não ir a elas, com o pretexto de se preservar, como se um soldado querendo conservar sua farda impecável, tivesse que evitar de se sujar na lama das trincheiras e nas feridas das balas...

O Senhor me compreende? Explico-me mal, porém queria mostrar tudo o que tenho no fundo do coração há muito tempo e que ainda não consegui fazer entender... Há vinte anos isso era incompreensível... mas agora é o momento magnífico do dom de si aos outros...”

8 de Dezembro de 1962

“Queria que cada uma de vocês tivesse a paixão pela unidade, como um artista tem paixão pela beleza e um pensador pela verdade... Seria preciso que, assim como o músico sofre ouvindo uma quase imperceptível nota falsa ao ponto de sobressaltar, que vocês também ressentissem dolorosamente em vocês o menor golpe feito à unidade. Eu queria que cada palavra que fere um criatura lhes atinja profundamente no coração como se tivesse tocado em seu pai, sua mãe, seu irmão ou sua irmã...Se fosse percebido em vocês esse sofrimento diante de um golpe contra a unidade do amor, ninguém se permitiria mais proferir diante de vocês, palavras picantes ironias desdenhosas que são a trama das conversas mundanas e também, infelizmente, as dos cristãos... e até mesmo a de algumas irmãzinhas que ainda não compreenderam o que o Nosso Senhor espera de cada uma a esse respeito.

Esta é a nossa ‘obra’ por excelência, e pela qual irradiaremos o Amor do Cristo. Esta é a essência mesma do apostolado na Igreja...”

“no coração da vocação das Irmãzinhas de Jesus: a unidade no amor”

Que seu nome seja santificado!

Que venha a nós o seu Reino!

Que seja feita a sua vontade!

Que todo coração o ame e que todo espírito o louve!

Sobre a terra como céus!

A ele,

O louvor, a honra, a glória e a bênção

Com o Pai e o Espírito Santo,

Pelos séculos dos séculos, Amém

* * *

(De noite)

No final do dia e deste Retiro, lembramos-nos da mensagem do Anjo às mulheres que estavam perto do túmulo vazio:

“vão depressa contar aos discípulos que Ele ressuscitou dos mortos, e que vai à frente de vocês para a Galiléia lá vocês o verão” (Mt 28, 6).

E acreditemos firmemente na promessa de fé: “eis que estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo!” (Mt 28, 20).

Do Irmão Carlos:

“eis que estou com vocês até a consumação dos séculos...”

“São as últimas palavras do Evangelho de São Mateus, as últimas palavras que pronunciais nesta terra e já indo para o céu . O meu Deus, como são amáveis, como são devidamente amáveis, como são belas as palavras do vosso Coração...

Sempre conosco na Santa Eucaristia, sempre conosco pela vossa graça, sempre conosco pela vossa Ciência que nos vê sem cessar, sempre conosco pela vossa Providência que nos protege sem cessar, sempre conosco pelo vosso Amor, pelo vosso Coração que nos ama sem cessar... Oh! Sim, meu Deus, estais sempre conosco e de quantas maneiras e com quanto amor e com um tal Coração! Como somos deuses ‘Vos auten dii estis’, pois Deus está de tal maneira conosco, em nos, que por isso somos tão devidamente felizes! O meu Deus , que felicidade! Deus conosco, Deus em nós , Deus no qual nos movemos e somos, Deus que estás a dois metros de mim nesse tabernáculo, ó meu Deus, o que ainda nos falta? Como somos felizes! Emanuel – ‘Deus conosco’, eis por assim dizer a primeira palavra do Evangelho... e ‘estou com vocês até a consumação dos séculos, eis a última... Como somos felizes! Como sois bom!...”

11. O QUE LER

LAFON, Michel, 15 dias de oração com Charles de Foucauld. Ed. Paulinas, São Paulo.2005. “A base essencial de nossa meditação e de nossa prece encontra-se nos próprios textos de Charles de Foucauld, escolhidos dentre uma grande variedade de outros porque eles me parecem significativos e muito ligados ao Evangelho...

SILVA, Celso Pedro da e Bizon, J.(Orgs). Meios para uma espiritualidade presbiteral. Ed. Loyola, São Paulo, 2005. “ Este livro sobre a “Fratenidade Sacerdotal Jesus+Caritas” traz as grandes linhas da espiritualidade desse grupo. Possa ele suscitar a criação de novas fraternidades e assim ajudar os presbíteros no caminho da santificação e do compromisso com os mais humildes”.

Unitatis Redintegratio Decreto do Concílio Vaticano II sobre o Ecumenismo. Texto em linguagem popular e comentário com aplicação pastoral. Projeto Nacional de Evangelização, n. 19. Ed. Paulinas, São Paulo, 2005. Livro comemorativo aos 40 anos da promulgação do Decreto Unitatis Redintegratio. “É preciso continuar superando barreiras, eliminando preconceitos, buscando parcerias, fortalecendo a mútua colaboração onde for possível...”

BIZON, J e DRUBI, R. (Orgs) A Unidade na Diversidade. Coletânea de artigos em comemoração aos 40 anos do decreto Unitatis redintegratio sobre o ecumenismo. Ed. Loyola, São Paulo, 2004. “Este livro apresenta uma série de artigos... A leitura atenta mostrará o valor de cada tema. Servirá para o estudo feito em nossos cursos teológicos, em nossas escolas diocesanas, nas diversas comissões de ecumenismo – regionais e diocesanas”.

BIZON, J; DARIVA, N. e DRUBI, R. (Orgs). Diálogo Inter-religioso 40 anos da Declaração Nostra Aetate 1965-2005. Ed. Paulinas, São Paulo, 2005. “Deus é o Deus do amor, e não do ódio; o Deus da vida, e não da morte, o Deus da paz, e não da guerra”.